O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSC/SP), filho do também deputado e pré-candidato à presidência Jair Bolsonaro (Sem Partido), publicou um comentário em seu perfil no Twitter na última terça-feira (14) que repercutiu entre os liberais. Na rede social, o parlamentar atribuiu a seguinte frase ao pai: “O Brasil não pode continuar enviando navios de minério de ferro para o exterior e receber de volta uma canoa com meia dúzia de laptops”.
O jornalista Leandro Narloch, conhecido por ser autor da série de livros Guia Politicamente Incorreto, foi um dos primeiros que rebateram a afirmação. Também no Twitter, ele disse: “Pelo amor de Deus, que tolice. Pra que serviu a pós em Escola Austríaca?”, em referência ao fato de Eduardo ter cursado a pós-graduação do Instituto Mises Brasil. E recebeu uma resposta irônica, seguida de um comentário hostil: “Desculpa. Temos que zerar investimento em ciência, tecnologia, inovação, acordos de intercâmbio na área educacional. […] Enquanto o bumbum guloso de vocês não fechar, não dá pra conversar”.
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O PSL/Livres aproveitou a discussão econômica como tema para um post em sua página no Facebook. “Essa frase ressoa uma antiga crença infelizmente ainda muito difundida no Brasil de que a origem de nossa pobreza consistiria do fato de que nós exportamos matéria-prima (as commodities) e não produtos industrializados, que teriam ‘maior valor agregado'”, diagnostica o partido, em artigo não assinado, comparando ainda a declaração atribuída à Jair Bolsonaro ao discurso de Lula. Em seguida, o partido cita exemplos de países que são exportadores de commodities e possuem uma renda per capita maior. E sentencia: “Não há problema algum em exportar matéria prima”.
Evocando o economista David Ricardo, o argumento central do PSL/Livres é de que os países devem se concentrar em suas vantagens comparativas. “Você não precisa ser bom em tudo para enriquecer, basta focar em algo que você saiba fazer melhor em comparação aos outros. Assim, é possível aumentar sua produtividade e se tornar atrativo no comércio internacional”, diz o texto, complementando que “não existem setores necessariamente superiores a outros”. “O melhor setor para investir suas energias é aquele onde você é capaz de ter maior vantagem comparativa”, conclui.
Ex-presidente do Instituto Liberal e atualmente secretário geral do PEN, partido que se organiza para tornar-se “Patriota” e abrigar Jair Bolsonaro na corrida eleitoral de 2018, o advogado Bernardo Santoro considerou em seu perfil no Facebook que há “má vontade de certo setor do movimento liberal brasileiro com o Bolsonaro” e que isso o deixa “perplexo”.
Para Santoro, “não é focando em produção de commodities que o Brasil gerará aumento de produtividade, e sim com esse investimento na qualificação dos nossos fatores de produção”. E complementa: “Isso não significa que o Jair [Bolsonaro] quer impedir a venda de commodities ou que o Brasil deixará de fazer isso no curto e médio prazo, ele apenas afirmou que isso não é o que vai gerar real crescimento econômico no longo prazo”. O advogado afirmou ainda que o ponto de vista de Jair Bolsonaro em nada vai contra a doutrina liberal clássica.
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A opinião de Santoro não é, porém, compartilhada pelo cientista político Fabio Ostermann, presidente do PSL/Livres do Rio Grande do Sul e ex-vice-presidente do Instituto Liberal. Ainda no Twitter, ele escreveu nesta quarta-feira (15) para Eduardo Bolsonaro que ele e sua equipe precisavam tomar uma decisão: “se querem enganar (alguns) liberais tem que parar com essas bravatas e de ficar raivosos quando são corrigidos”. No Facebook, Ostermann também destacou a reação de Eduardo Bolsonaro à pergunta de Leandro Narloch, resposta que considerou “infantil”, e comentou a respeito do assunto:
“O problema na frase do Jair (replicada pelo Eduardo) consiste no fato de que a juízos equivocados como este (de que é um problema o fato de o Brasil não produzir laptops) geralmente se seguem medidas intervencionistas e dirigistas. Exportar commodities não é um problema. As decisões de indivíduos e empresas sobre o que produzir e comerciar são baseadas na sua liberdade e nas suas vantagens comparativas na produção de determinado bem ou serviço”.
E conclui: “Problema é quando o governo resolve querer definir o que devemos ou não produzir e exportar, escolhendo campeões nacionais e repassando para toda a população os custos de políticas industriais notoriamente fracassadas.”