No final de maio, o youtuber e influenciador digital Felipe Neto, cada vez mais envolvido com discussões políticas, teve uma provocativa troca de mensagens com o fundador do Partido Novo, João Amoêdo, pelo Twitter. Em determinado momento, o jovem ironizou Adam Smith e escreveu, debochado, que “adoraria” ver Amoêdo “subir uma comunidade no RJ” e citar o pensador inglês, sugerindo que as ideias liberais seriam elitistas.
O fato foi a deixa para o professor Leonardo Lisboa, 31 anos, de Sergipe, divulgar seu curso de introdução ao liberalismo oferecendo um desconto de 99% à Neto. Lisboa, também presidente do Instituto Liberal do Sergipe (ILISE), havia lançado o projeto no início da quarentena e, desde então, a procura multiplicara.
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Ex-aluno do Instituto Mises Brasil, Lisboa compartilhou em entrevista ao Boletim da Liberdade sua visão sobre o liberalismo, como tem sido a recepção do curso e quais temáticas são abordadas no projeto.
Boletim da Liberdade: Felipe Neto chegou a entrar em contato para adquirir o seu curso?
Leonardo Lisboa: Até o momento não.
Boletim da Liberdade: Muitas pessoas, como Felipe Neto, falam do liberalismo mas não parecem compreender muito as ideias liberais, muitas vezes taxando-as como elitistas. Por que essa confusão ocorre?
Leonardo Lisboa: O Liberalismo é uma ideologia ignorada em grande medida no ambiente acadêmico por um motivo puramente ideológico, não acredito que o povo pense que o liberalismo é algo que pertence a elite. Eu compreendo justamente o contrário, quando eu paro para explicar o liberalismo a pessoas humildes ou com uma baixa formação intelectual, a identificação é quase que imediata, nós somos uma nação empreendedora e batalhadora por excelência, todavia, anos e anos de uma lavagem intelectual acabou por desvirtuar a ideologia liberal.
Boletim da Liberdade: Como surgiu a ideia de criar um curso introdutório de liberalismo e como ele está estruturado?
Leonardo Lisboa: A ideia surgiu de uma necessidade que já havia notado desde quando passei a atuar no movimento liberal. Muitas pessoas são simpáticas ao movimento e às causas defendidas, todavia, desconhecem as origens das ideias. Penso que existe a necessidade de formarmos intelectualmente os atuais e futuros defensores da liberdade para essa guerra cultural travada no ambiente acadêmico e nos mais variados espaços sociais.
Após alguns anos de estudo, decidi organizar esse curso para compartilhar o conhecimento adquirido com outros indivíduos. Sobre o curso em si, ele está estruturado em 3 módulos principais, onde apresento os autores e suas obras mais importantes em uma espécie de linha do tempo, passando pelos clássicos, pelos grandes economistas do século XX e finalizando com os pensadores contemporâneos que enriqueceram a ideologia liberal. Os alunos que adquirirem o curso terão acesso a 14 aulas com mais de 30 horas de conteúdo inédito, aulas em vídeo e em MP3, certificado de conclusão aceito em todas as universidades do Brasil e a possibilidade de participar de um grupo de discussão privado para resolução de dúvidas.
Existe a necessidade de formarmos intelectualmente os atuais e futuros defensores da liberdade para essa guerra cultural travada no ambiente acadêmico e nos mais variados espaços sociais
Boletim da Liberdade: Na sua avaliação, quais são os principais desafios, hoje, de quem quer aprender mais sobre o liberalismo?
Leonardo Lisboa: Ao meu ver, o maior desafio é coragem e iniciativa para aprender; o conhecimento é algo que deve ser buscado por todos aqueles que se interessarem. Existem inúmeros vídeos, livros e uma gama de material sobre o tema, meu curso é mais uma oportunidade. O diferencial desse curso é que não existe nenhum outro com essa metodologia. Eu selecionei cuidadosamente os pensadores, organizei em uma linha cronológica e escolhi suas obras mais relevantes para compreender o pensamento liberal.
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Boletim da Liberdade: As ideias liberais se popularizaram bastante ao longo da década e tiveram, sob certa ótica, seu ápice na chegada ao poder do ministro Paulo Guedes, que trouxe consigo equipe econômica bem afinada com os princípios liberais. Gostaria de saber como você avalia a agenda liberal do presidente Jair Bolsonaro e do ministro Paulo Guedes e se as ideias liberais, uma vez no poder, alteraram algo no movimento liberal.
Leonardo Lisboa: Como um liberal pragmático, eu compreendo que a chegada de Bolsonaro ao poder trazendo consigo o discurso liberal ainda na campanha é algo animador, todavia, uma vez vencida a eleição, uma batalha ainda maior agiganta-se a nossa frente, que é conseguir esmiuçar os preceitos liberais para a população mais carente e desprovida de conhecimento intelectual.
