Yossi Shelley, embaixador de Israel no Brasil, enalteceu o presidente Jair Bolsonaro em entrevista exclusiva à Empresa Brasil de Comunicação publicada neste sábado (5). Segundo ele, Bolsonaro é o “segundo Oswaldo Aranha”, em referência ao antigo diplomata brasileiro que presidiu a sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas que levou à criação do estado de Israel. [1]
“O nome de Oswaldo Aranha foi significante para a criação do Estado de Israel. Agora Jair Bolsonaro é um segundo Oswaldo Aranha porque ele faz uma coisa incrível: é mudar a história”, afirmou. Diante da promessa de Bolsonaro de que a embaixada do Brasil em Israel será transferida de Tel Aviv para Jerusalém, Shelley disse que, ao visitar Israel no próximo mês de março, o presidente brasileiro será recebido “com honras de um rei”.
O ministro de Ciência e Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, irá a Israel antes de Bolsonaro para discutir propostas sobre água e dessalinização que podem beneficiar o Nordeste brasileiro. Shelley enfatizou que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, nunca ficou por mais de três dias em outro país como fez no Brasil.
Ainda segundo ele, o enfrentamento da seca do Nordeste e a vigilância das fronteiras são alguns benefícios que Bolsonaro obterá de Israel com a aliança. A meta é levar 70 máquinas de dessalinização para o interior.
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Quem foi Oswaldo Aranha
O gaúcho Oswaldo Aranha, nascido em Alegrete (RS) em 1894 e falecido no Rio de Janeiro em 1960, é mais conhecido por ser a personalidade brasileira mais importante para a história israelense. Isso porque, então como chefe da delegação brasileira na então recém-fundada Organização das Nações Unidas (ONU), Aranha presidiu sua segunda Assembleia Geral, justamente aquela que definiu a partição da Palestina e a fundação do estado de Israel, em 1948.
Aranha inaugurou a antiga tradição da ONU de iniciar suas assembleias com o representante brasileiro e, mais do que presidir aquela histórica sessão, foi um dos principais responsáveis por derrotar, nos meios políticos, diplomáticos e intelectuais do país, a tese de que o Brasil deveria se abster na votação. Com isso, granjeou a admiração das comunidades judaicas e sionistas.
Entretanto, o episódio está longe de ser a única realização de Oswaldo Aranha em sua vida pública. Tendo sido um dos principais nomes da Revolução de 30, Aranha era muito próximo a Getúlio Vargas e vivenciou com o ditador brasileiro uma relação complexa de admiração e desentendimentos, sempre desfeitos. Aranha, por exemplo, não concordou com a decretação da ditadura do Estado Novo e se demitiu do cargo de embaixador, mas, logo no ano seguinte, em 1938, aceitou o convite para ser o Ministro das Relações Exteriores durante o regime.
Aranha, o Brasil na guerra e a redemocratização
Como ministro, Aranha foi uma das principais lideranças que levaram à entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados. O gaúcho mobilizou estratégias diplomáticas e foi exaltado por manifestações estudantis, inclusive com a confecção de seu busto em alegorias usadas em protestos no centro do Rio, por sua posição contrária aos setores militares do governo estadonovista, que eram germanófilos.
O marechal Eurico Gaspar Dutra era um dos germanófilos e Aranha chegou a integrar a recém-fundada UDN para apoiar, em 1945, o brigadeiro Eduardo Gomes contra ele nas eleições nacionais realizadas após o fim do Estado Novo, apesar do apoio de Vargas a Dutra. No entanto, em mais uma de suas idas e vindas, em 1953, já estava de volta ao varguismo como Ministro da Fazenda de Getúlio em seu mandato iniciado com a eleição de 1950. Encerrou sua carreira à frente da delegação brasileira na ONU durante o governo de Juscelino Kubitschek e foi agraciado com a Grã-cruz da Ordem Militar de Cristo em Portugal.
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