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As artes importam aos liberais

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Não é exclusividade do brasileiro o preconceito para com atividades laborais relacionadas à cultura. Todos os atores a quem entrevistei através de lives no Instagram – a maioria europeus – relataram dificuldades ao “sair do armário” e declarar para a família que desejavam seguir na indústria do entretenimento. Também sabemos que, de 9 a cada 10 atores são vinculados a movimentos de esquerda. No entanto, por que os liberais ainda desprezam ou diminuem o meio mais rápido de divulgar ideias? Este artigo não pretende responder essa questão, mas trazer diversos insights para construção de um novo futuro.

Ainda não tenho filhos, e embora os queira em um futuro distante, penso muito sobre como não repassar medos e vícios meus a esses seres que irão perpetuar a existência de meu sangue neste planeta. Durante essa quarentena, por incentivo de um amigo ator, descobri que sou uma artista frustrada ao notarmos que as únicas atividades que me traziam felicidade e calma eram cantar, tocar meus instrumentos e ler/estudar sobre atuação. Me lembro que, quando pequena, tirava músicas de ouvido e decorava textos de filmes para representar sozinha. Por que essa criatividade ficou guardada em uma caixinha e não foi usada?

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É inquestionável o hábito que nossa espécie possui de castrar o imaginário dos pequenos quanto às possibilidades futuras de atuar em profissões que demandem exposição e não sejam consideradas sólidas, tradicionais, e não resultem na alcunha “intelectual”. Lembro que meu primeiro contato com leituras políticas se deu através da influência de artistas a que acompanhava. Pensando nisso, uma miscelânea de ideias me fez associar, do nada, palavras que parecem inimigas, mas que são parentes próximas. Fui atrás da origem dos termos “intelectual”, “cultura”, e por último, “ator”.

Iniciei a busca pela origem de “Intelectual”, e acabei por encontrar um livro com título que já relacionava a detenção de intelectualidade e cultura, “Os intelectuais e o poder: dúvidas e opções dos homens de cultura na sociedade contemporânea” escrito pelo filósofo italiano Norberto Bobbio (muito conhecimento pelos advogados). Seguindo nesta linha, a palavra “ator” possui origem em “Ação”. Ou seja, o ato de materializar pensamentos ao campo sensível – empírico – através da ação dramática.

Intelectuais nada mais são do que pessoas com cultura, que utilizam das suas experiências no mundo sensível para teorizar e racionalizar aquilo que a emoção produz. Atores e músicos, por sua vez, fazem o caminho contrário: convertem teoria em ação, o que proporciona ao ser humano uma possível identificação. Um exemplo é a visão da utilidade do teatro para Bertold Brecht (dramaturgo): ao assistir uma peça, há espelhamento e proximidade com os fatos – mesmo que fictícios – despertando o público da alienação. Brecht era um marxista e usava esta técnica para aproximar o público dos seus ideais.

Por que tão poucos liberais são artistas? Em que momento deixamos de identificar a produção cultural como útil?

Provando através da etimologia dos três termos mencionados anteriormente que a arte é um ato político, está na hora de incentivarmos – sem dinheiro público – a reprodução dos nossos ideais, para que mais pessoas possam reconhecê-los e difundi-los.

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Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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