Um grupo de intelectuais históricos do PSDB formado pelos economistas Gustavo Franco, Edmar Bacha, Elena Landau e Luiz Roberto Cunha publicou na última quarta-feira (2) um ultimato à direção do partido pedindo atitudes concretas na convenção nacional que deve ocorrer ainda esse mês.
Admitindo que já chegaram a cogitar a possibilidade de se desligarem do partido devido à atual crise interna, os quatro preferiram – antes disso – fazerem um “apelo” para que a legenda renove sua direção, entregue os ministério que têm e seja refundada “programaticamente e eticamente”.
No texto, eles citam que o partido deixou um legado positivo ao país ao combinar “justiça social” com a “ideia de uma economia de mercado governada pela livre iniciativa, a estabilidade da moeda, a responsabilidade fiscal e a integração do Brasil ao mundo desenvolvido”.
Por isso, eles argumentam, a agremiação seria uma das principais esperanças para as eleições de 2018, que hoje correria o risco de ser vencida por um “radical populista, de esquerda ou direita” – numa provável referência à Luis Inácio Lula da Silva e à Jair Bolsonaro, ambos muito bem posicionados nas pesquisas eleitorais.
Confira, abaixo, a íntegra da manifestação:
Rio de Janeiro, 27 de julho de 2017
Senador Tasso Jereissati Diretório Nacional do PSDB Brasília, DF
Caro Senador,
Depois de longas conversas, entre desligarmo-nos do PSDB e escrever-lhe esta carta, decidimo-nos por este último curso de ação, autorizando-o desde já a compartilhar seu conteúdo com quem julgar de direito. A opção de nos desligar do PSDB pareceu-nos no momento precipitada tendo em vista sua sábia decisão de marcar uma convenção do partido para o próximo mês de agosto.
Continuamos a acreditar nos ideais que levaram à fundação do PSDB, que eram os de dissociar-se, em nome da ética, do PMDB controlado por Orestes Quercia; e construir um partido socialdemocrata comprometido com a justiça social, a ideia de uma economia de mercado governada pela livre iniciativa, a estabilidade da moeda, a responsabilidade fiscal e a integração do Brasil ao mundo desenvolvido. O PSDB estabeleceu sua identidade a partir dessas pautas econômicas nas quais os signatários empenharam seu trabalho e suas energias e com as quais o governo de Fernando Henrique Cardoso deixou inestimável contribuição para a prosperidade do país.
Não vemos no horizonte político brasileiro outro partido com igual força para se contrapor ao enorme risco que, mantido o atual governo, o país enfrentará nas eleições presidenciais de 2018.
Trata-se da possibilidade da eleição de um radical populista, de esquerda ou de direita, que arruinaria com as perspectivas econômicas e talvez mesmo com a democracia no país.
Infelizmente, incapaz até agora de se dissociar de um governo manchado pela corrupção institucionalizada que herdou do PT, o PSDB tem optado por deixar vazio o centro político ético de que o país tanto precisa. Como afiliados com alguma responsabilidade pelas opções técnicas do partido, esperamos com esta carta poder influir para mudar essa orientação.
Fica nosso apelo para que, na convenção de agosto, sob sua liderança o PSDB – reafirmando seu apoio à equipe econômica e mantendo-se à frente das reformas no Legislativo — decida (i) renovar sua direção, (ii) entregar os ministérios que têm no governo, e (iii) refundar-se programática e eticamente.
O Brasil precisa ter de volta o PSDB de André Franco Montoro, José Richa e Mario Covas — conduzindo as reformas necessárias para o Brasil enfrentar os desafios do século XXI. Confiamos em você para liderar esse movimento.
Cordialmente,
Edmar Bacha, Elena Landau, Gustavo Franco e Luiz Roberto Cunha