Eleito com expressivos 71,8% dos votos válidos em segundo turno, o empresário Romeu Zema, do Partido Novo, surpreendeu o Brasil ao eleger-se governador de Minas Gerais.
Disputando por um partido pequeno, que estreou em 2018 em eleições gerais, possuindo a política de não utilizar recursos de fundo partidário e sem fazer coligação eleitoral, o empreendedor superou expectativas, deslanchou no fim do primeiro turno e desbancou, entre outros candidatos, o atual governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), e o ex-governador de Minas e senador Antonio Anastasia (PSDB).
Em sua segunda entrevista exclusiva ao Boletim da Liberdade – a primeira, ainda durante a pré-campanha, Zema confidenciou como se preparava para a eleição -, e a menos de um mês de tomar posse como novo governador do segundo maior colégio eleitoral do Brasil, Zema conversou, entre outros assuntos, sobre a responsabilidade do desafio assumido, crise econômica, privatizações, inovações e o objetivo que pretende alcançar ao longo dos quatro anos de seu mandato. Confira:
Boletim da Liberdade: Sua eleição ao Governo de Minas Gerais surpreendeu muita gente. Agora, o segundo maior colégio eleitoral do país terá a oportunidade de ser governado pelo Partido Novo, que estreia no Poder Executivo, e por um empresário que nunca foi político antes. Como é lidar com essa responsabilidade e quais têm sido as suas impressões da administração pública até aqui?
Romeu Zema: A responsabilidade é enorme. Foram 71,8% dos mineiros que me deram seus votos. Isso torna o desafio que vou enfrentar ainda maior. Mas chego ao governo com muita disposição, determinação e cercado de ótimos profissionais, com o compromisso de fazer o melhor por Minas.
Todos sabemos que há uma grande diferença entre a administração privada e a pública. E, durante as apurações e análises da nossa equipe de transição, isso ficou bastante evidente. É justamente isso que queremos mudar. Eu, as pessoas que farão parte do meu governo e o Partido NOVO realmente acreditamos numa nova forma de governar, aproveitando as boas práticas da gestão privada e usando novas ferramentas na gestão pública. Queremos simplificar processos, sermos amigos de quem vai empreender em nosso estado.
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Boletim da Liberdade: Como tem sido a participação de quadros nacionais do NOVO, como Gustavo Franco, João Amoêdo e outros tantos, no processo de transição e como você pretende que seja no governo de Minas Gerais?
Romeu Zema: O NOVO criou um conselho nacional para apoio ao meu governo. São profissionais de diversas áreas, que já estão nos auxiliando neste momento de transição e vão continuar com a gente depois que assumirmos.
Minas é o segundo maior colégio eleitoral do Brasil e isso faz com que a eficiência da minha gestão seja ainda mais importante, pois será uma espécie de vitrine para o partido.
Eu, o meu vice, Paulo Brant, nossos secretários e o conselho nacional do NOVO queremos o mesmo: fazer um governo comprometido com a melhora da vida dos mineiros e com a recuperação econômica de nosso estado.
Boletim da Liberdade: Foi noticiado, inclusive pelo Boletim da Liberdade, que houve a contratação de uma empresa especializada em recrutar executivos para atuar no primeiro escalão do futuro governo mineiro. Essa prática, comum na iniciativa privada, é rara no meio político. Gostaria de saber como surgiu essa ideia e como tem sido os resultados até aqui. Alguém já foi escolhido por meio desse processo?
Romeu Zema: A ideia de contar com empresas especializadas em recrutamento de profissionais veio da nossa vontade de fazer um governo diferente dos que estavam aí até hoje, da determinação de escolher pessoas tecnicamente capacitadas para trabalhar conosco, e não apadrinhados políticos.
Os resultados têm sido excelentes. Os secretários, de Impacto Social, Elizabeth Jucá, de Saúde, Wagner Eduardo Ferreira, de Fazenda, Gustavo Barbosa e de Planejamento, Otto Levy, foram selecionados por headhunters. Com essa excelência, dei o aval final junto com o conselho do partido Novo. Os resultados têm sido excelentes, basta ver os currículos dos nossos futuros secretários e secretárias estaduais.
