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Brasil Paralelo: em entrevista exclusiva, conheça a origem dos documentários que fazem sucesso na Internet

O Boletim conversou com o apresentador Filipe Valerim, que contou os motivos por trás da escolha do nome da empresa, os desafios para fazê-la funcionar e muito mais
Filipe Va

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Você provavelmente conhece esse rosto da abertura dos vídeos do canal do “Brasil Paralelo” no Youtube, que já conta com mais de 260 mil inscritos. Filipe Valerim, formado na Escola Superior de Propaganda e Marketing, é a face pública mais corriqueira do projeto, sediado em Porto Alegre. Ele está sempre presente ao começo dos vídeos quando há um seminário especial ou um episódio novo de alguma série para introduzir novos espectadores ao universo de informações alternativas que a empresa pode proporcionar.

O Boletim quis saber: como surgiu essa iniciativa? Como foi que, de uma equipe praticamente inteira de jovens, surgiu uma ideia capaz de reunir figuras de todos os matizes do ecossistema pró-liberdade, bem como intelectuais renomados de diferentes origens, em documentários que fazem tanto sucesso na Internet?

Em entrevista exclusiva, Filipe contou os bastidores que levaram a detalhes como a escolha do nome da empresa e a definição dos convidados para deixarem suas marcas nos filmes que têm atraído público de todas as idades – alguns até já passaram no cinema! Confira:

Boletim da Liberdade: Começando pelo princípio: de que maneira a iniciativa foi originalmente concebida? Desde o começo o projeto já tinha definidas as características que exibe atualmente ou houve alguma reformulação ao longo do caminho? Qual a motivação para o nome “Brasil Paralelo”?

Filipe Valerim: O Brasil Paralelo não nasceu com esse nome e muito menos com esse formato. A empresa, apesar de jovem, passou por diversas reformulações até chegar ao atual modelo. A história começou com um grupo de jovens empreendedores, hoje sócios do projeto, que entendiam que o país estava passando por um momento novo. Diante do cenário político de 2014, com a reeleição de Dilma Roussef, um despertar de consciência política ganhava cada vez mais força a partir do sentimento de revolta da maioria da população.

Após o impeachment da ex-presidente, ficou claro que havia uma parcela significativa da população com o potencial de se mobilizar e gerar mudanças efetivas na rota que seguíamos. Isso nos entusiasmou.

Ao mesmo tempo em que as pessoas estavam emocionalmente envolvidas com esse processo, havia uma carência enorme por compreender o que nos levou até aquele momento de crise política extrema. Enquanto a maioria da população permanecia adormecida, ou comprometida com uma hegemonia cultural de esquerda, ainda restavam alguns “sobreviventes”: professores, políticos, escritores, historiadores, filósofos, pesquisadores, profissionais que eram referência em suas áreas e que tinham como contribuir de forma mais lúcida ou racional com essa análise – abstendo-se de sentimentalismo.

Exibição do último episódio da série “Brasil: A Última Cruzada” em cinema de São Paulo (Foto: Divulgação)

No início, a ideia era entrevistar esses profissionais e disponibilizar as entrevistas em um evento ao vivo, online e gratuito. Para aqueles que quisessem assistir posteriormente, seria cobrada uma uma taxa que daria direito ao acesso às gravações: dessa forma que a empresa se financiaria. Tínhamos uma câmera emprestada – na verdade eram duas T5I Canon -, uma sala de seis metros quadrados e algum dinheiro, emprestado a juros, para pagar as viagens e o aluguel da pequena sala.

Nesse momento, o projeto mudava de nome toda semana, passando por Brado, (palavra presente no hino do Brasil), Paralelo 15 (paralelo que passa por cima de Brasília), e outros que não me recordo. A inspiração para o nome “Brasil Paralelo” veio de um filme do cineasta Christopher Nolan, ídolo dos sócios, chamado “Interestelar”. Nesse filme, o ator principal precisa salvar a humanidade do apocalipse terrestre entrando em um buraco de minhoca no espaço e encontrando um planeta habitável nesse universo “paralelo” que salvaria a espécie humana.

