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Um dos fundadores do NOVO lançará livro sobre origem do partido: ‘explicação que filiados nunca tiveram’

Prestes a lançar um livro para revelar os bastidores de criação da instituição, Roberto Motta, hoje desfiliado, sustenta que se partido tivesse seguido o plano original teria mais mandatários e poderia até ter abrigado Jair Bolsonaro
João Amoêdo e Roberto Motta, dois dos nomes por trás do principal partido liberal do país (Foto: Reprodução)

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Quem conheceu e colaborou com o longo processo de criação do Partido Novo na primeira metade da década passada, certamente se recorda da presença de Roberto Motta. Ao lado de João Amoêdo, o engenheiro carioca era um dos nomes mais influentes da sigla e dirigia o diretório do Rio de Janeiro.

O esforço, contudo, não resistiu aos preparativos para a primeira eleição que o partido enfrentaria. Motta acabaria se desfiliando em 2016, apenas um ano após a oficialização da legenda no TSE. Cinco anos depois desse episódio e de duas candidaturas feitas pelo PSC, Motta decidiu voltar ao passado e lançar um livro para contar sobre os bastidores do surgimento do projeto, que viria a se tornar o principal, e talvez o único, partido liberal do país.

Nesta entrevista exclusiva ao Boletim da Liberdade, revela como conheceu João Amoêdo, se o livro que está lançando por meio de um financiamento coletivo é um ataque à sigla e responde até mesmo se cogitaria voltar ao partido que ajudou a criar um dia.

Entre outros pontos, Motta sustenta ainda que ter ajudado na criação do partido foi uma de suas “maiores realizações” e que, se tivesse seguido o que chamou de “rumo original”, a sigla teria “centenas de prefeitos e milhares de vereadores pelo país, vários governadores e bancadas estaduais e federal muito maiores”.

Motta também defende que o partido não tenha candidato próprio à presidência em 2022. Segundo ele, caso tenha, vai acabar servindo para “desviar votos” que provavelmente iriam para Bolsonaro e ajudaria a “vitória da esquerda”, destacando que, com Lula presidente, “o Partido Novo terá um destino terrível”. Confira:

Boletim da Liberdade: O sr. lançou recentemente o financiamento coletivo do livro “Os inocentes do Leblon” com a proposta de contar os bastidores da criação do Partido Novo. Qual foi o seu papel na criação da sigla?

Roberto Motta: Fui um dos 2 criadores do Novo. O outro foi João Dionísio Amoêdo, meu colega no 3º ano do Ensino Médio no Colégio Santo Inácio, em 1979. Toda a história está descrita com detalhes no meu livro. O Novo foi concebido em 2009. A fundação formal só veio a ocorrer em 2011.

João Amoêdo e Roberto Motta se conheceram no Colégio Santo Inácio, no Rio de Janeiro. A dupla participaria da criação do principal partido liberal do país (Foto: Reprodução)

Boletim da Liberdade: No momento em que fazemos essa entrevista, o livro já se aproxima dos R$ 50 mil arrecadados. A que o sr. credencia o sucesso de arrecadação e o interesse no tema?

Roberto Motta: O João ajudou muito ao, recentemente, assumir posturas e dar declarações polêmicas em público – como quando afirmou concordar com o posicionamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre as iniciativas para o combate à pandemia do coronavírus. Eu e a maioria dos brasileiros não concordamos com o Lula em nada. João também demonstrou publicamente, ao entrar em conflito aberto com quase toda a bancada federal do Novo, aquilo que eu dizia desde que deixei o partido em 2016: ele é o controlador do partido, tem poder absoluto, e exerce esse poder com mão de ferro. Agora as pessoas dizem “o Motta tinha razão”.

Boletim da Liberdade: O sr. afirma na divulgação que a obra contará com “detalhes e fatos que nunca antes chegaram ao conhecimento público” sobre a criação do partido. Em algum grau, isso pode mudar a visão que as pessoas têm da sigla?

Roberto Motta: O público vai conhecer o projeto original do Novo, como ele foi criado, e conhecer as histórias de muitas pessoas anônimas que se sacrificaram para que o partido existisse, e que depois foram relegadas ao esquecimento ou tratadas com arrogância e grosseria até que resolvessem ir embora. É uma história interessante, com detalhes fascinantes. As pessoas vão entender o que o Novo era e o que ele poderia ter sido, comparado ao que ele se tornou, ao ser controlado por um pequeno grupo ou uma única pessoa com um projeto pessoal de poder.

Foto: Divulgação

Boletim da Liberdade: Como o livro deve ser compreendido por mandatários, filiados e apoiadores do NOVO de uma forma geral? É, por exemplo, um ataque ao partido?

Roberto Motta: Absolutamente. Ao contrário: para os filiados, é uma explicação que eles nunca tiveram e um resgate do propósito original do partido. Para quem saiu do partido, o livro explica onde o propósito original se perdeu. Para todos, eu faço uma análise do que precisa ser corrigido para uma retomada de rumo. O livro trata tudo e todos com respeito. Ele cria a oportunidade para discussões internas e externas sobre o partido, para um renascimento. O livro narra fatos documentados. Se alguém fica mal na narrativa, são os fatos que vão dizer isso, não eu.

Só ficará contra o livro que faz parte desse projeto pessoal de poder, ao qual o partido foi submetido

O Novo é como um filho para mim. Investi sete anos da minha vida nele. É o meu sonho de um país melhor do qual, de certa forma, fui retirado de uma maneira ainda incompreensível. Essa história está no livro.

