O manifesto “Gente em primeiro Lugar: O Brasil que queremos”, divulgado pelo PSDB no início da semana, aumentou ainda mais a crise na legenda. No texto, o partido pede um “estado musculoso” e, embora reconheça o mérito do livre mercado, louva o governo como “indutor do desenvolvimento” e é vago sobre quais estatais deveriam ser privatizadas no Brasil.
A economista Elena Landau, conhecida por liderar o processo de privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso, foi uma das primeiras a se manifestar. Em entrevista ao portal Estadão, Landau disse que o texto é “cheio de platitudes” e representa um “discurso velho” e que os economistas históricos do partido sequer foram ouvidos. Em seguida, após 25 anos filiada, anunciou ao jornal O Globo que estaria deixando o partido.
Quem também comentou negativamente sobre o documento publicado pelo Instituto Teotônio Vilella (subordinado ao PSDB) foi o prefeito de São Paulo, João Doria. Ele afirmou que a expressão “choque de capitalismo”, reciclada pelo PSDB para o documento, não traz uma mensagem clara. “Avisa lá no Instituto Teotônio Vilela para falar a linguagem do povo. O povo quer emprego e oportunidade”, comentou para o jornal Folha de S. Paulo, complementando que era preciso defender “sem medo” a privatização de empresas como os Correios e a Petrobrás.
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Outro assunto que tem deixado os quadros mais alinhados com as ideias liberais irritados com o PSDB é o fato de a legenda estar claudicante no apoio à reforma da previdência proposta pelo governo, que deve ser votada nos próximos dias. Ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga afirmou ao jornal Folha de S. Paulo que considerou a postura da legenda “irresponsável” e que o partido corre o risco “flertar com a incoerência”, posto que uma de suas bandeiras sempre foi a defesa da responsabilidade fiscal.
Ao mesmo tempo, um fator político também tem pesado a balança de filiados descontentes com o partido. Além de Aécio Neves ter voltado a assumir a presidência do partido, murchou a expectativa de “refundação” da legenda com a nova eleição interna após a perspectiva de que Geraldo Alckmin é quem deverá assumir o comando da legenda por “unanimidade”. Em setembro, o governador de São Paulo participou de um evento da corrente “Esquerda pra valer”, que defende o retorno às raízes sociais-democratas do partido. Na ocasião, Alckmin teceu críticas ao liberalismo.
A saída de Landau, porém, não é a primeira baixa significativa do time de intelectuais do partido. No final de setembro, Gustavo Franco, um dos principais idealizadores do Plano Real e tido até então como uma das lideranças econômicas do partido, anunciou que estava saindo da legenda. Em carta aberta ao Instituto Teotônio Vilela, do qual era um dos membros, o ex-presidente do Banco Central afirmou que o partido sempre teve “hesitações em abraçar a novidade” e que liberais sempre estiveram em “franca minoria”. Em seguida, anunciou que estaria de mudança para o NOVO – onde assumiria a Fundação Novo e que no último dia 23 divulgou seu primeiro documento.
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