O logo da empresa tem o formato de um buraco de minhoca justamente para dar a ideia de que a marca é a conexão com uma realidade paralela. No caso, paralela ao que as pessoas estavam acostumadas a ver na grande mídia.

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Tínhamos um nome, equipamentos e uma ideia, agora só faltava conseguir os entrevistados. A cada especialista que topava nos ceder uma entrevista, a próxima se tornava mais fácil de conseguir, pois o projeto ia ganhando mais relevância. Quando fizemos as primeiras gravações, nos demos conta de que o formato não funcionaria, já que os entrevistados abordavam diferentes pautas que não necessariamente se conectavam. Além disso, muitas entrevistas duravam mais de duas horas e poderiam ficar maçantes ao telespectador.

Tínhamos um nome, equipamentos e uma ideia, agora só faltava conseguir os entrevistados. A cada especialista que topava nos ceder uma entrevista, a próxima se tornava mais fácil de conseguir, pois o projeto ia ganhando mais relevância.

Foi aí que surgiu a ideia de transformar essas entrevistas em uma série de documentários que conectassem as diferentes pautas sobre a situação política do Brasil em uma narrativa didática, mas que também fosse comovente. Nenhum de nós havia feito algo parecido antes. Após entrevistar 86 especialistas e virar algumas noites editando o material gerado, lançamos os documentários na internet.

O lançamento foi um sucesso, as pessoas adoraram e a primeira série foi assistida por mais de 5 milhões de pessoas. A partir daí, o modelo se consolidou. Replicamos a tal estratégia nas séries: “Brasil: A Última Cruzada”, “O Dia depois da Eleição” e nas próximas que já estão em produção, ainda sem nome definido.

Imagem do quarto episódio da série “Brasil: A Última Cruzada” (Foto: Reprodução / Youtube)

Boletim da Liberdade: Um dos aspectos mais importantes do Brasil Paralelo é sua auto identificação como uma empresa. Nos vídeos em que vocês procuram manter contato com a audiência e envolvê-la nas novidades, é sempre frisada a contradição dos críticos ao atacá-los por algo que jamais negaram ser. De que maneira a empresa se financia e quais os diferentes papeis exercidos pelos membros da equipe?

Filipe Valerim: Acredito que um dos fatores determinantes para o rápido crescimento da Brasil Paralelo, foi ter concebido o projeto como uma empresa desde sua origem. Neste sentido, um bom sistema de incentivos é fundamental para se obter o máximo de produtividade e entrega de valor dos envolvidos. Acredito que nenhum sistema é mais eficiente do que assumir o risco de abrir uma empresa com capital próprio, cuja sustentabilidade dependerá da percepção de valor do público.

Não tínhamos garantias nem alternativas a não ser gerar valor para as pessoas a ponto de elas quererem nos retribuir. Além disso, precisávamos de autonomia para produzir o conteúdo que acreditamos ser sustentável por meio de compra do próprio público alvo, nosso consumidor.

Ficar dependente de grandes patrocinadores, doadores, incentivos de lei, não era uma alternativa. O conflito de interesses nesses casos é iminente e é por isso que a empresa precisava ser financiada pelas milhares de pessoas que nos assistiriam. A empresa adotou o melo “freemium”: disponibilizamos as séries de documentários gratuitamente na Internet e comercializamos o acesso a um conteúdo exclusivo de aprofundamento nos temas das séries em uma plataforma de membros.

Ficar dependente de grandes patrocinadores, doadores, incentivos de lei, não era uma alternativa. O conflito de interesses nesses casos é iminente e é por isso que a empresa precisava ser financiada pelas milhares de pessoas que nos assistiriam.

