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Em entrevista exclusiva, Kim abre o jogo sobre impeachment e fala de Mourão

Uma das principais lideranças nacionais do MBL, Kim Kataguiri (DEM/SP) é o deputado federal de viés liberal mais crítico a Bolsonaro e confessa que "nenhum candidato à presidência da Câmara o representa"
Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

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Desde o dia 18 de dezembro, o deputado federal Kim Kataguiri (DEM/SP), uma das principais lideranças nacionais do Movimento Brasil Livre (MBL), tem falado tanto na tribuna da Câmara quanto em seu perfil no Twitter que o presidente Jair Bolsonaro é “corrupto, vagabundo e quadrilheiro”. [1][2]

A provocação, repetida várias vezes, não marca, porém, o início da tônica cada vez mais crítica que o movimento e sua atuação parlamentar têm tido sobre o governo.

Em abril do ano passado, ao lado do atual vereador Rubinho Nunes (Patriota/SP), Kataguiri protocolizou um pedido de abertura de impeachment contra Bolsonaro baseado na suposta interferência do presidente na Polícia Federal. O gesto, até o momento, foi um dos mais fortes, ou o mais forte, de todos os deputados liberais contra o Bolsonaro, que foi eleito, ao menos no segundo turno, com o apoio dos liberais e com uma agenda parcialmente liberal.

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De lá para cá, a situação se agravou. O comportamento controverso de Bolsonaro no enfrentamento da pandemia fizeram Kim admitir, em vídeo publicado no último dia 15, que a derrubada do presidente se tornaria, a partir de então, o “único objetivo” de seu mandato parlamentar.

Nesta entrevista exclusiva concedida ao Boletim da Liberdade, o deputado se aprofunda sobre a tese do impeachment como melhor solução política, diz que a prioridade do presidente é “se salvar e salvar a própria família, afundada até o pescoço em esquemas de desvio de dinheiro público” e que “não haverá nem combate à pandemia, nem reformas, que permitam a recuperação econômica com Bolsonaro”.

O parlamentar também abordou a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, prevista para ocorrer no dia 2 de fevereiro, e afirmou que nenhum candidato o representa. “É tentador escolher o ‘menor pior’, mas da última vez que fizemos isso, elegemos Bolsonaro”. Confira:

Boletim da Liberdade: Por que o principal objetivo do seu mandato agora é derrubar o presidente Bolsonaro?

Kim Kataguiri: Basicamente, porque ficou claro que o presidente, além de ser emocionalmente e intelectualmente incapacitado para o cargo, está atuando de forma a sabotar os esforços feitos para o controle da pandemia. Ele age assim motivado por mesquinharias eleitoreiras. A prioridade do mandato dele é se salvar e salvar a própria família, afundada até o pescoço em esquemas de desvio de dinheiro público, funcionários fantasma e peculato. Não haverá nem combate à pandemia nem reformas que permitam a recuperação econômica com Bolsonaro no poder.

Boletim da Liberdade: Qual é o crime de responsabilidade que você considera que poderia ser mais forte, politicamente e juridicamente falando, para atribuir ao presidente?

Kim Kataguiri: Dois crimes considero mais graves: o de utilizar a Abin para produzir relatórios para a defesa do próprio filho, Flávio Bolsonaro, réu em escândalo de corrupção – combinada com a tentativa de colocar o atual chefe da Abin, Alexandre Ramagem, na diretoria-geral da Polícia Federal, para blindar esse mesmo filho de investigações; e a negligência criminosa no combate à pandemia: estamos sem um plano nacional de vacinação até agora porque o presidente preferiu criar suspeitas sobre a vacina e receitar remédio pra malária do que preparar-se com antecedência para adquirir agulhas, seringas e vacina o suficiente para que a população possa voltar a viver normalmente.

