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O eterno sonho tucano

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*Jefferson Viana

O PSDB foi criado em 1988 dentro do Movimento de Unidade Progressista (MUP), dissidência de esquerda do PMDB argumentando que o então Presidente José Sarney teria traído os ideais pregados pela chamada “Nova República” e que fazia política da mesma maneira que os ex-Presidentes militares. O desejo de políticos como Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Mário Covas, Almir Gabriel, Arthur Virgílio, José Richa, André Franco Montoro, Geraldo Alckmin e Teotônio Vilela Filho era ter uma legenda que conseguisse liderar a esquerda brasileira, assim como aconteceu durante o período de bipartidarismo no Brasil.

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Embora o tucanato tenha realizado alianças com o então candidato petista Luís Inácio Lula da Silva em 1989 e tivesse apoiado legendas marxistas-leninistas na eleição municipal de 1992, o ingresso do então Senador Fernando Henrique Cardoso no Governo de Itamar Franco enquanto Ministro da Fazenda, elaborando o Plano Real em conjunto com economistas liberais como Gustavo Franco, André Lara Rezende e Pérsio Arida e sua posterior eleição e mandato Presidencial realizado entre 1995 e 2002 mudou a cara do PSDB; de partido que desejava liderar a esquerda no Brasil, passou a virar sinônimo de partido de direita, rótulo sempre rejeitado pelo comando tucano.

Durante o período em que o PSDB esteve na oposição aos governos petistas de Lula (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016) o partido realizava uma oposição light, que parecia ser mais escudo do então governo de então, a ponto do então Presidente Lula afirmar em 2010 que se sentia feliz em não ter “nenhum candidato de direita” concorrendo às eleições presidenciais, vencidas por Dilma Rousseff, que derrotou o tucano José Serra naquele pleito.

Com a queda de Dilma Rousseff em 2016, o PSDB acabou obtendo sua maior vitória eleitoral em eleições municipais vencendo eleições em tradicionais redutos petistas, como São Bernardo do Campo – SP, Santo André – SP e Porto Alegre – RS, além da vitória acachapante de João Dória na capital paulista contra o então Prefeito, Fernando Haddad (PT). Porém é a partir da vitória de João Dória que as coisas começam a mudar dentro do PSDB.

Dória era um empresário e apresentador de TV com sucesso em sua área profissional e teve como padrinhos políticos o então Governador do estado Geraldo Alckmin (PSDB) e o então Vice-Governador Márcio França (PSB), que em prol da candidatura de Dória geraram um racha interno no partido que levou as saídas de Andrea Matarazzo e Alberto Goldman, ligados ao grupo político de José Serra. O apoio de Alckmin e França em 2016 foi essencial para garantir que Dória tivesse o apoio da base de sustentação do Governo estadual na eleição para a Prefeitura de São Paulo.

Dória, ao chegar na Prefeitura de São Paulo passou a bancar uma disputa interna com seu padrinho político Geraldo Alckmin para ser o candidato a Presidência da República em 2018, gerando o conhecido embate entre os “cabeças brancas x cabeças pretas”, que rendeu a saída de parlamentares como o pernambucano Daniel Coelho, hoje no Cidadania. O grupo de Alckmin conseguiu manter o controle do partido, lançou o ex-Governador de São Paulo como Presidente e restou a Dória o “prêmio de consolação” de se candidatar ao Governo do estado de São Paulo, enfrentando o candidato apoiado por Geraldo Alckmin, Márcio França (PSB).

Com o fracasso de Geraldo Alckmin no pleito presidencial e a eleição de João Dória para o Governo de São Paulo com o tucano se ancorando na candidatura presidencial de Jair Bolsonaro, o grupo liderado por Alckmin perdeu voz dentro do PSDB, que passou a ter como Presidente o ex-Deputado Federal pernambucano Bruno Araújo, nome ligado a Dória.

O agora Governador de São Paulo queria ter voos mais altos e decidiu agir de maneira ríspida contra o Governo Federal, agora abraçando a velha tese do PSDB ser o partido líder da esquerda brasileira, sendo entusiasta de uma unidade partidária “em defesa da democracia”. Mas a conduta de Dória não é bem vista por alguns setores do PSDB, liderados pelo Ministro do Desenvolvimento Regional Rogério Marinho, pelo Governador do Mato Grosso do Sul Reinaldo Azambuja e pelo Deputado Federal Celso Sabino (PSDB-PA), que desejam que o PSDB colabore com a gestão de Jair Bolsonaro em vez de se aliar aos partidos de esquerda na oposição ao Presidente.

Dória se ancora em velhas figuras tucanas como Fernando Henrique Cardoso para alcançar seus objetivos políticos, assim como já se aliou com Geraldo Alckmin, Márcio França e Jair Bolsonaro. Da mesma maneira que o hoje Governador paulista usou outros políticos de escada para alcançar seus objetivos, utiliza a velha guarda tucana para se posicionar como o novo líder da esquerda nacional, realizando o sonho dos fundadores do PSDB. Porém só com o tempo poderemos dizer se esse casamento de Dória com teses de esquerda será duradouro ou é mais uma nova maneira de alpinismo político praticado por João Dória.

*Jefferson Viana é acadêmico em História e Secretário Parlamentar da Câmara dos Deputados

Foto: Governo do Estado de São Paulo

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Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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