A revista Época publicou na última quinta-feira (22) uma matéria sobre a atividade do que chamou de “direita” na Internet. Com o título de “Monitoramento das mídias sociais revela alto engajamento dos conservadores”, a reportagem utilizou como mote inicial o Carnaval. [1]
Responsável por fazer uma análise durante a festa, o consultor de mídia e pesquisador Pedro Burgos considerou uma “experiência bastante peculiar” acompanhar “as discussões acaloradas sobre o conteúdo político de algumas escolas de samba”. Na reportagem, ele atribui ao Movimento Brasil Livre, por exemplo, o furo de que Paraíso do Tuiuti, crítica da reforma trabalhista, emprega apenas três pessoas no regime celetista.
A reportagem destacou que essa informação não foi destaque em qualquer veículo grande de imprensa, “mas teve ampla repercussão na ala mais liberal da direita na Internet, em seus veículos próprios”. Da mesma forma, uma “enorme carreata pró-Bolsonaro em Quixadá, no Ceará” e um vídeo de “polonesas contra o feminismo”, conteúdos que também não encontram acolhimento nos principais veículos jornalísticos, mas marcam presença no que o autor chama de “direitosfera”. É uma explícita afirmação do diferencial desses canais e espaços virtuais liberais e conservadores na difusão de conteúdos.
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A “direitosfera” em choque
“Desde que comecei a monitorar as discussões sobre política nas redes sociais, em janeiro de 2017, me surpreendeu não apenas a predominância das páginas mais à direita no espectro político no topo do ranking de engajamento no Facebook, como também a relativa diversidade de pautas – e ocasional discordância – entre elas”, resumiu Burgos.
O analista observou que, ao contrário do que ocorre com a esquerda, normalmente “a direita” é agrupada como se fosse um bloco absolutamente homogêneo, o que é um equívoco. “Ao falar do ‘avanço do conservadorismo’, por exemplo, Dilma Rousseff coloca Donald Trump, o prefeito João Doria e o presidenciável Jair Bolsonaro no mesmo balaio”e a filósofa Marcia Tiburi classifica nomes como Kim Kataguiri, do MBL, e Alexandre Frota como igualmente “fascistas”. “Perde-se a nuance, perde-se a inteligência sobre o que se passa na cabeça de uma vasta parcela da população brasileira, que é bastante barulhenta online”, sentencia.
Em seu estudo, ele concluiu que o antipetismo e a pauta contra a corrupção permanecem como pautas comuns, mas depois do impeachment, outros assuntos naturalmente assumiram protagonismo, como a segurança pública, o discurso contra a subvenção estatal de artistas, a troca de acusações de “socialismo Fabiano” e a Reforma da Previdência. O grande destaque da matéria, porém, é a conclusão de que a mídia tradicional, tal como nos EUA, passou a ser vista como um adversário e os publicadores de conteúdo da “direitosfera” sabem que a maior parte dos temas que reverberam não aparece nela.
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