O fotógrafo e empresário João de Orleans e Bragança, bisneto da Princesa Isabel e trineto de D. Pedro II, o último imperador do Brasil, deixou claro em entrevista ao jornal Gazeta do Povo na última terça-feira (8) seu posicionamento reformista em caso de restauração monárquica no país.
Ele, que tem 63 anos e é conhecido pela simpatia e pelo bom relacionamento com diferentes figuras nacionais que frequentam à Feira Literária de Paraty, no Rio de Janeiro, afirmou que “a família real não tem o direito de dizer quem seria o rei”.
“A família não tem esse poder nem esse direito de indicar. O rei seria escolhido pela população através de seus representantes legais no Congresso. Não existe obrigatoriedade de ser um Orleans e Bragança”, opinou.
Oficialmente, os herdeiros “formais” do trono brasileiro estão no ramo de Vassouras, cuja “Casa Imperial” – organização que protege a linhagem oficial ao trono de jure – é liderada por Luís de Orleans e Bragança, 79, e frequentemente representada por Bertrand de Orleans e Bragança, 76, devido à debilitada saúde de Luís. João de Orleans e Bragança, também conhecido como Dom Joãozinho, não estaria entre os herdeiros formais do trono, sobretudo levando-se em consideração à polêmica renúncia dinástica ocorrida em 1908 por seu antepassado, Gastão de Orleans e Bragança.
Críticas à Luís e Bertrand, os herdeiros presuntivos
João considera que Luís e Bertrand, os dois primeiros herdeiros numa sucessão formal de D. Pedro II, estão “fora de qualquer postura aceita para uma família real”. “Um problema que existe é que dois membros do ramo de Vassouras são ligados a uma instituição de direita”, comentou, em provável referência ao ao movimento Tradição, Família e Propriedade (TFP), grupo fundado pelo tradicionalista católico Plínio Corrêa de Oliveira.
“Eu sou suprapartidário. Já me pediram para eu me candidatar para cargos, o governador Brizola me convidou para entrar para o governo, trinta anos atrás. Mas eu sempre digo: eu faço política, mas não posso entrar em política partidária. É a premissa básica das famílias reais. Nos eventos políticos e culturais que faço na minha casa, recebo de frei Betto a Fernando Henrique Cardoso”, declarou.
Igreja Católica
Os herdeiros presuntivos ao trono do ramo de Vassouras frequentemente manifestam o interesse em, em caso de restauração, resgatar a Constituição de 1824. Uma das características marcantes daquela carta constitucional era a ligação do Estado com a Igreja Católica. Dom Joãozinho, porém, diz que isso não faz nenhum sentido. “A ligação entre Estado e religião é medieval”, disse ele. E citou um episódio onde Dom Pedro II, em visita particular ao Reino Unido, teria afirmado grande admiração pelo judaísmo e pelo islamismo devido aos “grandes valores morais e éticos” ali pregados.
Críticas
O Círculo Monárquico de São Luiz, no Maranhão, presidido pelo empresário José Lorêdo Filho, criticou as declarações de Dom Joãozinho. “Este senhor continua a destilar o seu veneno contra a Casa Imperial do Brasil – e, pois, contra todos os monarquistas e patriotas”, diz o comunicado intitulado “Um candidato a usurpador”. Os integrantes do Círculo afirmam que “a sucessão do não perpassa pelas deliberações do parlamento, exceto, nos termos da Constituição imperial de 1824”, que prevê que sejam priorizados os descendentes legítimos de D. Pedro I.
“O que esse ‘Dom Joãozinho’ – que, além de adotar postura insolente em relação ao primo, legítimo herdeiro do Trono, pensa em tudo contrário à índole do povo brasileiro – quer é continuar o seu papel ridículo de contestador, ora sutil, ora mais afoito, como nessa entrevista, das ações beneméritas da Casa Imperial do Brasil, da qual ele é inimigo de bastidores, pois lhe faltam a honradez e a galhardia dos príncipes Dom Luiz e Dom Bertrand”, conclui a carta.