Foto: Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados

Boletim da Liberdade: Em vídeo, você comparou a situação de Bolsonaro com a de Dilma. Mas, em 2015, ano em que iniciou o debate sobre o impeachment da petista, Dilma já vinha sofrendo problemas de popularidade. Bolsonaro, por outro lado, segundo pesquisas recentes, ainda tem cerca de 40% (XP/Ipespe). Com esse número, a situação não fica mais difícil, inclusive no Congresso?

Kim Kataguiri: A popularidade já despencou para 26% [N.E.: Big Data], como esperado pelo fim do auxílio emergencial e a constatação de que o colapso do sistema de saúde em Manaus foi, na maior parte, responsabilidade de Bolsonaro. É questão de tempo até tanto a pandemia como a economia piorarem ainda mais pela negligência do governo e a popularidade chegar aos índices do governo Dilma.

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Boletim da Liberdade: O impeachment de Dilma representou a saída da esquerda do governo federal e a ascensão de parte da direita, que fazia oposição, culminando em 2018, com a eleição de Bolsonaro. O mesmo não vai ocorrer com a queda de Bolsonaro: favorecer a esquerda?

Kim Kataguiri: O impeachment é a única maneira de promovermos a ascensão de uma direita verdadeiramente conservadora, liberal, republicana e sem o ranço do militarismo tosco. Isso seria um ganho imenso. Bolsonaro é um prêmio para a esquerda e um ônus para a direita. A incompetência e inaptidão dele para o cargo dão muita munição à esquerda. Temos que mostrar ao Brasil que a opção não é entre a tosquice bolsonarista e a cleptocracia esquerdista. Podemos ter um governo de direita liberal, competente, republicano. Tudo o que Bolsonaro não é. Assim como a direita cresceu devido à incompetência de Dilma, a esquerda cresce com o desastre de Bolsonaro.

Boletim da Liberdade: Um novo impeachment cinco anos após a queda de Dilma não poderia gerar traumas na democracia e na economia? Como você enxerga essa questão?

Kim Kataguiri: Diziam o mesmo sobre o impeachment da Dilma. Nunca tivemos tantas reformas em tão pouco tempo quanto no governo Temer – o que ocasionou geração de emprego, crescimento, crescimento do PIB, queda imediata na inflação, a instituição do teto de gastos e queda brusca nos juros. A democracia funciona quando as leis são cumpridas e o anseio popular é ouvido. Hoje, Bolsonaro conduz ilegalmente o governo, blindando seus filhos e promovendo a morte de milhares de brasileiros que já poderiam estar vacinados. O impeachment [é pior] para o país durante seis meses, mas é melhor parar agora do que afundar nos próximos dois anos.

Carreata pró-impeachment de Jair Bolsonaro ocorrida neste domingo (25) em São Paulo contou com o apoio de movimentos como o MBL e o Vem Pra Rua (Foto: Reprodução/Facebook Kim Kataguiri)

Boletim da Liberdade: Dos candidatos à presidência da Câmara, qual hoje você acredita que estaria mais propenso a abrir um processo de impeachment e como você pretende se posicionar na disputa?

Kim Kataguiri: Nenhum candidato deu clareza sobre posicionamento em relação ao impeachment. Nenhum me representa. É tentador escolher “o menos pior”, mas da última vez que fizemos isso, elegemos Bolsonaro. Prefiro votar em branco do que comprometer meus valores com alguma aliança escusa.

Boletim da Liberdade: Quais são as expectativas de um eventual governo Mourão? Seria melhor?

Kim Kataguiri: Mourão parece mais capaz e equilibrado. Creio que ele faria um governo de consenso, moderado, cauteloso. E ele não teria como prioridade beneficiar a própria família. Enfim, Mourão não é o candidato dos sonhos, mas seria melhor que Bolsonaro. E lembremos que ele tem uma vantagem: ele viu todos os erros de Bolsonaro e terá condições de evitá-los.

+ Em entrevista exclusiva, Marcel fala de chances da candidatura e sobre impeachment de Bolsonaro


(Entrevista feita pelo jornalista Gabriel Menegale)

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