A formula é simples. Ligar a câmera, apertar ‘gravar’ e sair às ruas fazendo perguntas aos adversários políticos que, geralmente de esquerda, são atropelados pelas próprias respostas. Difícil mesmo é a coragem, a frieza ou a paciência de se expor diante de um séquito de adversários políticos nem sempre delicados com o divergente.
Foi com vídeos assim que Arthur do Val, hoje deputado estadual pelo DEM de São Paulo, conseguiu ampla visibilidade e mais de 2,5 milhões de inscritos em seu canal do YouTube, o “Mamãefalei”. Com algumas peculiaridades, o jovem Gabriel Monteiro, também ativista do MBL e de 24 anos, segue pelo mesmo caminho – e muito rapidamente. O primeiro vídeo dele no YouTube data de dezembro de 2018 e, por lá, já são quase 200 mil inscritos.
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Além de outra praça de atuação (Arthur é de São Paulo, Gabriel é do Rio de Janeiro), muda-se a profissão: enquanto Arthur, além de youtuber nas horas vagas, era empresário (ou vice-versa), Monteiro exerce a dura jornada de um soldado da polícia militar – profissão pela qual é apaixonado e não esconde nas redes sociais – e de um estudante de direito. Em um dos vídeos, argumenta contra professor que criticava a corporação.
Nas redes, além dos vídeos, exibe fotografias das operações e faz desabafos com seus mais de 300 mil seguidores sobre o dia a dia da tropa. Um deles data do dia 25 de março, quando relata que chegou ao batalhão e ouviu um discurso de um oficial aos seus subordinados. Sentiu-se incentivado:
“Essa é a função natural de um comandante de tropa, enxergar a humanidade do policial. Querer que os policiais sejam policiais de verdade, e não essa patifaria pretendida pela mídia é algo admirável”, afirmou, complementando em seguida que não se deve “achar normal o Estado não ter acesso livre em determinados morros cariocas”. [1]
O Boletim da Liberdade conversou com Gabriel Monteiro na conferência estadual do Movimento Brasil Livre do Rio de Janeiro, que ocorreu no último sábado (13) na Barra da Tijuca. Dentre outros questionamentos, perguntamos sobre a que atribui tanto sucesso e sobre a possibilidade de ingressar na carreira política. Nos bastidores, corre-se a informação de que será a principal aposta do MBL para eleger seu primeiro vereador no Rio. Confira:
Ao que você credencia tanto sucesso que faz nas redes sociais?
É uma ótima pergunta. São inúmeros fatores que eu consigo identificar, como, por exemplo, ter uma equipe forte. Tenho uma equipe muito forte que me ajuda, isso é constante. Tanto na elaboração das minhas pautas, no controle [das redes sociais], na conversa.
É muito importante estar bem consigo mesmo, equilibrado. Graças a função da minha equipe de deixar algo mais parcimonioso, fica possível eu conseguir fazer esse meu trabalho tanto na militância do Facebook, como nos estudos, como na Polícia Militar.
Ou seja, conseguir conciliar. Mas também atribuo [o sucesso] ao momento novo que estamos vivendo no país, quando as pessoas querem renovação. Todo o trabalho que a gente está fazendo é em prol de uma renovação. Por isso, esses dois fatores estão me ajudando nessa ascensão na internet.
Quais, na sua opinião, são os maiores mitos hoje difundidos sobre ser policial?
Primeiro, que todo policial é corrupto. Isso é uma mentira – eu sou um exemplo. Segundo, que a polícia é despreparada. A Polícia Militar [do Estado do Rio de Janeiro, a PMERJ] é um exemplo para o mundo. A polícia de Israel vem aqui treinar com os nossos policiais militares. A polícia dos Estados Unidos, a polícia da Finlândia, a polícia da Colômbia também… atribuir, portanto, um despreparo na polícia é uma grande mentira. O que há é um sucateamento nos meios.
Nós não temos os meios estruturais apropriados para se combater a criminalidade no Rio de Janeiro. Isso eu corroboro, é uma verdade. Mas dizer que o policial militar é despreparado é um argumento natimorto, uma vez que até polícias exemplares vêm aqui aprender um pouco mais sobre como exercer o serviço policial em áreas conturbadas.
Então o grande problema da segurança pública para você é esse sucateamento?
Um dos grandes problemas. Não quero ser tão taxativo. Mas há dois elementos aí – o primeiro é a falta de erário público. Ou seja, falta de dinheiro para que a polícia possa comprar equipamentos necessários. Também há uma ideologia que não é tão bacana com os policiais militares. Isso afeta na esfera política e todo o embrolho que nós vivemos é político. Não da para negligenciar, esquecer da política.
Além de muitos mitos, há também a não concordância para que a política seja mais combativa. Isso atrapalha muito para que a polícia tenha a estrutura necessária, tenha um serviço qualificado conforme é necessário. Porque qualificado é, mas ainda está aquém do que deveria ser pela falta de estrutura.
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Você pretende ser candidato nas eleições municipais de 2020?
Eu penso hoje em ser ativista político. A política é um meio de você conseguir angariar mudanças. É na política, não na revolução, não no culto ao passado. A política é um instrumento para a mudança. É na política em que eu vou fazer a proposição de uma lei, é na política onde vou mostrar os direitos, os deveres. É na política em que eu vou conseguir fazer uma votação em prol da sociedade. Portanto, a política é um instrumento muito maneiro, bacana, necessário, indispensável.
Mas, hoje, eu penso mais em ser ativista político a ficar pensando se serei candidato em 2020. Se isso acontecer, bacana. Mas quem vai decidir não vai ser eu, o Gabriel Monteiro, a minha equipe, nem o MBL. Quem vai decidir vai ser o povo.
Já que você falou do MBL, e já que estamos no evento do MBL, o que você mais gosta da entidade?
É isso aqui, olhe só [apontando para os lados]. Nós estamos em um momento de descontração. Um intervalo. O Renan [Santos, cofundador do movimento] está logo ali, conversando com a galera. O Kim Kataguiri, hoje deputado federal, está andando por aí na rua com o pessoal. O [Fernando] Holiday, que é vereador [de São Paulo], deve estar ali jogando um game com o pessoal. O Rubinho Nunes, o advogado do MBL, cara fantástico, deve estar conversando sobre política e direito com o pessoal de 20 anos.
Ou seja, essa simplicidade é algo bastante inenarrável. Só você vindo aqui! Quando você vê um cara que é deputado federal tomando sorvete na rua com a galera… humilde mesmo. É essa simplicidade, não-formalidade, esse jeito de fazer politica para o povo. Não é apenas para o jovem, embora ele seja muito atendido. Mas é para o povo verdadeiro. É viver, é a política do corpo a corpo, não é aquela coisa da internet. É chamar para conversar, até a pessoa ser convencida a dizer: “Olha, realmente, eu não pensava dessa forma”.
Quando você vê um cara que é deputado federal tomando sorvete na rua com a galera… humilde mesmo. É essa simplicidade, não-formalidade, esse jeito de fazer politica para o povo que me atrai.
Essa variável que é o MBL, que não tem um dono, grandes ensinamentos. O MBL é um movimento que vai indo em prol da sociedade. Isso satisfaz muito meu anseio por política e eu estou muito feliz de estar aqui.
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