Morreu neste domingo (14), aos 90 anos, o ex-presidente da Argentina Carlos Menem. Ele era conhecido por sua vinculação ao Consenso de Washington e a uma agenda de privatizações e abertura a importações. [1] [2]
Carlos Menem foi ativo na política praticamente até os últimos dias, exercendo mandato de senador e chegando a tomar parte das primeiras reuniões virtuais do Senado durante a pandemia do coronavírus. Sua saúde vinha se deteriorando nos últimos tempos, com uma grave pneumonia tendo sido diagnosticada em 13 de junho, com complicações devido ao diabetes.
Internado primeiro no Instituto Argentino de Diagnóstico (IADT), ele foi transferido para o Sanatório Los Arcos, em Palermo, e foi diagnosticado com uma infecção urinária que complicou seus problemas cardíacos.
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Um peronista liberal?
A figura de Carlos Menem é um retrato das circunstâncias pitorescas da política latino-americana e, especificamente, da cultura política argentina. Assim como o atual presidente Alberto Fernández, que se identifica como um líder de esquerda e favorável a diversas intromissões estatais na atividade econômica, Menem era um expoente do Partido Justicialista, fundado pelo populista Juan Domingo Perón.
O agora falecido presidente argentino sempre se identificou como um “peronista”, alinhando-se nominalmente à tradição mais poderosa da política do país. No entanto, a agenda de Menem era significativamente oposta à de Fernández e à do próprio Perón. Presidente da sigla de 1990 a 2001, ele sustentava políticas economicamente liberais e privatistas.
Criado como muçulmano em uma família de imigrantes sírios, Menem se converteu ao Catolicismo e foi eleito governador de La Rioja em 1973, posto do qual foi derrubado pelo golpe de Estado argentino de 1976, que depôs a terceira esposa de Perón, Isabelita, da presidência e instaurou uma ditadura militar. Em 1983, quando a ditadura terminou, ele foi eleito governador mais uma vez, vindo a vencer as eleições presidenciais em 1989.
Uma das características mais curiosas de Menem era a estética: suas costeletas eram feitas para imitar seu ídolo Juan Facundo Quiroga, caudilho argentino que viveu entre os séculos XVIII e XIX e defendia o federalismo. Preso duas vezes durante os governos militares e duas vezes condenado por corrupção e tráfico de armas – mas mantido livre pela imunidade parlamentar e posteriormente absolvido -, Menem foi um homem de grandes contradições.
Alçado ao poder por uma corrente populista, com o ministro das finanças Domingo Callado, derrubou a crise hiperinflacionária ao endossar o Consenso de Washington, promovendo a estabilização da moeda e um plano de privatizações e abertura de mercado. Aproximou-se dos Estados Unidos e do Reino Unido, tempos após o estresse provocado pela Guerra das Malvinas. Assim como o tucano Fernando Henrique Cardoso no Brasil, Menem aprovou a reeleição presidencial e foi reconduzido ao poder em 1995.
No segundo mandato, entretanto, a popularidade decaiu com a subida do dólar, os efeitos da dívida externa e as crises econômicas internacionais do período, como a dos Tigres Asiáticos, tendo sido adotadas medidas como a do “corralito”, basicamente um sequestro de poupanças e contas de milhões de argentinos. Menem governou como o 50º presidente argentino de 1989 até 1999 e foi senador de 2005 até 2021.
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