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De partida para o NOVO, Gustavo Franco escreveu carta à orgão do PSDB: leia

Ex-presidente do Banco Central afirmou estar se despedindo "sem queixas", mas fala em "imperativo ético" e "dever com o que é certo", destacando também que o NOVO de hoje lembra o PSDB de 1989

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Gustavo Franco (Foto: Divulgação / Rio Bravoo 

O economista Gustavo Franco, que era um dos principais intelectuais do PSDB, redigiu um e-mail destinado à cúpula do Instituto Teotônio Vilela explicando sua desfiliação. Agora, como noticiado pelo Boletim, o ex-presidente do Banco Central e um dos principais formuladores do Plano Real passará a integrar os quadros do Partido Novo.

Na nova legenda, oficializada em 2015, Franco assumirá a Fundação NOVO com o desafio de pensar políticas públicas, capacitar os filiados e auxiliar na criação do plano de governo ao candidato à presidência no próximo ano – cujo nome mais provável é o engenheiro João Amoêdo.

No texto, enviado nesta quarta-feira (27), Franco manifesta orgulho por toda sua história na legenda e diz não ter ambição de exercer qualquer cargo político. Ele relembra a criação do plano Real, mas lamenta que incomodava a hesitação da legenda em abraçar novidades, defender algumas bandeiras e, sobretudo, se encolher diante de erros de seus líderes. Para ele, os liberais na legenda sempre foram minoria.

Por fim, Franco também compara o NOVO ao PSDB de 1989, ano que se filiou, dizendo ter “muita estrada a percorrer”. E diz que, no NOVO, será dirigente – destacando que nesse partido dirigentes não se confundem com candidatos. Leia a seguir a carta na íntegra:

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Aos colegas do Conselho do ITV,

Amanhã pela manhã, ressalvados os vazamentos, se tornarão públicas duas decisões que já venho amadurecendo faz tempo: a de deixar o PSDB e a de filiar-me ao NOVO.

A primeira, devo confessar a vocês muito especialmente, está praticamente tomada desde 18.06 quando o Paulo Faveret comunicou a este grupo a sua desfiliação. Os motivos eram sólidos e apenas ficaram mais concretos no período que se seguiu.

Deixar o PSDB é uma decisão que, no meu caso, interrompe um vínculo de 28 anos (filiei-me em agosto de 1989), talvez por isso tenha sido contaminado pela hesitação, condição já crônica entre nós, infelizmente.

Deixar o PSDB, contudo, de modo algum significa abdicar da paixão que me trouxe ao partido em 1989 – a prosperidade do país a partir de um “choque de capitalismo” – e menos ainda a de afastar-me do legado do Plano Real, este extraordinário empreendimento de que resultou a reconstrução da moeda nacional e em devolver ao país o futuro que havia perdido. Na verdade, o Real trouxe consigo uma agenda que vou carregar comigo para onde for, pelo resto dos tempos.

Não posso deixar o PSDB sem compartilhar com os colegas o orgulho e a satisfação de ter participado de tudo o que participei como filiado e como servidor em cargo público em governos tucanos. Fizemos História e construímos patrimônios de valor inestimável para o país, e mudar de partido não altera nada disso.

Mas o país é muito dinâmico, o partido, como cada um de nós individualmente, precisa se renovar. São os desafios do país, dos filhos que crescem, netos que aparecem, da tecnologia que muda o modo de se acordar de manhã.

Quando o PSDB se constituiu, o Muro ainda existia em Berlim e as ideias pró-mercado não tinham outra alternativa razoável no sistema partidário que pudesse acomodá-las. Mas, dentro do PSDB, ficavam submetidas a toda sorte de disfarces e condicionantes, embora mais retóricos do que práticos. Com o tempo, foi ficando cada vez mais despropositado reafirmar tantas ressalvas às “leis do mercado”, quando esta disciplina se mostrava francamente em falta no Brasil e seu fortalecimento e desenvolvimento vinha sido o centro conceitual da maior parte das reformas importantes que o partido apoiou e realizou, aí incluído o Plano Real.

As hesitações em abraçar a novidade sempre foram incômodas. A diversidade de visões sobre a economia sempre existiu dentro do PSDB, mas com os ditos “liberais” em franca minoria.

Entretanto, em tempo recentes, os horizontes se ampliaram extraordinariamente para novas ideias pró-mercado. É tolo buscar enquadrá-las em velhos esquemas. É um mundo novo e nesse cenário, elas já podem caminhar com suas próprias pernas com o apoio de uma variedade de organizações, partidárias ou não, desafiando antigas clivagens políticas. Como o PSDB não as assumiu por inteiro, mesmo depois de todos esses anos, é natural que essas bandeiras e seus formuladores migrem para outras agremiações.

O PSBD não é hostil a essas ideias, bem ao contrário a julgar por este grupo. Mas a organização é reticente, às vezes omissa, por isso mesmo hesita demasiadamente diante de conceitos considerados “disruptivos”, e já por tempo demais.

São muitos os grupos, movimentos, coletivos, ONGs e partidos hoje empenhados no aprofundamento das teses e princípios reformistas trazidos pelo Plano Real. Todos os ventos sopram nessa direção e a cada dia mais depois do colapso do capitalismo de quadrilhas introduzido pelo PT.

E o nosso partido, como organização, ou através de alguns de seus quadros, hesita diante dessas bandeiras ou mesmo as renega e, sobretudo e mais grave, se encolhe diante de “erros” de seus líderes.

O NOVO é um projeto muito recente, ainda jovem e com muita estrada a percorrer, mas possui alguma coisa muito parecida com o PSDB de 1989, uma ideia ainda para ser desenvolvida, sem passado apenas futuro.

Os colegas sabem que não tenho ambição nem interesse em concorrer a cargo público, e a oportunidade se apresentou em diversas vezes no passado, e novamente agora, sempre pelo PSDB. Mas este nunca foi meu interesse nem vocação. Meu campo de atuação é o das ideias e é por aí se explica a minha filiação ao NOVO como dirigente: no NOVO, dirigentes não se confundem com candidatos.

Despeço-me, portanto, sem queixas, esperando manter os vínculos e o cuidado com o patrimônio comum, apenas olhando para o futuro diante do qual todos somos responsáveis. Seja qual for o partido, nosso dever é com o que certo, para começar. Sem o imperativo ético não dá para sair de casa pela manhã, quanto mais promover o crescimento e as reformas econômicas.

Espero que ainda possamos caminhar juntos no bom caminho no futuro.

Saudações tucanas, ainda mais uma derradeira vez

GF

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