Desde a última sexta-feira (5) o Boletim da Liberdade noticiou, com exclusividade, que um dos destinos possíveis ao Livres, uma vez fora do PSL, seria o PPS. Nesta quarta (10), também em primeira mão, informamos que o PPS teria, em reuniões preliminares, aberto até a possibilidade de mudança de nome para acolher o Livres. Nesta quinta-feira (11), conseguimos estabelecer contato diretamente com o presidente da legenda, o ex-ministro e deputado federal Roberto Freire.
Perguntamos a Freire – que também concorreu a presidente da república em 1989 pelo PCB – sobre o interesse no Livres, em quais condições poderia haver mudança de nome e até sobre o fato de o partido integrar o Foro de São Paulo – questionamento que os leitores do Boletim fizeram em nossa página no Facebook.
Espontâneo e receptivo ao conversar com nossa equipe, o deputado falou sobre a receptividade do PPS à movimentos da sociedade civil e compartilhou sua visão de mundo. Para ele, a discussão sobre estado mínimo ou estado máximo é uma “disputa equivocada” e, sem ser estimulado, teceu críticas ao NOVO, que considerou “anacrônico”. Leia:
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Boletim da Liberdade: Recebemos duas informações principais: a primeira de que o PPS teria muito interesse em acolher o Livres internamente, em bloco, e a segunda de que o PPS estaria até mesmo disposto a negociar a mudança de nome. O senhor confirma essas informações?
Roberto Freire: A primeira parte é totalmente verdadeira. Nós entramos em contato com o [Paulo] Gontijo, que é o coordenador, que foi inclusive escolhido para ser o porta-voz do movimento após esse rompimento. Já tivemos esse contato com ele e o convidamos para uma discussão com a direção do partido e aqueles que representam o movimento que desejarem conversar para o próximo dia 17 em São Paulo. Ainda não foi confirmado, mas já foi feito o convite.
Tive um contato com a Elena Landau, que também se mostrou interessada nesse diálogo com o PPS. Nós temos esse interesse. Até porque temos uma tradição de manter um bom relacionamento com movimentos. O partido já ofereceu, inclusive, legenda e integração na própria direção partidária de um representante da Rede enquanto a Rede não era partido, era só movimento. Temos uma certa tradição disso. E, nesse momento agora, o PPS foi procurado por alguns desses movimentos. Em especial, o movimento “Agora!”. Então o partido decidiu pela sua direção nacional – e isso é importante – uma ação de buscar contato com todos esses movimentos e oferecer concretamente um processo de integração com eles, respeitada a autonomia dos movimentos. Mas aberto, inclusive pela nova realidade que o mundo está experimentando, e que talvez esteja apontando a nova forma de partido, às novas formas de representação política. A mudança que está operando em todo mundo, e não só no Brasil. Então nós estamos abertos para isso e temos todo o interesse [de acolher o Livres em bloco].
Quanto ao segundo ponto [relativo à mudança de nome], isso só teria sentido se realmente essa integração fosse de tal ordem que você mudasse a qualidade do partido. Aí, mudando a qualidade, mudaria o nome. Claro.
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Boletim da Liberdade: A “mudança de qualidade do partido” seria o quê? Uma mudança em bloco?
Roberto Freire: Não. Se você tivesse, por exemplo, o movimento “Agora!”, o movimento Livres, que participassem desse processo de integração. Que admitam participar do congresso nacional do partido – e nós temos um agora para o final de março. Se vierem parlamentares, que estavam mais ou menos vinculados inclusive ao Livres. Se tudo isso funcionasse, se as pessoas se interessarem e participarem desse processo congressual que nós temos, não tenha dúvida de que pode ser colocada essa discussão. Inclusive sobre a mudança [de nome] porque você mudou qualitativamente o partido.
Só teria sentido [mudar de nome] se realmente essa integração fosse de tal ordem que você mudasse a qualidade do partido. Aí, mudando a qualidade, mudaria o nome.
Boletim da Liberdade: Então se vários movimentos participassem dessa transformação…
Roberto Freire: Não precisam ser vários movimentos. Pode ser um, dependendo da dimensão que for. O que eu não posso dizer é que o partido não vai mudar simplesmente. Até porque já tivemos a adesão de Cristovam [Buarque] e, com ele, vieram também algumas lideranças importantes. Mas não era de volume tal que mudasse a qualidade do partido. Que você pudesse colocar concretamente a mudança. Agora, se o partido tem uma integração dessas, se o movimento cresce, é claro que o partido discute essa nova realidade. Porque ele deixa de ser o que era e pode começar a imaginar o que vai ser. Que novo partido será. Até porque pode nem ser um partido (risos). Pode ser tanto um partido, quanto uma plataforma… uma ideia que poderia ser é uma plataforma de cidadania.
