Eleito com 45.298 votos pelo Partido Novo, Alexis Fonteyne é engenheiro mecânico por formação e empreendedor por vocação, tendo desde jovem buscado empreender. Sua entrada na política se deu a partir do momento em que começou a fazer vídeos no seu canal do YouTube, mostrando a razão por que é difícil empreender no Brasil.
Paralelamente, foi às ruas com seus filhos e uma vassoura para demonstrar a indignação com a política brasileira naquele momento. Antes da crise do coronavírus, Alexis Fonteyne foi entrevistado pelo Boletim da Liberdade. Confira:
Boletim da Liberdade: Qual foi sua grande motivação para ser candidato e por qual razão?
Alexis Fonteyne: A motivação veio naturalmente. Foi um processo que não teve uma data marcada. Eu havia criado em Campinas (SP) um movimento de rua chamado “a turma da vassoura”, que, friso, não tinha nada a ver com Jânio Quadros. A vassoura era no sentido “limpa Brasil” e surgiu no momento daquelas primeiras manifestações, em 2013.
A atitude surgiu de uma maneira tão natural, tão espontânea, o brasileiro estava tão revoltado com o que nós estávamos fazendo, de tanto trabalhar, e eu já tinha a minha empresa e já passava por todas loucuras que é tentar empreender no Brasil e vendo o escárnio que estava na mídia, os roubos de Correios, Petrobras, os políticos se protegendo, era uma coisa que se você não tem “sangue de barata”, você tem que fazer alguma coisa.
E eu naquele momento comprei quatro vassouras, eu tenho três filhos homens, eu vi que a minha mulher naquele momento não ia pra rua por que ela tem medo de confusão e tudo mais, mas o meu (filho) menor tinha 12 anos e aí eu falei “vamos pra rua” e ele perguntou pra quê e eu disse “confia no teu pai, que nós estamos indo lutar pelo Brasil”.
E era engraçado por que a gente fez um cartaz com uma pauta de tudo. Sabe aquela pauta mais difusa, eu só não pedi o final da tomada de três pinos por que não cabia mais, mas era muito engraçado isso. E isso foi crescendo, uma coisa natural.
Nesse meio tempo, por acaso, eu conheci o partido NOVO, na rede social, no Facebook apareceu o NOVO e eu perguntei “o que que é isso?!” e comecei a descobrir que tinha esse partido, comecei a lutar achando que era uma ferramenta pra gente poder mudar, porque pra mim, dos outros partidos, nenhum dava o bom exemplo, eles não conseguiam fazer uma auto-crítica, não conseguiam depurar, eles não conseguiam cortar na própria carne se, alguém dentro do próprio partido, tivesse feito alguma coisa, ou seja, sempre tinha um discurso mas quando vinha o corporativismo ele era mais alto que o discurso.
Quando veio o partido NOVO eu falei “bom, aqui está uma ferramenta” e estava alinhado com questões liberais. E aí, é engraçado, que foi o momento que eu descobri que existia uma teoria liberal eu nem sabia que existia Mises, não sabia que existia Hayek, não sabia nada dessas teorias liberais. Mas, naturalmente, pelo meu ambiente familiar e pela minha forma de ser empreendedor, aquilo começou a virar música pros meus ouvidos, comecei a entender, e eu falei “bom, então esse é o meu partido”.
E eu já tinha começado a fazer alguns vídeos na época de como é difícil empreender no Brasil. Um deles teve uma repercussão muito grande e me surpreendeu demais, mas por que era uma declaração totalmente espontânea, natural, e muito fiel, de alguém que está de saco cheio do Estado que nunca deixa a gente acertar, que está sempre punindo quem está empreendendo, sem nenhuma razão e sem nenhum poder na mão de fiscais que na época tinham multado um caminhão meu, completamente discricionário. E eu nem culpei o fiscal porque o fiscal têm leis para poder usar como ferramenta.
E aí, é engraçado, que foi o momento que eu descobri que existia uma teoria liberal eu nem sabia que existia Mises, não sabia que existia Hayek, não sabia nada dessas teorias liberais. Mas, naturalmente, pelo meu ambiente familiar e pela minha forma de ser empreendedor, aquilo começou a virar música pros meus ouvidos, comecei a entender, e eu falei “bom, então esse é o meu partido”.
