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Somos conservadores, mas plurais em relação ao diálogo, dizem organizadores do canal Tradutores de Direita

Equipe de tradutores descreve as propostas, os valores e a trajetória de uma das iniciativas mais prestigiadas nos meios liberais e conservadores

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Logotipo dos Tradutores de Direita. (Foto: Divulgação)

Desde que novas vozes passaram a ser ouvidas quando se trata de política no país, notou-se uma constante: uma nova bibliografia e uma nova gama de autores e conteúdos estrangeiros passaram a ser recomendadas e circular entre os brasileiros. Dispostos a ter um conhecimento mais amplo dessa nova realidade, os liberais e conservadores brasileiros, por vezes, em função das barreiras idiomáticas ou mesmo da falta de informação sobre os canais que deveriam acessar, permaneceriam órfãos de muitas preciosidades em matéria de áudio e vídeo, não fosse a iniciativa dos Tradutores de Direita.

Articulando um site e perfis movimentados nas principais mídias sociais, os organizadores do projeto se dispõem, regularmente, a traduzir vídeos de programas ou documentários estrangeiros, colocando-os à disposição do público nacional. A última grande realização da equipe, fundada por Israel Pestana, que trabalha como cuidador de idosos e tem planos para estudar Direito na Inglaterra, foi a tradução da entrevista completa de Carlos Lacerda ao programa do conservador americano William Buckley Jr. em 1967.

Em entrevista exclusiva a este Boletim, a equipe dos tradutores explica como surgiu a proposta do portal, quais os critérios que o norteiam e quais as metas estipuladas para o futuro próximo. Confira:

Boletim da Liberdade: Os Tradutores de Direita se notabilizam entre as páginas ligadas ao público liberal e conservador, com mais de 60 mil inscritos em seu canal no Youtube e mais de 140 mil seguidores em sua fanpage no Facebook. De quem foi a ideia de explorar esse caminho diferenciado e como vocês definiriam o processo de crescimento da projeção do trabalho de vocês até hoje?

Tradutores de Direita: Depois das manifestações de 2013, ficou patente que não havia direita organizada no país. As palavras de Olavo de Carvalho ecoavam em nossos ouvidos: “A esquerda é uma cabeça sem corpo, e a direita é um corpo sem cabeça”; reparando que muita gente nem sabia o que era “ser de direita”, procuramos um meio de informar as pessoas. Grande parte das informações que encontrávamos estava em inglês ou noutra língua, e daí, através da conversa de duas pessoas, num post de Facebook qualquer, surgiu a iniciativa de traduzir esses vídeos.

Uma das grandes realizações dos Tradutores de Direita, elogiada por figuras como Olavo de Carvalho: traduzir a entrevista de Carlos Lacerda ao Firing Line em 1967. Fonte: Youtube
Uma das grandes realizações dos Tradutores de Direita, elogiada por figuras como Olavo de Carvalho: traduzir a entrevista de Carlos Lacerda ao Firing Line em 1967. (Foto: Reprodução / YouTube)

Boletim da Liberdade: De que maneira os vídeos são obtidos, quais são as fontes que vocês têm o hábito de pesquisar e como o trabalho de tradução é operacionalizado? Quantas pessoas fazem parte do projeto? Ele tem algum fim lucrativo, se rentabiliza?

Tradutores de Direita: Os vídeos são obtidos de diversas maneiras, mas em boa parte são trocados entre os tradutores ou são sugeridos para nós por várias vias. No entanto, é necessária certa experiência para saber escolher quais vídeos têm valor para nossa situação. Não temos fontes específicas, senão o instinto conservador, que nos ajuda a saber tirar o joio do meio do trigo, e as vezes até mesmo o trigo do meio do joio. Podemos citar a PragerU como um de nossos colaboradores, e o caráter dinâmico e didático de seus vídeos nos atraiu logo de início.

As palavras de Olavo de Carvalho ecoavam em nossos ouvidos: “A esquerda é uma cabeça sem corpo, e a direita é um corpo sem cabeça”

Impossível definir quantas pessoas fazem parte do projeto. O processo tem várias etapas, mas ao final existe um núcleo de “tradutores experientes” que são essenciais para a manutenção da comunidade. Alguns desses “tradutores experientes” podem uma vez ou outra se ausentar para depois regressar, mas procuramos sempre manter um grupo forte com os membros que estão disponíveis.

Quanto a fins lucrativos, o objetivo é partilhar informação gratuitamente; mas, visto que temos uma visão grande para a comunidade, sentimos que existe a necessidade de oficializar os Tradutores de Direita para poder empreender novos projetos, que deverão precisar da colaboração financeira de voluntários para serem viabilizados. No devido momento, daremos a conhecer aos nossos aderentes quais são esses projetos, iniciando, provavelmente, por expor primeiramente quais as necessidades básicas da comunidade. Temos uma interessante visão a longo prazo.

Boletim da Liberdade: De que maneira os membros da equipe se definem ideologicamente? Como é selecionado o tipo de vídeo que a equipe considera adequado para a tradução? Existe alguma preferência, por exemplo, entre temas conservadores ou liberais?

Tradutores de Direita: Somos conservadores. Mas existem vários tipos de conservadorismo: o republicano, o monarquista, o mais liberal, o menos liberal, o religioso e o não religioso (e dentro do religioso existem várias visões, mas tentamos focar no que existe em comum entre eles, dentro da influência judaico-cristã), e por aí vai. Os tradutores têm suas próprias preferências, mas estas se tornam irrelevantes quando se olha a enormidade do projeto que está em causa. No entanto, basicamente defendemos os princípios do conservadorismo clássico, e somos contra totalitarismos de qualquer espécie (mesmo que estes se assumam como conservadores) e defendemos uma liberdade responsabilizada entre indivíduos, dentro da democracia, pois, se na liberdade não existe responsabilidade, isso desembocará em libertinagem, e a democracia se mostrou a mais civilizada das correntes de poder que a história já produziu. Não é perfeita e nem é simples, mas é a melhor entre as piores, como dizia Churchill.