Boletim da Liberdade: Ao longo do tempo, o NOVO acabou se tornando o principal partido de viés liberal do Brasil. A sigla nasceu com esse propósito? Ou como foi que ela se aproximou das ideias liberais?

Roberto Motta: Não. No início o Novo não se posicionava como liberal. Nós queríamos apenas melhorar a gestão pública e possibilitar a eleição de cidadãos comuns. Quem nos ensinou o básico de liberalismo foram o Rodrigo Constantino e o Hélio Beltrão. Discutimos muito esse posicionamento, e o livro tem farto material sobre essas discussões. Liberalismo era um meio, uma ferramenta, não a razão de ser. Mas com o tempo o Novo foi se tornando, sim, um partido de caráter liberal, talvez o único do Brasil.

Boletim da Liberdade: Como era o seu relacionamento com João Amoêdo? O sr. nutre mágoas de alguém da sigla?

Roberto Motta: João era amigo muito próximo desde 1979. Esteve presente em vários momentos marcantes de minha vida, e vice-versa. Eu tinha confiança absoluta nele. Está tudo no livro. Não tenho mágoa alguma, apenas o desejo de que a verdade seja conhecida e que o projeto original, que ajudei a conceber, seja resgatado. A experiência do Novo foi meu batismo de fogo na politica. Me ajudou a perder a ingenuidade.

Foto: Reprodução

Boletim da Liberdade: O partido enfrentou em 2020 sua terceira eleição. Como o sr. enxerga o desempenho e a atuação do partido que ajudou a fundar?

Roberto Motta: O desempenho eleitoral ficou muito aquém dos planos originais. Se tivesse seguido o rumo original, o partido já poderia ter centenas de prefeitos e milhares de vereadores pelo país, vários governadores e bancadas estaduais e federal muito maiores. A centralização e a escolha dos candidatos segundo critérios pessoais do controlador impediu isso.

Em 2018, o Novo poderia ter sido a opção partidária do Presidente Jair Bolsonaro. Pense na diferença que isso poderia ter feito. Mas a liderança decidiu usar o partido como suporte ao projeto pessoal de uma pessoa, incorporou defensores de pautas progressistas como a defesa da liberação da maconha, não conseguiu oferecer ao eleitor nominatas completas e até atacou vários mandatários e filiados em posições influentes. Foi um processo autofágico.

Boletim da Liberdade: O sr. se arrepende de ter participado do processo de fundação do NOVO?

Roberto Motta: Considero a criação do Novo uma de minhas maiores realizações. Não tenho arrependimento algum. Tenho orgulho das milhares de pessoas que trouxe para o partido, algumas das quais são filiadas até hoje.

Boletim da Liberdade: O sr. deixou o NOVO em 2016, após conflitos para se lançar candidato. Em 2018 e em 2020, disputou pelo PSC, e também integrou o governo do Rio. Essas experiências lhe fizeram mudar de percepção sobre algo na política?

Roberto Motta: Meus ideais e princípios continuam os mesmos, ainda mais fortes. Mas meu entendimento sobre as regras do jogo político e seu mecanismo de funcionamento é completamente diferente. No livro eu descrevo as lições que aprendi, faço uma crítica da proposta original do Novo face a esse aprendizado, e apresento até uma extensa bibliografia para quem quer entender de verdade como a política da vida real funciona. Em breve lançarei um curso sobre o assunto.

Roberto Motta e família participando de ato do Partido Novo quando ainda estava no partido (Foto: Divulgação/Roberto Motta)

Boletim da Liberdade: Em junho, ficou nítido que o NOVO não está tão coeso, ao ponto de terem surgido questionamentos sobre o lançamento da pré-candidatura de João Amoêdo à presidência. Na sua avaliação, como o partido deveria se posicionar em 2022?

Roberto Motta: Apoiando o Presidente Jair Bolsonaro, o único que tem condições de impedir uma vitória da esquerda. Uma candidatura própria do Novo não tem sentido algum. Só serve para desviar votos que, muito provavelmente, iriam para o Presidente Bolsonaro. Isso só ajuda a vitória da esquerda. Em um país presidido por Lula, o Partido Novo terá um destino terrível, o mesmo de todos os grupos liberais ou conservadores: a perseguição implacável. Isso é uma coisa muito grave.

Boletim da Liberdade: Diante do cenário polarizado que se tem como expectativa para 2022, o sr. considera a possibilidade de concorrer novamente a um cargo eletivo? Caso positivo, como o sr. pretende se posicionar em relação ao presidente Jair Bolsonaro?

Roberto Motta: Sim. Disputarei as eleições de 2022, sempre apoiando a candidatura do Presidente Jair Bolsonaro. Veja: eu sei que ele não é perfeito. Mas eu não votei para eleger um político perfeito. Eu votei para eleger alguém que tivesse coragem de quebrar o ciclo vicioso de governos de esquerda parasitas e corruptos que destruíram o país. Ele fez isso. Por isso terá meu apoio.

Boletim da Liberdade: O sr. consideraria a possibilidade de voltar ao NOVO? Caso sim, o que teria que ocorrer?

Roberto Motta: O Novo é como um filho para mim. Mas, para que eu um dia voltasse ao partido, seriam necessárias mudanças para que ele retomasse o rumo original. Eu descrevo essas mudanças no livro.

Clique aqui e acesse à página do financiamento coletivo.

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