E as pessoas começaram a perceber que sabia me comunicar, perceberam que eu tinha uma pauta, e aí alguém falou pra mim “cara, você não quer ser deputado federal?” e eu pensei no final do ano “por que não?”. Aí comecei a montar um plano e a coisa foi acontecendo, percebi a oportunidade de defender essa pauta, com defesa ao empreendedorismo no Brasil, virei um Mister M do empreendedorismo.
Porque essa coisa do empreendedorismo, quando você vai nas redes sociais, sempre tem alguém que quer vender alguma ilusão “faça o meu curso e seja um empreendedor… faça isso e seja empreendedor” e eu falei que não seria nada disso e que, de forma generosa, eu vou ensinar a fazer cálculos.
Então foi um processo que foi acontecendo, não era programado. Não era uma ambição minha de ser candidato, ser deputado. Mas quando eu percebi que tinha chances e relevância e aí ter a chance de falar aqui (se referindo à Câmara dos Deputados), tudo que eu sempre quis falar mas eu nunca tive espaço e essa tem sido, talvez, a coisa que mais tenho tido prazer de ser deputado federal. Então foi um processo contínuo, não muito programado; quando fizeram a oferta, aí sim montei um planejamento, como engenheiro que sou, montei um plano e fui executando.
Boletim da Liberdade: Suas expectativas para o primeiro ano de mandato foram superadas?
Alexis Fonteyne: Foi um ano, para mim, o mais complicado dos oito deputados do partido NOVO. Por que eu acabei tendo um primeiro momento desagradável que foi a história do auxílio moradia que foi algo absolutamente inédito por que eu fiz campanha dizendo que pra mim, no setor privado, você mudar para outra cidade não é um privilégio, é parte do custo que você não têm na sua cidade. Então o conceito de privilégio, pra mim, não é na iniciativa privada e foi uma descoberta, uma surpresa, quando não estava naquele contrato que eu tive que assinar com o partido NOVO.
Teve um segundo contrato que ninguém levou a sério, eu nem discuti aquilo, as pessoas diziam que não assinasse aquilo, por que era bobagem e não tinha nada a ver. Então teve um ruído, uma falta de comunicação, uma desorganização do partido NOVO, nos diretórios nacional e estaduais. E aí teve esse desgaste nesse começo que foi besta, bobo, foi desnecessário; com uma conversa clara e franca teria resolvido isso e a coisa foi desgastando, desgastando e eu estava convicto de que não estava errado e quando eu estou convicto de que não estou errado, aí eu sou cabeça dura mesma, por que é muito complicado você começar a abrir mão de valores porque uma maioria diz que você está pensando errado. E vamos falar como hoje me sinto um liberal empírico, por não ser teórico, me considero empírico e daqui a pouco todo mundo fala que está errada a sua teoria de liberdade e você vai ter que abrir mão por que a maioria fala? Não, o seu valor é seu valor. Você tem que defender ele com unhas e dentes, então teve esse primeiro desgaste.
Depois teve um segundo desgaste que eu montei mal o meu gabinete por que todo mundo falava que era assim que precisava fazer, e aí perguntava “por que é assim que eu tenho que fazer?!”. Tanto que hoje eu estou com um gabinete legal, mas tive problemas assim de funcionamento.
Teve uma matéria que eu peguei, azeda, sobre representantes comerciais, que também os caras vieram batendo em cima, então eu diria que o começo, apesar de ter traçado metas muito claras, do meu mandato, ter feito planejamento estratégico, o começo não foi muito bom, um começo confuso.
Mas a minha meta, e eu falei isso, muito, quando descobri o resultado eleitoral e o pessoal dizia “você não esta feliz, não está contente? Não está pulando aí de alegria, por que virou deputado federal?” e eu falei “olha, beleza, agora sou deputado federal, mas eu vou estar muito contente mesmo na hora em que eu começar a entregar os resultados que a gente propôs na campanha, porque aí sim a gente atingiu o projeto. Agora só ganhei a eleição e entregar eu acho que será uma tarefa muito mais árdua. É obvio que é muito pretensioso meu achar que no primeiro ano vou entregar um monte de coisas, o que eu entreguei no primeiro ano foram as propostas que a gente queria que avance, que tem que avançar.