Minas é o segundo maior colégio eleitoral do Brasil e isso faz com que a eficiência da minha gestão seja ainda mais importante, pois será uma espécie de vitrine para o partido.
Boletim da Liberdade: Em entrevista concedida ao Boletim, em abril, o senhor afirmou que a situação de Minas Gerais era “desesperadora” e de “extrema penúria”. Hoje, no processo de transição, como o cenário está sendo avaliado e quais medidas prioritárias o senhor acredita que precisará tomar quando assumir?
Romeu Zema: Infelizmente, durante as análises dos dados obtidos durante o período de transição, estamos vendo que a situação de Minas é realmente desesperadora, pior do que vinha sendo divulgado. Minas é hoje o quarto estado mais endividado do Brasil e o rombo divulgado pelo atual governo, de R$ 11,4 bilhões, é na verdade maior. Mais do que o dobro maior, infelizmente.
Para enfrentar essa situação, precisamos cortar drasticamente as despesas, ampliar a arrecadação, atraindo empresas para o estado, e renegociar a dívida de cerca de R$ 90 bilhões com a União. Imediatamente, vamos enxugar a máquina, reduzindo o número de secretarias, cortando 80% dos cargos comissionados e eliminando mordomias. É nossa prioridade regularizar o pagamento de salários do funcionalismo e os repasses às prefeituras.
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Boletim da Liberdade: Minas Gerais conta com diversas empresas estatais, entre elas a Copasa (Saneamento), Cemig (Energia) e EMC (Comunicação). O senhor pretende promover um programa de privatização nessas companhias?
Romeu Zema: A privatização de estatais não está fora dos nossos planos, mas não em um primeiro momento. Cemig e Copasa, por exemplo, estão desvalorizadas. Não seria interessante privatizá-las antes de uma recuperação de seus valores no mercado. No entanto, só pelo fato de termos sido eleitos com essa ênfase na austeridade, as ações da Cemig em bolsa de valor já teve valorização.
A privatização de estatais não está fora dos nossos planos, mas não em um primeiro momento. Cemig e Copasa, por exemplo, estão desvalorizadas. Não seria interessante privatizá-las antes de uma recuperação de seus valores no mercado
Boletim da Liberdade: Na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, o NOVO terá apenas três deputados estaduais em um universo com mais de 70 parlamentares. Como o senhor lidará com esse cenário? O senhor pretende formar, por exemplo, uma coalizão parlamentar, congregando outros partidos junto à base governista?
Romeu Zema: Conto com o apoio não só dos parlamentares do NOVO – o Bartô, o Guilherme Cunha e a Laura Serrano –, do PV, partido que apoiou nossa candidatura, e de outros partidos que já sinalizaram a intenção de nos apoiar. Independentemente do partido, vou manter um diálogo transparente e constante com todos os 77 deputados, que têm consciência da gravidade da situação. Acredito que poderei contar com eles para tomar as medidas necessárias para fazer Minas voltar a crescer. A Assembleia também faz parte da solução para a grave crise fiscal mineira.
Boletim da Liberdade: Obrigado pela entrevista. Por fim, gostaria de saber quais resultados práticos o senhor tem como objetivo alcançar ao fim de seu mandato, daqui a quatro anos, e como pretende que os brasileiros enxerguem Minas Gerais após a sua gestão?
Romeu Zema: Ao final do meu mandato, quero deixar “a casa arrumada”. Minha meta é que a economia mineira esteja fortalecida, com o aumento do número de empresas e, consequente aumento expressivo das vagas de emprego, que a dívida com a União esteja num patamar aceitável, que os repasses para as prefeituras estejam regularizados e que o funcionalismo esteja trabalhando satisfeito por estar recebendo seus vencimentos em dia e vendo que é valorizado. Espero – e acredito – que o Brasil, olhando para Minas, veja que é possível, sim, fazer uma gestão pública eficiente e comprometida com o bem-estar dos cidadãos.
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