O Ministério da Educação liberou na última terça-feira (11) um relatório com exemplos de redações que foram qualificadas com nota máxima no primeiro Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) de 2016. Ao todo, 77 inscritos teriam atingido a nota mil. Mas, ao se deparar os 13 textos publicados pelo G1, o Boletim da Liberdade observou que a maior parte deles têm em comum uma conclusão que pede “mais estado” como solução para os temas propostos.
No primeiro exame do ENEM aplicado em 2016, foi pedida uma redação com o tema “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”. No exame, os estudantes precisavam apresentar uma proposta de intervenção que respeitasse os direitos humanos, selecionando “argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista”.
Questão de Polícia
A estudante L.C.F., de 20 anos, propôs em sua redação que caberia “ao Governo Federal construir delegacias especializadas em crime de ódio contra a religião, […] além de aumentar a pena para quem o praticar”. Solução similar à da jovem V.S.M., de 26 anos, que para falar sobre intolerância religiosa utilizou como título de sua redação “A locomotiva de Marx”.
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“Cabe ao estado, como gestor dos interesses coletivos, a implementação de delegacias especializadas de combate ao sentimento desrespeitoso”, opinou ela, indo além da questão do ódio. O jovem V.O.L., da Baixada Fluminense, pediu que o Ministério Público entrasse com “ações judiciais pertinentes”. Com 17 anos, o estudante T.F.L.O. sugeriu em seu texto a criação uma ouvidoria anônima da Polícia Civil.
Soluções Ministeriais
V.S.M. observou em sua redação que “cabe ao governo, na figura do Ministério da Educação, a implementação na grade curricular a (sic) disciplina de teorias religiosas”, o que mitigaria, segundo ela, a “historiografia, mitos e concepções deturpadas de religiões contrárias ao catolicismo”.
A jovem T.F.L.O. propôs, por sua vez, uma parceria interministerial que integraria o “Ministério da Cultura e a Secretaria dos Direitos Humanos” para “realizar campanhas combativas permanentes”. Ao Poder Legislativo, ela sugeriu ainda o desenvolvimento “o ‘Estatuto da Tolerância Religiosa’ para estabelecer melhor os direitos e deveres” dos cidadãos.
Com 19 anos, a jovem S.M.R. também não economiza em soluções que envolvam ministérios. Para ela, o problema começaria a ser resolvido se “o Ministério da Cultura, em parceria com grandes canais de comunicação de concessão estatal, desenvolvesse campanhas publicitárias que estimulem o respeito às diferentes vertentes religiosas”.
O Estado na Educação
O jovem H.S.S.N. não titubeou ao citar Paulo Freire para falar de intolerância religiosa, argumentando que seria preciso buscar “uma cultura de paz”. No texto, ele propôs uma parceria do Ministério da Educação com o Ministério da Justiça para “implementar aos livros didáticos de História um plano de aula que relacione aculturação dos índios com a intolerância religiosa contemporânea”. Essa iniciativa teria por objetivo despertar o “senso crítico” nos estudantes. Ainda como solução ao problema, H.S.S.N. pediu palestras de defensores públicos.
T.F.L.O. pontuou que “o MEC deve criar um projeto de conscientização para ser desenvolvido nas escolas, a qual (sic) promova passeios turísticos aos templos de várias religiões”. S.M.R., por sua parte, sugeriu que o Ministério da Educação estabeleça “aulas de sociologia, dentre outras, que permitam a apresentação de diferentes religiões”.
Individualismo
Da Baixada Fluminense, o jovem V.O.L., com 26 anos, citou em sua redação o socíologo Zygmunt Baumann para fazer uma crítica ao individualismo. “Esse problema assume contornos específicos no Brasil, onde […] há quem exija do outro a mesma postura religiosa e seja intolerante àqueles que dela divergem”.
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O estudante não explicou, porém, quem seriam os individualistas contrários as liberdades individuais alheias. Como soluções para combater a intolerância religiosa, V.O.L. sugeriu, claro, a desconstrução do que chama de individualismo (“o principal problema da pós-modernidade”).
Soluções liberais?
Segundo um especialista ouvido pelo Boletim da Liberdade, soluções oriundas do governo têm como vantagem serem mais facilmente compreendidas por um estudante do ensino médio, sem que haja uma preocupação com o custeio delas.
“Dentre as soluções diferenciadas que poderiam ser apontadas pelos alunos, poderiam estar a criação de um centro de estudos privado que desenvolvesse pesquisas e prêmios em favor da tolerância, ou a redução de impostos para organizações que desenvolvessem políticas internas de tolerância”, exemplificou. “O ENEM poderia estabelecer regras pedindo soluções privadas para os problemas propostos pelas redações, de modo a estimular um pensamento menos estatizante nas escolas”.