Então o que eu acho que foi muito bom? Eu fui o primeiro deputado que levantou a bandeira do e-social, Bloco K, todo esse socialismo dentro do Ministério do Trabalho ou da Receita Federal que impõe dificuldades para o empresário brasileiro.
Eu lembro que fui numa reunião em que os caras diziam “esse negócio do e-social está todo mundo falando mesmo”, eles nem sabiam o que era e-social, a equipe que tinha assumido, não vou falar o cargo porque acho que vai pegar mal. Quando o Guedes descobriu o que era o Bloco K, ele disse que isso precisava acabar na hora e a notícia que tenho é que está acabando e vai ficar apenas para alguns produtos seletivos.
Então o que eu acho que foi muito bom? Eu fui o primeiro deputado que levantou a bandeira do e-social, Bloco K, todo esse socialismo dentro do Ministério do Trabalho ou da Receita Federal que impõe dificuldades para o empresário brasileiro.
Fomos atrás do programa Jovem Aprendiz, fomos atrás também da norma regulamentadora que atrapalha o empreendedor, fomos atrás da reforma tributária, que era algo muito intenso. Então assim, eu acho que não entregamos tudo o que nós queríamos nesse primeiro ano, mas nós startamos tudo o que a gente quer e eu acho que a entrega do primeiro ano é começar tudo isso, porque a gente sabe que o processo democrático é lento.
A gente lutou pela relatoria da reforma tributária, mas o partido NOVO não ia ter esse espaço para essas relatorias grandes agora, os partidos mais antigos que hoje ainda têm o protagonismo, eles não vão dar pro NOVO facilmente.
Então eu acho que conseguimos cumprir; poderíamos ter feito mais sem dúvidas, mas é uma curva de aprendizado enorme. Eu era engenheiro, agora estou praticamente virando advogado constitucionalista. Ter que aprender de tributarista, é um outro mercado, eu estou lendo dez vezes mais tudo o que eu lia como engenheiro.
Boletim da Liberdade: E qual a sua expectativa para o segundo ano de mandato?
Alexis Fonteyne: Tenho uma expectativa forte para o primeiro semestre, que é passar a reforma tributária, muito foco nisso e a gente sabe que várias coisas em que nós estamos ajudando o governo, como a desburocratização, e-social, desburocratização do bloco K, vão acontecer. A carteira verde e amarela, que é essa nova reforma trabalhista, nós estamos em cima disso, tem muita coisa boa la dentro, coisas antigas como todo o regime trabalhista dos bancários, tem a questão dos Conselhos Regionais profissionais, que na verdade é um cartório de gente que explora a própria categoria, porque o cara era carteiro e não quer mais ser carteiro, vira sindicato de carteiro ou vira um Conselho Nacional de Carteiros, e aí você só pode ser carteiro se estiver no conselho – e isso tinha, incrível, no Rio de Janeiro, tinha o de lavador e guardador de carros e lá você ia na rua e o cara dizia que era fichado, surreal.
Então essa carteira verde e amarela, eu sei que é muita coisa lá dentro, mas ela derruba tudo isso. Então eu tenho uma expectativa muito grande nisso.
Agora 2020 todo mundo diz aqui dentro da Casa que, em função das eleições, a coisa murcha no segundo semestre e eu vou ter que viver isso, não depende de mim poder alterar o rumo das águas do rio. Mas muita gente fala que esse Congresso já não é o mesmo Congresso das últimas eleições municipais, portanto o comportamento pode ser outro e a gente pode observar isso, por exemplo, quando foi discutido o fundo eleitoral, que antigamente passaria o fundo eleitoral com o valor que colocaram e acabou. Com as brigas do partido NOVO e outros deputados também, pressionamos aquele Fundão de 3.8 bilhões para 2 bilhões e era para baixar mais ainda, quer dizer, isso existe e se a gente começar também a jogar e as redes sociais começarem a cobrar que nós não estamos trabalhando, vocês estão ai lutando para serem prefeitos, então nem prefeitos vão virar. Essa pressão de redes tem influência e, cada vez mais, a gente tem que ver o reflexo disso nesse 2020, mas como navegante de primeira viagem eu tenho que observar mais que influenciar.
