Reportagem do BuzzFeed publicada na tarde desta terça-feira (23) revelou que a Procuradoria Geral da República captou uma ligação telefônica entre Andreia Neves e o jornalista Reinaldo Azevedo. No telefonema, Azevedo tece críticas à revista Veja, cujo portal hospeda seu tradicional blog de política, um dos mais lidos do Brasil. Com a divulgação, Azevedo decidiu pedir demissão da revista.
Andrea é irmã de Aécio Neves, senador e presidente licenciado do PSDB, e foi presa após o mais recente desdobramento da Operação Lava Jato. Ela e o irmão vinham sendo monitorados pela Polícia Federal após delação premiada de Joesley Batista, sócio da JBS.
Na gravação divulgada, Reinaldo e Andrea criticam uma reportagem da revista Veja que noticiava uma suposta propina ao senador. “É nojento, é nojento”, avalia Azevedo.
Resposta
Como reação, Azevedo publicou em seu blog aquilo que chamou de seu “último post” no portal Veja.com. Ele explicou que Andrea e Aécio são algumas de suas várias fontes no meio político. E admitiu a veracidade da ligação telefônica divulgada e as críticas que teceu a uma reportagem da revista.
O jornalista contou ainda que, após a divulgação, pediu rompimento de seu contrato e a direção concordou. Disse que seu blog completaria em junho 12 anos, que o saldo final é bastante positivo e criticou o fato de a Procuradoria Geral da República tornar pública uma ligação telefônica privada entre um jornalista e sua fonte. “Em qualquer democracia do mundo, a divulgação da conversa de um jornalista com sua fonte seria considerada um escândalo”, argumentou.
Segundo ele, Rodrigo Janot, procurador geral da república, pode estar cogitando concorrer a um cargo eletivo. Mas Reinaldo deu a entender que a saída da Veja não marca necessariamente o fim de seu blog: ele deixou aberta a possibilidade de hospedar o blog em outro veículo ou de maneira independente.
Confira, abaixo, a íntegra da nota de Reinaldo:
“Comecemos pelas consequências.
Pedi demissão da VEJA. Na verdade, temos um contrato, que está sendo rompido a meu pedido. E a direção da revista concordou.
1: não sou investigado;
2: a transcrição da conversa privada, entre jornalista e sua fonte, não guarda relação com o objeto da investigação;
3: tornar público esse tipo de conversa é só uma maneira de intimidar jornalistas;
4: como Andrea e Aécio são minhas fontes, achei, num primeiro momento, que pudessem fazer isso; depois, pensei que seria de tal sorte absurdo que não aconteceria;
5: mas me ocorreu em seguida: “se estimulam que se grave ilegalmente o presidente, por que não fariam isso com um jornalista que é crítico ao trabalho da patota?;
6: em qualquer democracia do mundo, a divulgação da conversa de um jornalista com sua fonte seria considerada um escândalo. Por aqui, não;
7: tratem, senhores jornalistas, de só falar bem da Lava Jato, de incensar seus comandantes;
8: Andrea estava grampeada, eu não. A divulgação dessa conversa me tem como foco, não a ela;
9: Bem, o blog está fora da VEJA. Se conseguir hospedá-lo em algum outro lugar, vocês ficarão sabendo;
10: O que se tem aí caracteriza um estado policial. Uma garantia constitucional de um indivíduo está sendo agredida por algo que nada tem a ver com a investigação;
11: e também há uma agressão a uma das garantias que tem a profissão. A menos que um crime esteja sendo cometido, o sigilo da conversa de um jornalista com sua fonte é um dos pilares do jornalismo.”