Um memorando divulgado pela CIA nesta quinta-feira (10) pode abrir uma nova interpretação sobre o regime militar. Datado de 1974, ele foi elaborado pelo diretor da agência de inteligência norte-americana e direcionado ao então secretário de estado dos Estados Unidos, Henry Kissinger. O documento aponta que um grupo restrito de generais, entre eles o presidente Ernesto Geisel, não apenas estava ciente de execuções, como autorizaram essa “política”. [1]
O texto relata um encontro entre os generais João Batista Figueiredo (na altura, chefe do Serviço Nacional de Informações, o SNI), Ernesto Geisel (já empossado presidente), Milton Tavares e Confúcio Avelino (esses últimos, do Centro de Inteligência do Exército)
Na reunião, os generais debatem se “métodos extra-legais” deveriam continuar sendo aplicados contra o que foi chamado de “subversivos perigosos”. O documento expõe que Geisel ficou de pensar à respeito, mas posteriormente defendeu a continuidade da política. Com uma condição: as execuções deveriam contar com a autorização de Figueiredo – que, anos depois, assumiria a presidência.
Daniel Duque, ativista de direitos humanos e ligado ao Livres, considerou em entrevista ao Boletim da Liberdade que esse documento evidencia que o alto escalão não apenas sabia, como fazia parte do que chamou de “processo de decisório de executar”.
“Mesmo se os ex-presidentes não soubessem dos casos de tortura e assassinato, ainda assim seriam responsáveis pelos governos que comandaram. É o mesmo com corrupção, por exemplo. Mas também é fato que quem manda matar é tão diretamente criminoso quanto quem mata”, opinou Duque, comparando, em seguida, com o caso da vereadora Marielle Franco, morta em março.
“No caso da Marielle, por exemplo, não estão querendo apenas descobrir quem executou a vereadora, mas quem mandou matá-la”, explicou.
Paulo Figueiredo Filho, ex-diretor do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e neto de João Figueiredo, também manifestou-se sobre o caso no Facebook. Ele reclamou da origem do documento, questionando a credibilidade da CIA e observando que os generais que são citados no texto divulgado já estão mortos e não podem se defender.
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“A única coisa que dá pra comentar, porque é factual, é a revolta hipócrita e seletiva de certos jornalistas que defendiam (e defendem) o socialismo – um regime conhecido pelos seus julgamentos sumários sem a tal ‘parcimônia’ atribuiída aos militares no próprio documento da CIA e cujo resultado não foi a execução de centenas, mas de milhares (ou milhões) de opositores”, comentou Paulo Figueiredo Filho.
Como os liberais devem se portar?
Duque defende que os liberais sigam se posicionando “fortemente contra” o regime militar diante da nova denúncia. “Direitos Humanos são a bandeira liberal mais importante de ser mantida”, opinou.
O ativista, porém, não crê que o novo fato vá derrubar a percepção que alguns grupos, especialmente mais conservadores, tenham do regime.
“Tendo crescido sob um país extremamente violento, muitas pessoas não são contra a execução de pessoas que considerem perigosas, como supostamente eram os comunistas durante a ditadura. Muitos políticos, para piorar, endossam essa posição, como o próprio Bolsonaro acabou de relativizar essa informação, perguntando ‘Que pai nunca deu um tapa na bunda do filho?’. Para ele, o Estado é isso, um pai, e um tapa na bunda são os métodos de violência incluindo tortura e execução”, concluiu.
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