Candidato à reeleição, o presidente argentino Mauricio Macri – considerado de centro-direita – se viu em maus bocados na última segunda-feira (12) com o resultado das primárias argentinas. Embora já não fosse surpresa que ficaria em segundo lugar, com 32,08% dos votos válidos, surpreendeu a perigosa vantagem obtida pela chapa rival de esquerda composta por Alberto Fernández e Cristina Kirchner (47,65%), que passou a ter a possibilidade de ganhar a eleição em primeiro turno nas eleições de outubro. Ao longo da semana, para tentar virar o jogo e argumentando que entendeu “o recado das ruas”, Macri usou sua caneta para anunciar medidas intervencionistas como o congelamento de preços e aumento salarial – o que suscitou críticas inclusive no Brasil.
Mesmo após ter feito um governo fraco, com reformas insuficientes e não ter controlado os problemas econômicos herdados por Cristina Kirchner, Macri acredita ter pelo menos duas cartas na manga a serem usadas a seu favor. A primeira é arrastar a disputa para o segundo turno, na esperança de obter endosso de outras alianças que não querem a volta do kirchnerismo. A segunda é explorar cada vez mais o apoio da comunidade internacional: em especial, do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que ameaça até sair do Mercosul com a volta da esquerda ao poder na Argentina. Macri, no entanto, não é o único – nem o mais – à direita no pleito. Neste campo, destaca-se a “Frente NOS”, cujas semelhanças com o programa de Jair Bolsonaro são até mais nítidas.
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Liderada pelo oficial do Exército Argentino Juan José Centurión, veterano da Guerra das Malvinas e ex-vice-presidente do Banco de la Nación Argentina (estatal) entre 2017 e 2019, a coligação tem como principal legenda associada o Partido Conservador Popular. Assim como a campanha presidencial brasileira que foi vitoriosa, a frente não economiza em menções a Deus, promete “resgatar a Argentina”, a valorização da pátria e amplas reformas de Estado: plataforma, no entanto, que fez nas primárias argentinas ficar com apenas 3% das intenções de voto. Abaixo, o Boletim selecionou alguns pontos do programa defendido pela coligação:
Família
A “Frente NOS” promete abordar “os problemas sociais a partir da perspectiva da família” para ser uma resposta à “nefasta tendência dos últimos anos dominada pela ideologia de gênero”. No caderno de propostas para a saúde, a frente promete ainda “ensinar valores desde a mais tenra idade, priorizando a defesa da vida desde a concepção, o amor pela pátria, seus símbolos e sua história” e a “liberdade de criação e livre autonomia dos pais de escolherem como educar os filhos”. De viés conservador, o programa promete ainda legislações para controlar conteúdos audiovisuais por meio de “organismos independentes” com ênfase na regulação de televisão e publicidade.
Estado e Economia
Assim como o ministro Paulo Guedes promete, em seus discursos, uma mudança do modelo social-democrata brasileiro para uma economia liberal, a chapa de Centurión advoga por uma “mudança no sistema” em vez de esforços para “administrar [o atual] melhor”.
“Nós reformularemos o Estado para que ele faça bem o que deve fazer e pare de fazer o que não deve fazer e faz errado, acompanhado pela prática necessária de austeridade”, diz o texto da plataforma, que critica ainda os altos custos políticos e a carga tributária. “Buscar o equilíbrio fiscal com gastos públicos desordenados implica sufocar o setor produtivo para sustentar burocratas cada vez mais ricos e corruptos”, defende o programa.
Nessa seara de reforma do Estado, a “Frente NOS” promete ainda um tripé econômico hermano baseado em qualidade institucional, disciplina fiscal e disciplina monetária, com redução de gastos e reforma tributária. A chapa deseja a instituição de um Banco Central independente do Poder Executivo e até cancelar o curso forçado da moeda nacional. “O peso deve ser mais uma moeda que as pessoas podem usar”, diz o texto, que defende uma política cambial “flutuante e limpa”.
Defesa e Segurança
Para combater a criminalidade crescente no país, o programa da aliança defende “maior severidade legal”, sem especificar, para “assassinatos e crimes maliciosos”, construção de prisões de segurança máxima e a implementação de um plano de segurança integrada. Aborda ainda a necessidade de reforçar as Forças Armadas argentinas em número de soldados, equipamentos e missões internacionais, argumentando a importância de manter a soberania nacional.
No que tange à Guerra das Malvinas, o programa cita apoio aos veteranos de guerra e a concessão a eles do “Museu das Malvinas” visando “eliminar definitivamente a abordagem atual, caracterizada pelo seu viés ideológico”. Nacionalista, o projeto promete ainda uma “política firme com o Reino Unido sobre a usurpação de nosso território”, incluindo a revisão de acordos.
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