Defendemos os princípios do conservadorismo clássico, e somos contra totalitarismos de qualquer espécie

O grupo de “tradutores experientes” procura sempre estar antenado em diversos assuntos e todos são, às suas maneiras, estudiosos das questões políticas, filosóficas e econômicas. As opiniões são congruentes, apesar da individualidade. A experiência nos ajudou a moldar um padrão. Começou-se a chegar num consenso mais definido com o tempo, pois muitos dos nossos tradutores já se foram conhecendo bem. As regras de seleção praticamente não precisam ser discutidas, por incrível que pareça.

O conservadorismo clássico tem elementos que seriam familiares para muitos liberais, como a defesa de um Estado pequeno. No entanto, na sociedade não existe responsabilidade sem princípios e nem princípios sem tradição, e por isso publicamos material liberal, desde que se enquadre também nos valores conservadores. Respondendo com mais clareza, somos conservadores, porém, não rejeitamos ideias liberais ou mesmo libertárias, se transmitem princípios em que acreditamos. Em relação ao diálogo, somos plurais. Não se deve jogar pedras nos outros se existem pontos de interesse mútuo que podem ser discutidos e negociados.

Os Tradutores de Direita selecionam vídeos de grandes ícones conservadores americanos, como Bill Whittle. Fonte: Youtube
Os Tradutores de Direita selecionam vídeos de grandes ícones conservadores americanos, como Bill Whittle. (Foto: Reprodução / Youtube)

Boletim da Liberdade: Como vocês enxergam a recepção do movimento liberal ou conservador em geral ao trabalho de vocês, sobretudo do ponto de vista dos grandes formadores de opinião ou das instituições organizadas? Existe algo que esses segmentos, e também o público em geral, poderiam fazer para colaborar com o trabalho de vocês?

Tradutores de Direita: Se temos um determinado tipo de público e nossas ideias são transmitidas de forma consistente, acabamos, uma vez ou outra, chamando a atenção de grandes formadores de opinião ou de representantes das instituições organizadas; mas para chegar a esse processo temos que primeiramente ir sondando a receptividade de usuários normais, que são essenciais para nosso crescimento. O que dá certo ou errado, somente se descobre por um processo de tentativa e erro quando se é pioneiro em algum tipo de trabalho (como somos no nosso). Com o tempo, à medida que o trabalho se vai aperfeiçoando e vai atingindo um público cada vez maior, a receptividade aumenta.

Sabíamos que existia um “mercado” aqui que não estava sendo explorado, de pessoas que queriam saber mais sobre estes temas ou que se interessam pela informação que estamos passando; mas tínhamos paixão pelo que fazíamos, e nisto, o interesse em transmitir a índole de nossas ideias de forma clara nos ajudou a cativar o tipo de público a que fazes referência. É o tipo de público para quem nossa mensagem se destina. Ainda não vimos ninguém do partido comunista elogiar nosso trabalho (como se não soubéssemos o porquê), pois atraímos gente de dentro de nosso espectro político.

Quando recebemos algum tipo de estímulo de alguém de renome dentro do nosso mundinho, nos sentimos como um moleque que fez sua geringonça dar certo. É um incentivo para nós. E temos recebido reconhecimento de pessoas ou instituições como: o Alexandre Borges, Felipe Moura Brasil, Mídia sem Máscara, Rodrigo Constantino, Heitor de Paola, Radio Vox, blog Ceticismo Político, Nordeste livre, a própria ILISP e às vezes o MBL. O Olavo de Carvalho recentemente teceu um elogio ao nosso trabalho de tradução da entrevista de Carlos Lacerda, e outros grandes nomes também o fizeram. E quando se começa a penetrar nesse patamar, sabemos que estamos fazendo algo certo. Mas sabemos também que, de certa forma, precisamos manter nosso nível de qualidade para não corrermos o risco de nos tornar obsoletos.

Quando recebemos algum tipo de estímulo de alguém de renome dentro do nosso mundinho, nos sentimos como um moleque que fez sua geringonça dar certo. É um incentivo para nós.

Sobre a maneiras de colaborar com nosso trabalho, não podemos dar uma resposta simples a isso, visto que cada um desses elementos (formadores de opinião ou instituições) não são por si iguais naquilo que apresentam. É uma questão de conversação. Por isso dizemos com clareza: estamos abertos ao diálogo com todos. Quanto aos usuários normais do canal, são os compartilhamentos, divulgação, comentários, dicas, sugestões, incentivos e elogios que ajudam a mover nossa comunidade. Isso pode ser observado pelo engajamento na página, que é o que mais nos alimenta em termos de colaboração. Procuramos sempre responder ao nosso inbox, e é de lá que têm surgido as maiores surpresas.

Boletim da Liberdade: Por fim, agradecendo a disponibilidade de vocês, perguntamos que projetos o Tradutores de Direita está planejando para os próximos meses.

Tradutores de Direita: Já demos a ideia de que queremos oficializar o “brand” Tradutores de Direita, e melhorar a qualidade do nosso trabalho, visando também a abrir mais o leque de serviços que disponibilizamos, sempre atentos ao feedback de dicas que vai aparecendo. Mas em breve daremos mais notícias sobre isso, pois somente podemos fazer as coisas à medida que se vão viabilizando alternativas concretas, e sem elas tudo se resume a bolhas de sabão.

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