Boletim da Liberdade: Como avalia o primeiro ano de mandato do governo Dória?
Alexis Fonteyne: Não sei se posso avaliar muito bem, eu não tenho acompanhado muito o Dória. O estado de São Paulo é um estado que estava em ordem, é um estado que não teve nenhum problema com barragem estourando, enchente, é um estado privilegiado nesse sentido.
Boletim da Liberdade: E do governo Bolsonaro? Qual nota daria?
Alexis Fonteyne: No governo Bolsonaro, todas as coisas que são mais da ordem técnica ou matérias de ciências exatas, infraestrutura, toda a parte da economia do Paulo Guedes eu diria que isso está muito bem, tem outros Ministérios que eu diria que estão indo bem como Saúde, acho que ele escolheu bons Ministros para tocar isso aí. Tanto que o Guedes mesmo está muito bem na parte de escolher o segundo escalão, eu acho que nesse sentido esta numa nota 8,5/9 para esse setor.
O setor de educação, eu não entendo essa questão, porque uma coisa tão importante, tão séria, nem no governo dele, nem no outro governo, ninguém consegue colocar isso em ordem. É uma bagunça, uma balbúrdia, como o outro fica falando, e aí eu realmente não gosto muito do Ministro da Educação por que ele quer ficar lacrando, quer virar youtuber, totalmente inadequado. Também não gosto da ideia da gente querer ideologizar demais a educação, eu acho que tinha que neutralizar a educação. Ela estava muito para o outro lado, para a esquerda, mas jogar totalmente para o outro lado, que eu nem sei se é a direita, também não ajuda porque na educação de fato a gente tem que ter gente muito séria, comprometida com isso como matéria estratégica para o país, para a gente poder criar recursos humanos, material humano, principalmente da população mais simples, porque o rico mesmo ele vai para escola e se vira.
Mesmo com esse problema todo da educação, nós estamos tendo fuga de cérebros para o resto do mundo, porque a gente não tem um ambiente, no Brasil, para desenvolver. Então educação para mim realmente não acertou, não está legal, precisa colocar ordem.
O setor de educação, eu não entendo essa questão, porque uma coisa tão importante, tão séria, nem no governo dele, nem no outro governo, ninguém consegue colocar isso em ordem. É uma bagunça, uma balbúrdia, como o outro fica falando, e aí eu realmente não gosto muito do Ministro da Educação por que ele quer ficar lacrando, quer virar youtuber, totalmente inadequado.
Na questão do Meio Ambiente, eu ainda não estou convencido de que está tão ruim como o pessoal fica falando. Eu acho que lá, de fato, há sabotagem do próprio Ministério contra o Ministro, as ONG’s, acho que tem uma coisa global querendo sabotar qualquer trabalho.
O Jair Bolsonaro, ele comunica muito mal, ele pega uma fala e começa a falar a torto e direito, num estilo como se fosse autêntico mas, para mim, ele é quem mais atrapalha o próprio governo dele. Então para o Jair Bolsonaro eu dou uma nota 4,5/5.
O resultado dos Ministérios, como falei, alguns excelentes e acho que mais vão entregar resultados, vão fazer mais um ambiente para, talvez, uma reeleição do Presidente Jair Bolsonaro, e outros, e a tal da Damares, eu acho ela divertidíssima, ela fala o que tem que ser falado mesmo, obviamente tem um viés evangélico lá, mas eu também não entro nesse mérito porque não acho que isso seja desmérito.
Então, nota geral para o governo Jair Bolsonaro, eu diria que daria entre 6,5/7.
Boletim da Liberdade: Na sua opinião, quais as principais dificuldades que o governo hoje impõe ao empresário?
Alexis Fonteyne: Certamente é o excesso de obrigações acessórias ou não incisórias que o empresário tem e a insegurança jurídica em todas as áreas.
Quando você tem um excesso de regulamentação, você tem uma insegurança que vai sendo criada. Seja na área ambiental, seja na área tributária, seja na área trabalhista, qualquer área. Tanto que nós temos a Justiça do Trabalho, que o maior orçamento da Justiça é a do Trabalho, mais de 18 bilhões de reais e, em qualquer outro país do mundo, você não tem nem esse orçamento. Então por que nós temos esse orçamento para a Justiça do Trabalho, por que tem tanto que para pagar no CLT que acaba gerando trabalhistas e contenciosos o tempo todo?
