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‘Temos no Brasil uma ciência inócua, feita para discutir só o estado da arte’, diz editor-chefe da Revista Mises

Adriano Paranaíba relata em entrevista ao Boletim suas experiências como editor da primeira revista acadêmica com viés da escola austríaca do Brasil, além de avaliar as perspectivas da produção científica do tema
Adriano Paranaíba é o editor-chefe da revista Mises (Foto: Boletim da Liberdade)

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O liberalismo econômico no Brasil tem aumentado a visibilidade ao longo dos últimos anos, seja na esfera política, seja na esfera cultural. Contudo, a esfera acadêmica é um dos poucos lugares em que as ideias liberais ainda se encontram incipientes e pouco disseminadas. Em meio a um cenário intelectual com o predomínio de ideologias anti-liberais, coletivistas e intervencionistas, do marxismo ao keynesianismo, o lançamento da Revista Acadêmica Mises em 2013 foi uma iniciativa pioneira em lançar o pensamento liberal ao debate acadêmico.

Orientada pelo pensamento de Escola Austríaca de economia, a Revista Mises tem se notabilizado pela interdisciplinaridade, indo da filosofia, direito a economia, bem como pelo rigor de qualidade na produção científica de artigos, voltados seja para o pensamento teórico do liberalismo, seja para propostas práticas de políticas públicas no país.

O editor-chefe da Revista Mises, professor e doutor em economia da UnB, Adriano Paranaíba, que foi palestrante da VI Conferência de Escola Austríaca realizado na Universidade Mackenzie, concedeu entrevista exclusiva ao Boletim da Liberdade. Na conversa, realizada durante a conferência, o professor relata as suas experiências como editor do primeiro periódico acadêmico de Escola Austríaca no Brasil, além de avaliar as perspectivas da produção científica da Escola Austríaca. Paranaíba também realiza uma breve introdução à sua obra recém-lançada, Transportar é Preciso – Uma proposta Liberal. A obra, lançada durante a Conferência, discute soluções de infraestrutura para o transporte público brasileiro, baseados no arcabouço teórico austríaco.

Boletim da Liberdade: Como você avalia as perspectivas da Escola Austríaca no Brasil, no aspecto de pesquisa e por que a Escola Austríaca é relevante de se estudar e pesquisar, nesse ponto de vista?

Adriano Paranaíba: A Escola Austríaca tem toda uma perspectiva positiva a seu favor para se fazer uma pesquisa científica. O primeiro ponto é que ela é a escola de economia mais antiga que nós temos, é a que tem mais tradição e com mais pesquisadores ao longo do tempo, mantendo a tradição mengeriana. E se ela é tão importante assim no contexto histórico, não é só pela questão histórica, mas porque muitos autores vem trazendo perspectivas modernas para a leitura da Escola Austríaca. Nesse sentido, ela vai realmente contribuindo em favor de um novo cenário que vai surgindo no Brasil.

Nós estamos vendo que esse cenário está sinalizando abertura para ideias mais liberais, e como a Escola Austríaca tem esse fôlego, essa produção acadêmica sobre a discussão econômica, cabe muito bem trazer a Escola Austríaca para a discussão. Uma discussão não só de pesquisa, mas de pesquisa aplicada, pra você discutir dentro da sua possibilidade de trazer para políticas governamentais, propostas de políticas públicas. E aí acaba com esse problema que nós temos no Brasil, que é uma ciência inócua, uma ciência que é feita para discutir só o estado da arte. A gente realmente tem uma capacidade muito grande de trazer a Escola Austríaca para a realidade, e manter o perfil e o padrão científico dessa ciência.

Boletim da Liberdade: A Revista Acadêmica Mises é pioneira no país em trazer uma abordagem de pesquisa exclusivamente em Escola Austríaca. Como Editor-Chefe, como você acha e avalia a produção científica que vem sendo produzida na Revista Mises?

Adriano Paranaíba: A Revista Mises realmente vem sendo uma importante produção acadêmica. Ela já está chegando no seu sétimo ano, e com uma nova perspectiva e um novo ciclo de acompanhar essa modernidade. Então, ela traz dentro de si esse paradoxo. Da gente conseguir trazer o antigo, as propostas seculares, não só dos austríacos, mas também dos próprios proto-austríacos, que é uma discussão acadêmica, além de também manter a modernidade para comunicar a ciência. Então, a revista acadêmica está enfrentando e conseguindo vencer a modernidade, pois antigamente na produção científica você publicava para divulgar.

Agora você precisa divulgar e publicar. Você precisava imprimir o periódico para começar a divulgação. E hoje a ciência moderna trabalha o contrário, ou seja, você divulga e aí você parte para a divulgação dos fascículos e dos volumes. Então, a revista acadêmica está se adaptando. A Revista Mises passou por fortes mudanças durante o ano passado, para se adaptar a esse novo cenário de como produzir ciência na realidade da internet. E isso faz toda a diferença, porque nós temos uma revista que consegue alcançar o público e manter o padrão de máxima qualidade em produção científica.

Ubiratan Iorio (à esq.) e Adriano Paranaíba (à dir.); ambos são quadros do Instituto Mises Brasil, que visa difundir o ideário da Escola Austríaca no país (Foto: Boletim da Liberdade)

Boletim da Liberdade: A produção científica de Escola Austríaca envolve não somente a questão de trabalhos teóricos, como também contribuições de políticas públicas para o Brasil. Você foi autor do livro Transportar é Preciso – Uma proposta liberal, lançado durante a VI conferência de Escola Austríaca. Como é que você avalia esse estudo e como a Escola Austríaca pode contribuir para as políticas públicas no Brasil?

Adriano Paranaíba: Esse é um grande diferencial também pouco citado sobre a Escola Austríaca. É interessante que o título do nosso periódico justamente traga esse diferencial. Nós somos uma ciência interdisciplinar em filosofia, direito e economia. Então, não é uma ciência econômica propriamente dita, muito em função da perspectiva praxeológica que Mises analisa. Nós precisamos fazer uma discussão de várias esferas dentro de uma mesma análise, não só economia, como também direito e filosofia.

Toda essa discussão faz parte do escopo metodológico da Escola Austríaca. Isso faz a diferença porque facilita-se aplicar isso realmente para as políticas públicas. Meu exemplo como pesquisador torna isso muito enfático e bem apresentado. Você pega a Escola Austríaca e aplica em uma discussão de transportes – um mercado onde aprendemos que é um lugar onde você tem monopólios naturais e bens públicos. Depois, faz-se uma discussão de como você vai trazer para a sociedade uma melhor oferta de infraestrutura com ideias liberais.

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