O coordenador do Movimento Brasil Livre Renan Santos, um dos estrategistas do grupo, publicou na última quinta-feira (2o) um longo artigo que avalia a atitude que a direita brasileira deve tomar perante o governo de Jair Bolsonaro. O principal enfoque é o caso recente de escândalo envolvendo assessores do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente eleito. [1]
Renan ponderou inicialmente que a proeminência da família Bolsonaro como legatária “do processo político-histórico que redundou na derrubada de Dilma Rousseff e na eleição de Jair” é indiscutível. Seus sucessos e abalos em seu governo afetam todos os atores do fenômeno político – entre os quais Renan inclui o MBL, o NOVO, os libertários e os intelectuais da nova direita.
No entanto, isso “não nos torna responsáveis por seus erros, tampouco advogados de suas escusas”, e a união de todos os setores no segundo turno das eleições de 2018 não significa adesão automática ao projeto de poder da família do presidente. Renan ressalta que a direita “ultrapassou a fase embrionária” e precisa agora apenas se organizar, mas já conta com lideranças e grupos que têm brilho próprio.
Renan diagnostica ainda que o grupo político do presidente “atuou de forma sectária e agressiva com outros setores da direita ao longo dos últimos dois anos” e precisará buscar apoio para se manter viável, o que cria a oportunidade de uma “recomposição de forças que, ao menos, reduza os conflitos e contradições ensejados por oportunistas que buscavam espaço eleitoral a todo custo”.
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A luta contra o patrimonialismo
Mais do que apenas a luta para eleger um presidente e derrotar o PT, Renan acredita que o grande papel da direita nos próximos anos deverá ser transformar a percepção de que há “um estado injusto e espoliador” no Brasil em “algo tangível e compreensível”. Somente assim, na visão do estrategista, será possível aprovar as reformas buscadas pelo futuro ministro Paulo Guedes, com as quais a direita deve concordar.
Na visão de Renan, a meritória vitória de Bolsonaro com poucos recursos contrasta com o histórico de militar corporativista do deputado, e o caso do assessor de Flávio Bolsonaro, Fabricio Queiroz, ameaça resgatar “a sombra de seu passado patrimonialista” por demonstrar, no mínimo, “descontrole total e desleixo com a coisa pública”, já que não haveria como explicar “os salários adotados, a contratação de familiares”, os “depósitos recorrentes” e a nomeação na Alerj da personal trainer Nathalia Queiroz, filha do pivô do escândalo.
Para reduzir os danos e evitar que novos afetem drasticamente a direita como um todo, a liderança do movimento de direita, para Renan, deve rechaçar qualquer prática patrimonialista em seu seio. Deve, ainda, independentemente dos rumos políticos que o caso provoque para a família Bolsonaro, apoiar as reformas e o trabalho dos ministros que o presidente eleito indicou, se for executado de acordo com o programa da direita.
“Será obrigatório lidar com as consequências de seus eventuais erros, mesmo que para denunciá-los. Haverá, portanto, custo. São as consequências de se chegar ao poder, ainda que indiretamente”, avaliou. No entanto, Renan enfatiza que os demais círculos da direita têm espaço para atuações desvinculadas do presidente, como os protestos contra o ministro do STF Marco Aurélio Mello por sua tentativa de liberar os presos em segunda instância, a militância no campo estudantil e a ocupação de espaços nos meios de comunicação.
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