Agora, quando a gente fala sob essa pergunta, parece que é esse o governo que está fazendo isso. Não, isso é uma coisa que vem de muito longo prazo. É aquela obsessão de querer ter todos os números, todas as estatísticas e aí exigindo cada vez mais do cidadão brasileiro, no caso empresário, que ele entregue todos os informes de movimentação do seu estoque, todos os informes da movimentação dos seus funcionários, todos os informes de movimentação dos produtos químicos, a gente tem que fornecer milhões, milhões que eu tenho quase certeza que o governo não consegue nem processar isso, não tem capacidade, é a informação que vai chegando.
O próprio Guedes (Ministro da Economia) falou uma frase que é muito bom: “a gente foi indo pro buraco com tudo muito bem informado e tudo bem documentado”, então a informação não consegue processar, e também informar pro lado errado, referindo-se aos outros governos, o problema do Brasil não era a falta de informação, por que a gente fala que quem tem dados não gerencia, a loucura dos outros governos é que tinham muitos dados e não gerenciavam, porque eles não tinham capacidade de gerenciamento ou a ideologia acabava contaminando. Então o principal problema do empresário brasileiro hoje é, obviamente, a complexidade de tudo, a insegurança jurídica em absolutamente todos os cantos, ou seja, ele está sempre em ovos, e aliás essa é outra coisa que ele acaba gerando, com todas essas regulamentações criando complexidade, você alimenta a indústria da informalidade, em todos os sentidos: ambiental, trabalhista, tributário, porque é vantajoso, porque inclusive, eventualmente em alguns casos, uma questão de sobrevivência, a pessoa fazer besteira, porque se fizer tudo certo nem começa a empresa.
Não, isso é uma coisa que vem de muito longo prazo. É aquela obsessão de querer ter todos os números, todas as estatísticas e aí exigindo cada vez mais do cidadão brasileiro, no caso empresário, que ele entregue todos os informes de movimentação do seu estoque, todos os informes da movimentação dos seus funcionários, todos os informes de movimentação dos produtos químicos, a gente tem que fornecer milhões, milhões que eu tenho quase certeza que o governo não consegue nem processar isso, não tem capacidade, é a informação que vai chegando.
Boletim da Liberdade: Na sua opinião qual a importância da reforma tributária hoje no Brasil e após a reforma?
Alexis Fonteyne: A primeira coisa que eu coloco é que é inadiável, não dá mais, porque se o Brasil quer crescer ele precisa ter bases seguras e sólidas que sustentem esse crescimento e o sistema tributário brasileiro do jeito que está, complexo e com insegurança jurídica do jeito que eu falo, para o empresário brasileiro é a sentença de morte e para o grande é tirar a sua competitividade, ele é peso para todo mundo, ele não é bom para ninguém.
Aliás, nem bom para o governo, porque o índice de sonegação é altíssimo, em função de toda essa papagaiada, então é ruim para todo mundo.
Hoje o Brasil, por incrível que pareça, ele tem todas as experiências de regimes tributários do mundo. Então ele tem tributos cumulativos e tributos não cumulativos. Tributos sob operações financeiras, que é o IOF. Ele tem um suposto IVA, que seria o IPI, que é o mais cara de IVA mesmo. E tem um negócio chamado ICMS que é uma maçaroca lá, que eu digo que é um cruzamento de husky com dorgman, que é um cruzamento de cachorro que ninguém sabe que teoricamente pode ter o seu valor agregado, mas só de algumas coisas.
Ou seja, nós temos tudo, mas nada é bom e nada é completo, então, a reforma tributária ela vai para um IVA, isso eu não tenho a menor dúvida, é o IVA que precisa ser implantado. Por que o IVA? Porque o IVA, além de ser mais justo socialmente, porque só vai tributar a geração de riqueza e não, simplesmente, a movimentação financeira, movimentação financeira se eu vendo algo porque eu preciso liquidar meu estoque ou porque eu estou quebrando, porque vendi uma geladeira velha ou qualquer coisa, vai ser tributado e eu não gerei riqueza com isso. Se eu também fizer uma transferência para o meu filho, eu também não tenho nenhuma geração de riqueza com isso e vai ser tributado do mesmo jeito, para mim é inconcebível.