Hoje, já são quase 30 pessoas na equipe trabalhando neste contexto. Quando começamos, eram apenas os sócios; nos dividíamos entre pesquisa e produção, relacionamento e administrativo/financeiro. Sempre foi um desafio delimitar nossas funções. O processo aconteceu de forma bastante orgânica com todos se envolvendo um pouco em tudo. Hoje as divisões estão ficando mais claras, mas ainda existe muita interseção entre as áreas. Em linhas gerais, hoje, a empresa se divide entre: pesquisa e produção, relacionamento com parceiros, relacionamento com os membros, marketing e administrativo financeiro. A produção, a área por onde tudo começou,  segue sendo a maior área da empresa atualmente.

Divulgação de episódio da primeira série do “Brasil Paralelo” (Foto: Divulgação)

Boletim da Liberdade: Que benefícios recebe alguém que decida colaborar com o Brasil Paralelo? De que maneiras diferentes alguém pode ajudar a iniciativa a se desenvolver e prosperar?

Filipe Valerim: Na minha visão, o principal benefício é a ideia de financiar a expansão de consciência dos brasileiros. Temos uma métrica que indica que a cada pessoa que adquire o conteúdo pago do Brasil Paralelo, mil novas pessoas assistem às séries gratuitas através do investimento que fazemos em anúncios de divulgação. Além do impacto social que a pessoa estará gerando, ela poderá se desenvolver como indivíduo estudando o conteúdo exclusivo para membros e participando do grupo fechado de discussão que debate diversos assuntos relacionados aos temas da série. Além de se tornar membro, as pessoas podem contribuir com a causa compartilhando as séries com seus amigos e familiares.

Após o impeachment da ex-presidente, ficou claro que havia uma parcela significativa da população com o potencial de se mobilizar e gerar mudanças efetivas na rota que seguíamos. Isso nos entusiasmou.

Boletim da Liberdade: O Brasil Paralelo já produziu duas séries e é notável a predominância de pesquisadores e consultores vistos como mais alinhados a perspectivas liberais ou conservadoras. Como enxergar a linha editorial da empresa e a que princípios fundamentais, se existem, ela se assume vinculada? Que diferenças ideológicas podem existir entre os funcionários e organizadores? Como os entrevistados são selecionados?

Filipe Valerim: Os valores que adotamos para a cultura interna da empresa e que perseguimos incansavelmente estão diretamente relacionados com a nossa linha editorial e com o critério de seleção dos colaboradores. Os valores são: liberdade (os indivíduos são diferentes na hora de escolher, agir e colher resultados, bons ou ruins; impedir a ação e a escolha das pessoas é abuso de poder; ter a consciência de ser responsável pelos resultados é lucidez diante da vida); verdade (nosso propósito é enriquecer a sociedade por meio da comunicação eficiente da verdade; a verdade não é relativa, é o bem maior e uma meta inesgotável); arte (é a linguagem emocional para com os seres humanos; tudo que não for possível assimilar pela linguagem racional, será comunicado e sentido pela arte bem feita); ambição (meritocracia; todos nós queremos o melhor da vida e o melhor do mundo, e a única forma legítima de conquistar isso é com o mérito; toda conquista sem mérito é instável e passageira).

Quanto à seleção do elenco de entrevistados, cada caso é um caso. Geralmente somos orientados pelo nível de especialidade e a capacidade de expressão dos entrevistados para abordar os temas que serão tratados no documentário. Três atributos que perseguimos na hora de selecionar entrevistados e produzir as séries são: Didática, storytelling e design. Acreditamos que esses três elementos são fundamentais para transmitir a mensagem com eficiência.

Boletim da Liberdade: Em 2017, o Brasil Paralelo participou da 30ª edição do Fórum da Liberdade, organizado pelo Instituto de Estudos Empresariais. Há alguma relação, ou pretendem construir alguma, com instituições liberais e think thanks? Considerando que vocês sempre ressaltam o objetivo de contribuir para a melhoria na educação brasileira, há algum esforço para inserir os conteúdos que produzem em instituições de ensino formais?

