Se a ascensão da liberdade como um conceito presente e legítimo no debate público brasileiro é um fato, isso se deve a um conjunto de personalidades e instituições como o Instituto de Estudos Empresariais (IEE), de Porto Alegre.
Tendo no DNA a formação de novas lideranças “com base nos conceitos de economia de mercado e livre iniciativa”, o IEE organiza, desde 1988, o principal evento anual que põe em discussão a liberdade no Brasil – o Fórum da Liberdade.
O encontro reunia, anualmente, centenas de brasileiros a palestrantes nacionais e internacionais – entre eles, figuras relevantes do meio empresarial, acadêmico e político do Brasil e do mundo. O modelo, porém, precisou migrar para o digital temporariamente em decorrência da pandemia.
A pouco mais de um mês de sua 34ª edição, que ocorrerá nos dias 12 e 13 de abril no formato online e com inscrições gratuitas, o Boletim da Liberdade conversou com Júlia Tavares, advogada e presidente do IEE. Em pauta, o tema “O digital limita ou liberta?”, provocação do evento nesse ano, e os desafios da liberdade em período de pandemia.
Confira:
Boletim da Liberdade: Em 2020, o Fórum da Liberdade ocorreu, pela primeira vez, de forma 100% online, logo no início da pandemia. Em 2021, outra vez, o evento retorna a essa modalidade. Quais são os desafios desse novo modelo, uma vez que o Fórum sempre foi conhecido pela grandiosidade de seus eventos presenciais?
Júlia Tavares: No ano passado, tivemos que adaptar o evento com 15 dias de antecedência devido ao desafio do coronavírus. Este ano, estamos mais preparados, com uma programação intensa, sendo que os painéis terão transmissão ao vivo a partir de Porto Alegre, de forma gratuita mediante cadastro do participante. As inscrições já estão sendo feitas no site www.forumdaliberdade.com.br, que também divulga os palestrantes já confirmados e a programação.
Se por um lado perdemos a chance de reunir milhares de pessoas em Porto Alegre, como acontecia nos últimos anos, ganhamos a oportunidade de levar o debate a todo o país, ampliando nossa repercussão e dividindo nossas ideias com novos públicos.
O tema do evento, O digital limita ou liberta, propõe justamente isso: trazer ao centro do debate a nossa relação com a tecnologia e os desafios e oportunidades que ela nos traz.
Boletim da Liberdade: O Fórum traz nesta edição a provocação se o digital limita ou liberta. Como surgiu essa discussão e qual é a sua opinião, como presidente do IEE, para esse tema?
Júlia Tavares: O mundo já vinha num processo de digitalização, que se acelerou com a pandemia. Ficamos muito dependentes dela para trabalhar e nos relacionar. Garantiu a operação de muitas empresas, as redes sociais acabaram sendo um dos poucos espaços de socialização. E também de radicalismo. Nós defendemos a liberdade sempre, mas com responsabilidade individual. Qual é este limite? O que está acontecendo com a sociedade? Para onde estamos caminhando? Acho que esse é o debate do momento e são essas questões que queremos pautar no Fórum da Liberdade.
Boletim da Liberdade: Já foram confirmados nomes como Guilherme Benchimol (XP Investimentos), Alexandre Ostrowiecki (Multilaser) e Jason Brennan (cientista político) como palestrantes. Como está sendo o processo de escolha dos nomes e sob quais perspectivas acontecerão as discussões sobre o tema do evento?
Júlia Tavares: Teremos mais de 20 palestrantes no evento e nossa ideia é em cada um dos 7 painéis abordar temas diferentes sobre os desafios e oportunidades do mundo digital. Serão debatidos os impactos desse mundo conectado na democracia, saúde mental, nos negócios, etc. Convidamos os maiores especialistas dessas áreas para tornar o debate rico e instigante.
Boletim da Liberdade: Como foi liderar o IEE em plena pandemia e organizar o Fórum da Liberdade na incerteza sobre como estaria o país e o mundo na evolução da pandemia?