E, mundialmente, os maiores parceiros comerciais do Brasil, inclusive a China, os países da Oceania, a Europa inteira é IVA. É o sistema da OCDE. Os Estados Unidos eles chamam de Sales Tax, que não é um IVA na sua concepção, mas é tudo de forma parecida, é valor agregado mesmo só que só no último ponto do consumo e não fica tributando na cadeia.
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Então o que nós temos que imaginar no Brasil é um sistema tributário que esteja em conexão com o mundo, de novo, nós não temos que inventar a tomada de três pinos para o sistema tributário. Nós não temos que inventar uma jabuticaba brasileira para o sistema tributário, nós temos que ter humildade de ver o que funciona, de ver o que já foi rodado no mundo e o que nós vamos fazer, por que nós somos um grande player mundialmente, hoje nós não somos muito mundialmente, temos acho que 4% do comércio internacional, o que não é nada para a 8ª economia mundial, então nós temos que começar a nos colocar no mundo.
E, mundialmente, os maiores parceiros comerciais do Brasil, inclusive a China, os países da Oceania, a Europa inteira é IVA. É o sistema da OCDE. Os Estados Unidos eles chamam de Sales Tax, que não é um IVA na sua concepção, mas é tudo de forma parecida, é valor agregado mesmo só que só no último ponto do consumo e não fica tributando na cadeia.
Então o sistema tributário vai ser o IVA, agora acho que a grande pergunta é: como é que nós chegamos desse inferno tributário, que nós temos hoje, para o IVA? Eu não vou chamar ele de céu, por que pagar imposto nunca foi uma coisa muito desejável. Então como a gente saí desse inferno tributário para o IVA na sua concepção mais pura e correta que é o sistema europeu ou a Nova Zelândia, que acho que é a mais adequada.
Essa transição que é a grande pergunta, por que aí vem a 110 que é uma proposta, a PEC45 que é outra proposta, o governo manda outra proposta e, nessas concepções, eu estou achando que a melhor proposta é a que vem do governo. Por que? Por que ela já vai entregando durante a reforma, resultados para a sociedade. Então a proposta que eles estão propondo agora, é o que? Pega o PIS e COFINS que é o segundo maior gerador de contenciosos tributários hoje no Brasil, sendo primeiro o ICMS. Pega um desses tributos, o PIS, que é a menor alíquota, transforma ele num IVA, cria o IVA, hoje nós não temos o IVA no Brasil, um comitê gestor, com distribuição de renda e recursos para os estados, todo o modelo da PEC45 mas com uma alíquota bem baixinha. Gira durante 6 a 8 meses e incluí o COFINS, aí você já tem os dois federais colocados nisso. Roda mais um pouco e, porque roda? Não tem muita transição nesses dois, que são mais ou menos tranquilos. Mas você tem que rodar para poder entender a capacidade de transformação desses tributos, num modelo IVA. E, também, para as empresas poderem se adaptar sobre esse modelo.
E, depois, incluí o ICMS, aí a pressão tem que ser maior, que o ICMS tem muita distorção, na economia, entre os estados, o ICMS sempre dá muita confusão e lá pra frente, eventualmente, colocar o ISS para dentro também.
O IPI o governo desistiu, por causa da Zona Franca de Manaus, que é uma encrenca e deve transformar ele num imposto seletivo, que é hoje a CID, elimina a CID, e o IPI vira o único imposto que vai fazendo essa intervenção no meio econômico, como a gente chama, que é o caso da CID.
Então o que acontece? Se a gente consegue fazer uma transição num prazo de 5 a 6 anos, a gente consegue entregar toda a reforma tributária. As propostas eram, uma era tipo o sistema vira a chave e falar “amanhã é outro sistema tributário” e é uma loucura isso, uma insanidade, com as distorções que temos no Brasil. Se você faz isso, você provoca a inflação na mesma hora, você desorganiza a economia brasileira, você destrói empresas no dia seguinte, empresas que talvez nunca fossem quebradas, mas talvez não fossem se adaptar com o pouco tempo com os novos temas de forma econômica. Você perde a noção de valor, preço, não pode fazer desse jeito. Na PEC45, na transição de 10 anos, qual era o grande crítico da PEC 45? É a transição, por que? Porque nós já tínhamos 5 impostos e queriam criar mais um com dois sistemas tributários que conviveriam conjuntos durante 10 anos para fazer uma transição. Para nós empresários que temos tudo hoje, é uma porcaria, imagina se criar mais um.