Não basta aos liberais estarem com a razão ao seu lado, precisamos também conquistar os corações. A respeito do movimento liberal, percebo uma certa imaturidade, especialmente nos liberais de tendência brutalista que esperavam que Bolsonaro e Guedes fizessem uma revolução liberal da noite para o dia. A política é entrucada e repleta de ramificações que não possibilitam que o sonho dos liberais sejam realizados de imediato. Uma batalha foi vencida com a chegada de Guedes ao ministério, mas a guerra ainda está acontecendo.
Boletim da Liberdade: Há quem diga que o avançar da pandemia está pondo em cheque diversos princípios liberais: tanto pela necessidade do isolamento social — com, muitas vezes decisões cima-baixo que obrigam o fechamento do comércio e a liberdade de ir e vir — como também por possíveis soluções econômicas à crise que, em geral, parecem ter um caráter mais intervencionista. Há alguma resposta liberal à crise?
Leonardo Lisboa: Essa pandemia está tensionando os conflitos ideológicos em todos os espectros políticos. O Liberalismo não passa incólume a esse processo. O que tenho observado é que os próprios defensores da ideologia liberal se dividiram no tocante ao posicionamento perante essa pandemia, e os dois lados possuem argumentos sólidos para fazê-lo. Todavia, eu prefiro ressaltar que em um ponto em específico todos se uniram. Os liberais aparentam preocupação quanto as liberdade individuais que estão sendo retiradas pedaço a pedaço por alguns prefeitos e governadores.
O que tenho observado é que os próprios defensores da ideologia liberal se dividiram no tocante ao posicionamento perante essa pandemia, e os dois lados possuem argumentos sólidos para fazê-lo.
É impossível não lembrar do livro O caminho da servidão de Hayek, onde o mesmo afirma que a liberdade se perde paulatinamente e que uma vez perdida é muito difícil de recuperá-la. Quanto a alguma resposta liberal à crise, eu prefiro utilizar do expediente da prudência, mas sem esquecer que é falsa essa dicotomia entre CPF e CNPJ, a economia não é sobre dinheiro, mas sobre as relações interpessoais entre os indivíduos e tenho notado um discurso demagogo por parte de alguns políticos visando apenas seus interesses pessoais. O remédio nunca pode causar um dano maior do que o próprio veneno em si.
Boletim da Liberdade: Você é o presidente do Instituto Liberal do Sergipe. Conte-nos sobre a história e as atividades da organização.
Leonardo Lisboa: O ILISE iniciou suas atividades em 2016, e desde o início o foco tem sido no ambiente acadêmico. Nesses 4 anos de atividades, realizamos mais de uma dúzia de eventos nas universidades, ajudamos também na realização do Liberty Open, que é considerado o maior evento de cunho liberal em Sergipe. A atuação do ILISE é majoritariamente na guerra cultural, nossas iniciativas buscam apresentar as ideias liberais para a população das mais variadas formas.
Uma das atividades que mais me orgulho de ter atuado foi quando na discussão da reforma da previdência, outros movimentos liberais juntaram-se a nós em uma frente a favor da reforma, realizamos eventos, comparecemos a audiências públicas, conseguimos espaço na mídia local para apresentar o outro lado da história e, felizmente, nossa luta conseguiu mudar o pensamento de alguns parlamentares do nosso estado e informar a população acerca dessa temática imprescindível para o desenvolvimento do país. Em resumo, tudo que pudemos fazer para explanar os ideais liberais no seio da população, nós temos feito e continuaremos a fazer.
Boletim da Liberdade: Por fim, gostaria de saber como estão organizadas as turmas do Curso Introdutório ao Liberalismo, a quem ele é indicado e como fazer para se inscrever.
Leonardo Lisboa: O curso é indicado a todos que desejam aprender o básico da ideologia liberal ou até mesmo aperfeiçoar seu conhecimento sobre o assunto. Acredito que os defensores da liberdade precisam adentrar e participar da guerra cultural que permeia os mais variados espaços sociais, e para fazê-lo com competência é necessário conhecer os fundamentos basilares da sua ideologia.
É muito comum ouvir que o liberalismo não se preocupa com as pessoas, apenas com o comércio, esse erro é muito difundido, inclusive pelos próprios liberais. Todavia, logo no módulo inicial do curso eu apresento uma obra de Adam Smith sobre sentimentos e moralidades onde o pai do capitalismo e do livre mercado defende de forma brilhante a moralidade, livro esse pouco conhecido entre os próprios defensores da liberdade. Encerro agradecendo ao Boletim pelo espaço concedido, sigamos em frente lutando em prol da liberdade hoje, amanhã e sempre.
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