A cientista política Camila Rocha, que vem desenvolvendo uma pesquisa sobre a emergência do fenômeno da “nova direita” no Brasil, concedeu entrevista à Folha, publicada neste domingo (10). Na entrevista, ela comenta que os conservadores “falam mais alto” que os liberais na base de governo de Jair Bolsonaro. [1]
Apesar da equipe econômica marcadamente liberal de Paulo Guedes, a autora de “Menos Marx, mais Mises: uma gênese da nova direita brasileira”, tese de doutorado na Universidade de São Paulo que será transformada em livro pela editora Todavia ainda no primeiro semestre deste ano, Camila afirma que as opiniões conservadoras têm mais peso do que a plataforma liberal. Isso porque essa plataforma ainda não é bem aceita pela maioria da população.
“Do ponto de vista ideológico, o conservadorismo com certeza fala mais alto porque a maior parte da população ainda é refratária a um discurso ‘ultraliberal'”, ela comentou. A expressão “ultraliberal” foi usada, conforme ela mesma explica, como uma distinção dos “neoliberais”, que seriam economistas mais moderados na dose de convicção privatista, ainda que inclinados a ela.
Camila diagnosticou a presença de diferentes alas dentro do governo Bolsonaro disputando espaço e poder, entre os liberais, os militares e os que se apegam a um discurso mais conservador. Essa disputa deve durar, na interpretação dela, por pelo menos um ano, mas a cientista política acredita ser possível acomodar as alas e diz que o governo tem feito um esforço por cumprir as pautas prometidas em campanha.
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A relação de Bolsonaro com os “ultraliberais”
Camila Rocha explicou que, quando Bolsonaro foi para o Partido Social Cristão em 2016, um “militante ultraliberal”, Bernardo Santoro – atualmente assessor da Casa Civil do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel -, já estava no partido, era conselheiro econômico do Pastor Everaldo e presidente do Instituto Liberal. Ao mesmo tempo, Eduardo Bolsonaro cursou a pós-graduação em Escola Austríaca do Instituto Mises Brasil e Santoro assessorou a candidatura de Flávio Bolsonaro à prefeitura do Rio.
Já no final de 2017, Camila aponta que Rodrigo Constantino, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Liberal, sugeriu o nome de Paulo Guedes a Bolsonaro. “Então o Bolsonaro começa a frequentar esses circuitos, interagir com essas pessoas, esses ideólogos, se aproximar. Porque tinha muita desconfiança (em relação a) um militar, uma visão desenvolvimentista, nacionalista”, ela analisou. Essa aproximação permitiu a formação de uma coalização entre conservadores, militares e “ultraliberais”, que não está isenta de tensões e dificuldades.
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