O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (NOVO), foi alvo de críticas em círculos do meio liberal após defender, em entrevista ao jornal O Tempo na última segunda-feira (16), que o Estado “gaste mais do que arrecada” em tempos de recessão.
Na entrevista, o primeiro governador eleito pelo partido fundado por João Amoêdo afirmou ainda que é “totalmente contrário ao socialismo ao extremo e ao capitalismo ao extremo”, que é preciso ter um “Estado que regulamente”, bem como atue na “segurança, saúde, educação e parte da infraestrutura que só cabe a ele”.
Nas redes sociais, o Instituto Liberal Paulista (ILISP) afirmou que o “Estado não tem que ‘gastar’ mais numa recessão” porque “a ampla maioria das vezes a recessão foi criada justamente pelo Estado ganhando mais”. “Este ‘mais’ vem do bolso dos trabalhadores que já enfrentam a recessão”, complementou a organização. [2]
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Quem também criticou a fala de Zema foi o empresário Roberto Rachewsky, um dos pioneiros do movimento liberal brasileiro que surgiu nos anos 1980. Rachewsky classificou o raciocínio como “tese furada” de que os governos devem promover ação anticíclica.
“O Partido Novo deveria instituir um curso de economia liberal para quem se diz liberal na economia. Quando governos gastam mais do que arrecadam, ou estão se endividando, ou estão criando inflação”, ponderou.
Para o especialista, Zema descreveu-se na entrevista “não como um liberal na economia, mas como um interventor social-democrata keynesiano”, e avaliou que o governador mineiro poderia entrar “para o time de Elena Landau ou da [ex-presidente] Dilma”. “Estar no partido Novo não garante ao político dominar os fundamentos que tornarão o Brasil uma nação livre e próspera”, observou. [3]
“O simples fato de dizer que, entre o socialismo e o capitalismo, ele fica no meio do caminho porque acha que o governo deve regular, já prova que ele não sabe o que capitalismo significa e tampouco o que o socialismo, mesmo a meio caminho, pode causar”, concluiu Rachewsky.
Confira, abaixo, a íntegra da pergunta e da resposta feita a Zema:
Pergunta do jornal “O Tempo”: “O senhor se apresenta como um liberal. A gente vê muitas vezes os liberais renegando o que é o Estado. Não seria talvez a solução do meio do caminho, entre a negação do Estado e a presença de um Estado forte?”
Resposta do governador: “Tenho plena ciência da importância do Estado. Não dá para o Estado deixar de fazer as suas principais atribuições: segurança, saúde, educação e parte da infraestrutura que cabe a ele. Só o que nós queremos combater é um excesso de intervencionismo e de privilégios. No Brasil, nós temos cidadãos de primeira categoria e de segunda. Com todo mundo com quem eu já trabalhei no setor privado ninguém nunca teve férias de dois meses. Por que no setor público tem gente que tem férias de dois meses? Por que tem gente que tem um punhado de penduricalho? Você tem bolsa-livro, bolsa-creche, bolsa-escola? Não tem. Então, eu sou contrário a isso. Na minha opinião, quem trabalha no setor público tem que ser remunerado adequadamente, mas sem privilégios.
No Brasil, algumas categorias do setor público e algumas do privado sempre usaram o Estado em benefício próprio. O Estado no Brasil sempre foi, de certa maneira, manipulado para privilegiar algumas categorias públicas e privadas. Eu quero que o Estado reverta serviços para quem paga impostos, e todos pagam. O pobre, muitas vezes, paga até mais. Outro dia mesmo fui a um lugar. Estava de carro, parado e vi uma senhora comprando alimento e devolvendo parte porque o dinheiro não deu. Você via claramente que ela estava levando menos do que gostaria para os filhos pequenos. Isso ocorre porque nós pagamos impostos demais. Se fosse menos caro o alimento, ela teria levado coisa que a atenderia melhor. Então, que fique claro, eu tenho ciência (da importância do Estado). E não sou nenhum extremista.
Sou totalmente contrário ao socialismo ao extremo e ao capitalismo ao extremo. Precisamos ter um Estado que regulamente, que dê certa segurança. E o Estado é importantíssimo na atividade econômica numa época de recessão. Numa época de recessão, ele tem que gastar mais do que arrecada, pra fazer aquela questão da atividade anticíclica, fazer a economia se recuperar. Agora, em tempos normais, o Estado tem que estar acumulando poupança para poder, quando chegar uma época difícil, ele fazer o papel dele. E no Brasil nós nunca tivemos essa responsabilidade.”
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