Filipe Valerim: Procuramos sempre estar em contato com think thanks que promovam ideias de liberdade. O Fórum da Liberdade, que acontece anualmente em Porto Alegre concentra pessoas interessadas em debater esse tema e isso, consequentemente, acaba atraindo muitas pessoas que acompanham o nosso conteúdo. Por outro lado, como nossa relação com a audiência geralmente ocorre pela internet, o Fórum da Liberdade acaba sendo também uma oportunidade de estabelecer um contato mais próximo com as pessoas de forma offline e divulgar o conteúdo para quem ainda não o conhece.

Na minha visão, o principal benefício é a ideia de financiar a expansão de consciência dos brasileiros. Temos uma métrica que indica que a cada pessoa que adquire o conteúdo pago do Brasil Paralelo, mil novas pessoas assistem as séries gratuitas através do investimento que fazemos em anúncios de divulgação.

Além disso, constantemente recebemos mensagens de professores que estão utilizando nossas séries em sala de aula para ensinar os alunos sobre a história do Brasil e outros temas. Ficamos muito entusiasmados em saber que isso tem acontecido e de forma orgânica, ou seja, não faz parte da grade chancelada pelo MEC. Claro que ainda é inexpressivo perto do que ainda precisa ser feito nas escolas e a intensificação disso depende da atuação de diversas frentes, dentre elas, a política. No momento, estamos mais concentrados na produção de conteúdo, aplicando nossa tecnologia de séries em assuntos que ainda carecem de amplificação e clareza.

Boletim da Liberdade: Vocês anunciaram que, depois do “Congresso” e da série “Brasil: A Última Cruzada”, sua nova empreitada envolverá gravações em um local específico, onde o público poderá presencialmente assistir à feitura dos próximos filmes. Há alguma ambição maior de realizar eventos e tornar mais “presencial”/“física” a experiência dos membros do Brasil Paralelo? Até que ponto vocês pretenderiam ir além da produção de documentários e apostariam em produzir outros gêneros de produtos?

Filipe Valerim: Como toda empresa em fase de crescimento, ainda existem muitas dúvidas em relação ao modelo mais eficiente para engajar as pessoas com a proposta e para isso é importante estar aberto a mudanças e se adaptar com velocidade para acompanhar o mercado. Ainda esse ano, pretendemos realizar algumas dinâmicas presenciais e, talvez, adotar encontros recorrentes; mas como comentado anteriormente, estamos em fase de testes nos quais há muitos  aprendizados importantes no ambiente “físico” que ainda precisamos conhecer. Sabemos que o ambiente online nos absorveu muito bem e acreditamos em seu potencial de profusão de ideias, portanto não faria sentido abandoná-lo ou não tê-lo como carro chefe do negócio.

Boletim da Liberdade: Além das séries principais, vocês também têm trabalhado com transmissões especiais sobre temas da atualidade. Qual o objetivo da realização dessas transmissões? Há a perspectiva de aumentar a quantidade delas?

Filipe Valerim: Nosso objetivo é trabalhar os temas que sejam alinhados com o nosso propósito e que tenham relevância na vida das pessoas no presente, sejam eles temas da atualidade ou históricos. As transmissões são uma oportunidade de aumentar o fluxo de informação com o público em um formato mais dinâmico do que os documentários, que levam mais tempo para serem produzidos. Ainda estamos em fase de validação do formato a fim de compreender qual é o seu real potencial e como pode agregar ao público.

Boletim da Liberdade: De acordo com o Estadão, além de vender milhares de assinaturas, vocês teriam amealhado R$ 1,5 milhão em seis meses. Esses números procedem? A que você atribui tamanho sucesso do Brasil Paralelo?

Filipe Valerim: Na verdade foi muito mais, hoje estamos esbanjando joias e carros de luxo (risos). Muitas especulações foram feitas em relação ao resultado da empresa. Felizmente, o primeiro lançamento encontrou o apoio de muitos membros que financiaram a continuidade da empresa. O que posso dizer é que a arrecadação foi suficiente para cobrir os custos de produção, estruturar a empresa com questões de infraestrutura e produzir a série “Brasil: A Última Cruzada” que foi ao ar no ano de 2017 e também já bateu a casa das 5 milhões de pessoas que assistiram a algum dos episódios.

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