Eu sempre critiquei isso, mas eu acho que agora com essas novas ideias é mais interessante. Deve vir, também, para desonerar a folha que também é outro ponto importante, por que é o pior de todos os tributos para a geração de empregos formais é uma porcaria e ele, aí sim muita pressão de setores da economia, principalmente de serviços e do varejo querendo uma CPMF. Se entrar isso, será uma CPMF com prazo curto de duração que vai baixando a alíquota, a alíquota vai baixando ano a ano e transferindo isso para o IVA, propriamente dito.
Então isso é, mais ou menos, o que a gente entende do cenário que vai acontecer. Agora, tudo isso vai ser discutido lá na Comissão Mista para poder fazer a transição.
Boletim da Liberdade: Como vê o Brasil daqui 10 anos?
Alexis Fonteyne: Vejo que se a gente continuar com essa agenda, não tiver uma interrupção como aconteceu na Argentina – e aí acho uma grande vantagem deste nosso governo que até olhou para a Argentina com um suposto governo liberal do Macri (ex-presidente da Argentina), mas que não conseguiu entregar nada e ficou só no discurso liberal, e aí teve esse revés o governo daqui, o Bolsonaro, o Guedes, eles sabem que eles precisam entregar as coisas agora, agora.
Então o Estado faz coisas não muito liberais, mas que tem resultados sociais. E a previdência não foi um exemplo; eu acho que o ponto, por exemplo, é obrigar a baixar o juros dos bancos, do cheque especial para 8%, numa canetada, obrigando a criar aquele limite, aquela contribuição, uma coisa esquisita para um governo que se diz liberal. A liberação do fundo de garantia, o 13º do bolsa-família, dinheiro irrigado, a própria Medida Provisória da Carteira Verde e Amarela, tem aquela coisa do primeiro emprego, que estava tudo muito ruim – eu entendo que o primeiro emprego não vai pagar isso ou aquilo, mas você começa, de novo, a criar um novo regime especial de contratação e, isso aí é endereço certo para poder criar dor de cabeça, eu não gosto desse tipo de coisa. Prefiro que seja uma regra igual para todo mundo.
É programa “Minha Casa, Minha Vida”, todas essas coisas que eles ainda precisam acelerar. Eu entendo que, se não há interrupção nesse processo, eu entendo que o Brasil vai estar voando baixo.
Temos que investir na infraestrutura, porque o risco da gente de crescer muito rápido é que nem voo de galinha, que primeiro ela vai e depois vem uma inflação de serviços; nós temos rodovias lotadas, aeroportos até deu uma melhorada, mas quando você fala de outras infraestruturas, de água, eletricidade, saneamento básico, está tudo largado, tudo abandonado.
Então eu acho que tem muito para se investir, isso vai gerar muito emprego, de forma sustentável. Não esses PAC, nada de Copa do Mundo, nada de Jogos Olímpicos, todas essas porcarias que custaram muito para a sociedade. Tudo isso alguém precisou pagar essa conta e quem pagou foi o pagador de imposto mesmo. Mas agora não: financiamento do setor privado, de forma sustentável, emprego de longo prazo, eu acho que tudo isso, eu entendo que se tiver sido continuado o Brasil vai estar muito bem.
Boletim da Liberdade: Qual livro de cabeceira recomenda para nossos leitores?
Alexis Fonteyne: Eu estou lendo, e estou gostando, do Jordan Peterson, aquele 12 regras para a Vida, mas eu tinha outros livros de cabeceira. Minha cabeceira está um perigo, portanto você tem trabalho, ela vai cair na minha cabeça e vai me matar. Eu tinha um livro que era A história das religiões interessantíssimo para poder ver como a cabeça humana funciona, essas questões de religião, até para dar cultura. Tinha um do Henry Kissinger, que é muito bom, que é a biografia dele. E, ah! Tenho também o Pequeno Príncipe.
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