As tensões internas no Ministério da Educação foram foco de atenções neste fim de semana, em especial entre admiradores do filósofo Olavo de Carvalho. Assessor do ministro Ricardo Vélez Rodríguez, um deles, Silvio Grimaldo, editor da Vide Editorial, pediu exoneração e denunciou uma pressão para expurgar alunos do pensador paulista do órgão.
“O expurgo de alunos do Olavo de Carvalho do MEC é a maior traição dentro do governo Bolsonaro que se viu até agora”, definiu Grimaldo na sexta-feira (8). No mesmo dia, ele informou que não foi pessoalmente expulso do ministério, mas que, após trabalhar com o ministro desde a transição, foi avisado por telefone de que seria transferido para a CAPES, “onde deveria enxugar gelo e ‘fazer guerra cultural'”.
Entendendo o cargo como “prêmio de consolação” e “vendo que o mesmo destino fora dado a outros funcionários ligados ao Olavo e mais alinhados com as mudanças propostas pela eleição de Bolsonaro”, ele não viu outra saída senão comunicar ao ministro seu desligamento e pedir sua exoneração. A partir daí, Grimaldo começou a fornecer mais detalhes, que reforçam um discurso que o próprio Olavo vem enfatizando nos últimos dias: a responsabilidade do setor militar do governo Bolsonaro por trás dessas decisões.
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As denúncias e a Lava Jato da Educação
Grimaldo, ainda na sexta-feira, elevou o tom e afirmou que poderia haver motivações ainda mais graves para o expurgo. De acordo com ele, a “Lava Jato da educação”, operação formalizada entre o ministério de Vélez e o da Justiça e Segurança Pública, capitaneado por Sérgio Moro, teria sido uma organização dos “olavetes do gabinete”. Quando ela foi anunciada, as ações da Kroton, “o maior grupo de interesse junto ao ministério”, despencaram 10% no dia seguinte e voltaram a subir na atual crise.
O ex-assessor tem convicção de que há uma pressão de lobistas e grupos de interesse desmobilizando a operação e isso teria sido a causa do “expurgo” de “olavetes” do MEC. Outro setor interno ao governo estaria sendo o agente principal dessa pressão: o setor dos militares, em especial na figura do coronel Ricardo Roquetti, que, segundo ele, “é quem toma decisões no MEC”. Grimaldo alegou inclusive que a imprensa está errada ao atribuir a ele e a outros alunos de Olavo o envio de uma mensagem oficial a escolas contendo o slogan do governo, uma das mais recentes polêmicas envolvendo o MEC. O responsável por deixar a mensagem como estava, com direito a solicitar a gravação de estudantes cantando o hino nacional, teria sido o próprio Roquetti.
“Pedi ao ministro e ao coronel Roquetti (…) que emitissem uma nota esclarecendo o fato e apontando os verdadeiros responsáveis pela trapalhada, salvando um pouco a dignidade e hombridade de ambos. Mas parece que honra militar é uma coisa que só fica da porta do quartel pra dentro e preferiram deixar correr a versão que justifica a desolavização do MEC”, afirmou Grimaldo.
O ex-assessor disse ainda que o coronel Roquetti tentou emplacar o diplomata Paulo Roberto de Almeida no Ministério das Relações Exteriores; depois que o diplomata foi exonerado pelo ministro da pasta, aluno de Olavo, Ernesto Araújo, o coronel poderia estar desarticulando os “olavetes” no MEC como forma de “retaliação”.
Quem é o coronel Roquetti
Aquele que, na visão de Grimaldo e de outros alunos de Olavo, é o “vilão da história” no MEC também chegou a ser aluno do filósofo até ser apresentado por ele à deputada Bia Kicis (PSL-DF). De acordo com um perfil feito pela revista Época, foi ela a responsável por apresentar o militar ao ministro Ricardo Vélez. [1]
O ministro o nomeou para a secretaria-executiva do ministério, cargo em que ele assistiu às nomeações de discípulos de Olavo de Carvalho sem manifestar qualquer oposição. “Ocorre que o voluntarismo dos olavetes bateu de frente com o autoritarismo do coronel. E, ao que parece, Olavo de Carvalho não ensinou seus alunos a ouvir muitos “nãos”. Daí a fritura pública que o professor deflagrou contra Roquetti”, diz a matéria.
Já Grimaldo tem outra versão. “Com o tempo, a influência do coronel sobre Vélez aumentou, e ele acabou abandonando qualquer pretensão de ter uma função específica dentro da estrutura ministerial. Perambulava pelo gabinete como a eminência parda do ministro, dando ordens, tomando decisões, indicando amigos para os cargos que vagavam. Era um poder imenso acompanhado de nenhuma responsabilidade”, descreveu.
Para ele, o coronel aproveitou a oportunidade da polêmica com a carta do MEC para se isentar da responsabilidade e “queimar” os alunos de Olavo, confrontando a influência do filósofo sobre o ministério. O MEC se tornou um palco barulhento de um confronto de forças que já inquietam a dinâmica interna do governo Bolsonaro. Resta ver as cenas dos próximos capítulos.
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