Júlia Tavares: Acredito que estamos vivendo tempos muito desafiadores e precisamos fazer das dificuldades oportunidades. O desafio é de aplicar os valores que são do próprio IEE, o empreendedorismo, a adaptabilidade.
O IEE é um ciclo de formação e a atuação da diretoria, que é voluntária, é o fechamento desta experiência. Tivemos importantes aprendizados e, principalmente, mantivemos ativa a missão do IEE de formar com excelência novos associados.
Iniciamos a gestão com eventos no formato online – foram mais de 40 encontros virtuais – e, em outubro, migramos para o modelo híbrido, permitindo uma reaproximação entre nossos associados. Oferecemos curso de oratória e apresentação eficaz para apoiar a formação de nossos associados bem como realizamos, com todos os associados efetivos, uma análise de perfil comportamental (PDA), para melhor autoconhecimento.
Interagimos com a sociedade em três edições do Fórum da Liberdade Talks, uma iniciativa para debater insights, macrotendências e perspectivas, como preparação para a 34ª edição do Fórum da Liberdade que será em um momento totalmente novo e desafiador.
Boletim da Liberdade: Em decorrência da pandemia de Covid-19, a sociedade vivenciou um choque de interesses entre parte do empresariado e parte da classe política, que em diferentes locais acabou implementando o fechamento ou a restrição do comércio em determinados períodos. Há algum consenso entre os associados do IEE, que sempre atuou na defesa da liberdade justamente com os líderes empresariais, sobre esse momento?
Júlia Tavares: Nós vivemos muitas experiências novas e inéditas ao longo deste ano, o mundo como um todo, não somente Porto Alegre. Parece natural que, neste contexto, coexistam visões diferentes. O importante é manter o espaço de debate aberto e o permanente diálogo, porque acreditamos que é assim que vamos avançar. Foi assim que o Fórum da Liberdade se fortaleceu, sendo um espaço aberto para ideias e visões diferentes. Não acreditamos que o consenso seja essencial na construção da sociedade.
Boletim da Liberdade: No final de 2020, o Boletim da Liberdade promoveu uma enquete em seu perfil nas redes sociais e a maior parte dos leitores considerou que o ano passado foi ruim para a liberdade. Você concorda com essa análise? Caso sim, como seria possível reverter esse cenário?
Júlia Tavares: Concordo fortemente, pois é claro que a liberdade foi comprometida em várias esferas. As liberdades econômicas foram colocadas em segundo plano, com aumento de impostos, políticas monetárias irresponsáveis e interferências na economia de todas as formas possíveis.
Boletim da Liberdade: Obrigado pela entrevista e gostaria de deixar um espaço para você apresentar o 34º Fórum da Liberdade e convidar nossos leitores para o evento:
Júlia Tavares: Convido a todos para participar do Fórum da Liberdade 2021 que irá acontecer nos dias 12 e 13 de abril. Com o tema “O Digital Limita ou Liberta”, vai reunir convidados nacionais e internacionais para debater o paradoxo das novas tecnologias, que trazem incríveis oportunidades aos negócios e ampliam o alcance de vozes dissonantes, mas também polarizam debates e criam bolhas nos meios digitais.
Os painéis terão transmissão ao vivo a partir de Porto Alegre, de forma gratuita mediante cadastro do participante. As inscrições já estão sendo feitas no site www.forumdaliberdade.com.br, que também divulga os palestrantes já confirmados e a programação.
O Fórum da Liberdade acontece há 34 anos e foi reconhecido como o maior espaço de debates da América Latina. Nosso objetivo é promover uma ampla e livre troca de opiniões e proposições sobre empreendedorismo, sociedade, economia e política para encontrar caminhos para tornar a sociedade mais livre e próspera. Recebemos, nestes últimos anos, mais de 350 palestrantes, dentre os quais 5 prêmios Nobel, 9 chefes de estado e muitos outros especialistas em seus respectivos campos.