A deputada federal Tabata Amaral (PDT/SP), cofundadora do movimento “Acredito” e um dos símbolos de renovação da nova legislatura, afirmou em discurso divulgado na última segunda-feira (20) sentir orgulho pelo partido no qual está filiada. Em sua fala, a parlamentar defendeu ainda figuras históricas de esquerda ligadas a ele, como Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, além de Ciro Gomes, candidato a presidente pela legenda em 2018. [1]
“Somos o partido da educação. Não se esqueçam disso. Não tem nenhum outro partido desse país que pode falar isso. Quem mais tem Brizola? Quem mais tem Darcy Ribeiro? Quem mais tem Ciro Gomes? Então, se a gente não lidera esse processo, se a gente não ocupa as ruas, ninguém mais vai fazer isso”, defendeu Tabata, também em referência aos protestos ocorridos na última semana que, segundo ela, Bolsonaro teve medo.
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A parlamentar ainda considerou 2019 como “o ano mais difícil que a educação já viveu nas últimas décadas” e disse não acreditar em marxismo cultural.
“O ministro atual está travando uma guerra contra o que ele chama marxismo cultural que, na minha cabeça, nem existe. Só que nessa guerra ele está tirando dinheiro de pesquisa e acabando com o futuro do nosso país”, opinou, defendendo ainda que em 2020 o partido tenha “uma galera que é negra, periférica e LGBT” como candidatos.
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Brizola e Darcy Ribeiro
Para o advogado Rodrigo Mezzomo, liderança política do Rio de Janeiro e ativista pelas candidaturas independentes, as referências citadas por Tabata não poderiam ser piores. Segundo ele, a política educacional do ex-governador e fundador do PDT, Leonel Brizola, foi “escorada no antrópologo Darcy Ribeiro” e resultou em um “verdadeiro desastre”.
“Brizola foi o que de pior poderia acontecer no Rio de Janeiro. Ele significou a ascensão da esquerda populista dominando o estado, gerando uma gama de atores políticos que dominaram [a política local] depois dele. Brizola foi um verdadeiro desastre e se escorou no campo educacional em Darcy Ribeiro, que fazia bem o gosto da intelectualidade esquerdista dos anos 1970, 1980 e 1990. Ele representava uma visão da educação a la Paulo Freire que dominou o Rio de Janeiro. Se a política tivesse tido alguma eficácia, o Rio de Janeiro hoje apresentaria muitos resultados. Se a semente plantada lá atrás nas duas gestões de Brizola fossem boas, os frutos estariam maduros hoje”, opinou.
Ainda sobre a política educacional do PDT de Tabata implantada no Rio de Janeiro entre 1983 e 1987 e entre 1991 e 1994, Mezzomo explica que o projeto de Brizola foi cumprido à risca.
“O discurso de que o projeto foi descaracterizado pelos sucessores de Brizola não se sustenta nos fatos. Os governantes que assumem o estado [do Rio de Janeiro] depois foram pessoas que tinham ainda fortes vinculações com o Brizola e com as políticas de seus governos. Em relação aos próprios CIEPs [Centro Integrado de Educação Pública, projeto-síntese de Brizola e Darcy], muitos não foram continuados porque o próprio modelo era desastroso. Aqueles que tinham uma mínima intimidade com o campo educacional percebem que a obra do CIEP era ruim do ponto de vista arquitetônico, ruim do ponto de vista de estrutura acadêmica, o próprio local em si onde eram instalados era terrível para a educação. Toda a estrutura foi pensada por gente que não era da educação. Era a visão bem típica de comunista, que achava que as coisas eram resolvidas de cima para baixo, sem conceber as reais necessidades de base. Visava padronizar centenas de construções sem saber o que queriam os professores, tampouco as demandas de cada localidade”, disse.
Sobre Tabata, Mezzomo classifica que ela “desperta atenção da mídia na medida em que cumpre o script e é um bom exemplo daquilo que a mídia deseja”.
“A mídia revive, digamos assim, a trajetória adaptada ao século 21 daquela visão do Lula, operário, que sai da pobreza do Nordeste, vira líder sindical e olha, supostamente, para os pobres. Agora, é a mesma trajetória, com roteiros diferentes, épocas diferentes, contextos diversos, mas guarda similaridades: a pessoa pobre que, em um determinado momento, ascende na vida e, agora, tem preocupação com os pobres. Esse discurso faz muito sucesso no Brasil e tem muito eco na mídia. Tabata preenche com perfeição e louvor a personagem que a mídia quer”, opinou.
Para Mezzomo, o perfil de Tabata atrai atenção do público “isentão” – alguém que, segundo ele, quer se sentir “moderno, progressista, descolado, que está pensando pra frente” e, mesmo sendo de esquerda, não quer ficar com “o ranço de Manuela D’Avila ou do PT”.
“Ela consegue estruturar muito bem aquilo que satisfaz ao isentão, para deixar de forma bem clara – aquele sujeito que não é um esquerdista radical, mas tem suas convicções sociais-democratas e possui uma agenda de centro-esquerda. O isentão não se sente confortável em votar em uma esquerda mais radical, mas se à vontade para votar em uma figura como a Tabata. Porque o isentão se julga isento, de centro, com aquele discurso de que ‘o que importa são as melhores ideias’ e ‘esquerda e direita’ não classificam mais e não tem importância. Em 99,9% das vezes, essas pessoas são de esquerda. Para completar, Tabata faz o discurso vazio da educação. Resta a pergunta: quem é contra a Educação? A não ser que seja um psicopata, ninguém é contra a educação. O problema é que tipo de educação nós estamos falando – e isso ela não diz nunca”, conclui.
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