Boletim da Liberdade: O Livres é um grupo político que se define como liberal. E defende muito abertamente o liberalismo. E o PPS…
Roberto Freire: O PPS é muito claramente um partido que hoje discute a questão da democracia como valor universal. E eu considero que a afirmação liberal é a afirmação da democracia. Até porque, quanto a questão da economia, se você começar a ficar com muito… matriz. Você pode cair em questões de visões ideológicas. E eu acho que o mundo não está para que você aplique essa ideia de que é ou estado mínimo ou estado máximo. Essa discussão é uma discussão ultrapassada. O que a gente tem que discutir é qual é o estado. O necessário estado para o Brasil. Entendeu?
Não tem que estar aqui [dizendo] “ah, eu quero estado mínimo”. Aí eu caio na ideologia. Aí eu vou para o NOVO. Que quer acabar até o estado. E se eu quero um estado que é pra discutir se é máximo, aí eu vou para a esquerda mais anacrônica.
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Boletim da Liberdade: O Boletim da Liberdade é muito lido por pessoas que têm afinidade com ideias liberais ou conservadoras. E uma das críticas que estão sendo feitas sobre a possível proximidade do Livres ao PPS são de leitores que relembram que o PPS já foi o PCB e que o partido faz parte do Foro de São Paulo…
Roberto Freire: Primeiro, [o PPS] não faz parte do Foro de São Paulo¹. Há muito tempo. Desde o começo, quando a hegemonia bolivariana assumiu. Porque, se você procurar ver no Foro de São Paulo, você vai encontrar partidos de esquerda democrática que não têm nada a ver com o posicionamento da Venezuela, Cuba ou do lulismo. Ou qualquer outro dos chamados movimentos bolivarianos, que são políticas que tiveram uma grande hegemonia até bem recentemente na América Latina. Quando isso se afirmou, nós nos afastamos do Foro. Isso faz mais de 15 anos. Então faz muito tempo isso aí. Tão logo começou o governo do PT, com a afirmação muito clara dessa política, nós nos afastamos.
Em segundo lugar, o que precisam entender é que nós não podemos ficar prisioneiros de políticas do século 20. Antes do processo e da revolução científico-tecnológica que nós estamos enfrentando agora. O mundo está vivendo uma profunda revolução. E nós vamos ficar presos a paradigmas do passado? Isso coloca em risco, por exemplo, essa ideia do NOVO que não é nada novo. É anacrônico como é anacrônica, mas com sinal trocado, a esquerda mais reacionária aí que tem PCs, PSOL e por aí vai. É essa disputa equivocada de estado mínimo e estado máximo.
O mundo não está para que você aplique essa ideia de que é ou estado mínimo ou estado máximo. Essa discussão é uma discussão ultrapassada. O que a gente tem que discutir é qual é o estado. O necessário estado para o Brasil. Entendeu?
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Boletim da Liberdade: A ideia do “NOVO” que o senhor diz é em relação ao Partido Novo ou o “novo” de uma maneira geral?
Roberto Freire: É o Partido Novo. Eu estou imaginando que o mundo está sofrendo uma profunda transformação e o PPS faz parte disso. Até porque sabe que não terá futuro se continuar tal como é. Qualquer um que imaginar que vai ficar tal como é evidentemente não tem história muito pela frente. E nem esse NOVO. Porque ele não é novo, ele é anacrônico. Está numa disputa política ideológica de estado mínimo e máximo. E eu estou querendo colocar que não é isso o que está em discussão nesse novo mundo, com essa nova economia, com a economia do mundo digital. Do mundo das inovações e transformações tecnológicas. Se ficar preso a paradigmas, daqui a pouco vamos começar a ficar discutindo, de um lado, sobre acabar a CLT e, de outro, de manter a CLT. E não é uma coisa, nem outra. O mundo do trabalho é outro.
O mundo está sofrendo uma profunda transformação e o PPS faz parte disso. Até porque sabe que não terá futuro se continuar tal como é.
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¹O PPS ainda constava no site do Foro de São Paulo nesta sexta-feira (11) como partido integrante da organização. URL: <http://forodesaopaulo.org/partidos/>