*Cris Monteiro
A notícia de que a cantora Anitta aceitou fazer parte do conselho de administração do Nubank chegou até mim através do grupo da família do WhatsApp. Meu sobrinho, de 34 anos, que é cliente do banco, considerou a decisão acertada. “Uma mulher que veio da periferia no Conselho de um banco: golaço”, comentou.
Confesso que, num primeiro momento, a novidade do Nubank me incomodou. Na minha estreita visão, Anitta era uma artista que usava shortinhos e cantava funk. Como assim fazer parte do conselho de um banco?
Eu, obviamente, parti da minha experiência em bancos para criar este pré-conceito em relação a Anitta. Tenho 60 anos e trabalhei 30 deles em altos cargos de instituições financeiras. Fui diretora do Bank of America, Goldman Sachs e JP Morgan. Na minha concepção, para se sentar em conselhos seria necessário ter algum tipo de experiência em cargos executivos. E Anitta não tinha isso.
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Nem sempre é fácil quebrar paradigmas. Mas, se formos pensar na trajetória do Nubank, o rompimento de conceitos tradicionais sempre fez parte da história do banco, desde o seu surgimento.
Fundado em 2013 por um colombiano, uma brasileira e um americano, o banco teve sua primeira compra realizada com o famoso cartão roxo em 1º de abril de 2014. Começou como uma fintech, um banco digital que oferecia serviços menos burocráticos e sem cobrar tarifas. A novidade foi um estouro. Em 2018, ganhou o status de startup unicórnio e contava com 6 milhões de usuários.
Atualmente, soma 40 milhões de clientes e atingiu, na avaliação de mercado, o valor de US$ 1 bilhão, sendo a 4ª instituição financeira mais valiosa da América Latina, ultrapassando tradicionais bancos como o Banco do Brasil. E como o Nubank nasceu como uma empresa disruptiva, trazer Anitta só reforça essa característica do banco.
E, no mais, Anitta não é só uma funkeira. É “a funkeira”, eleita pela Vogue como uma das 100 pessoas mais influentes e criativas do mundo, um avião supersônico no mundo do marketing que, com apenas 29 anos, canta, compõe, dança, interpreta, gerencia e continua multiplicando a fortuna que construiu. Cria tendências e influencia toda uma nova geração.
Esse novo momento da cantora como “board member” divide opiniões. Meus jovens sobrinhos acharam ótimo. Para eles, Anitta conhece muito bem o público das classes C, D e E, um nicho que interessa ao Nubank.
No grupo das amigas que trabalharam comigo no mercado financeiro, as opiniões divergiram. Algumas argumentaram que Anitta carrega o estereótipo da mulher hiper sexualizada e que sua veneração exacerba não só este como outros estereótipos brasileiros, como o do país do futebol e do Carnaval.
Mas ninguém nega que ela é especial. Afinal, saiu do subúrbio do Rio de Janeiro, estagiou na Vale do Rio Doce, fala inglês e espanhol, gerencia sua carreira como poucos. Ou seja, talento e tino para o negócio ela tem.
Inserir um olhar estrangeiro pode sacudir as estruturas dos pomposos conselhos de administração e trazer ideias novas. Como opinou uma amiga, o fato é que existem inúmeras pessoas nos conselhos conhecedoras de leis, aspectos contábeis e financeiros no mercado, mas não existem muitas que podem falar sobre tendências no mundo, qual o pulso da juventude, o que quer essa nova geração etc. Por que oferecer a Anitta um papel coadjuvante de consultora se ela pode sentar-se à mesa?
Os conselhos estão mofados, diz outra. Sem contar que quase sempre os conselheiros são homens, brancos e engravatados. Neste ponto, Anitta também agrega. Traz diversidade por ser mulher, ter saído da periferia e traduzir o pensamento dos jovens. Vai pensar fora da caixa e o Nubank está apostando nisso.
Gosto de sair do meu lugar através de bons argumentos. Se antes achei esquisito a cantora num conselho, já penso diferente após ouvir várias pessoas com opiniões diferentes. Torço por Anitta e torço para o Nubank. E cartão roxo para quem torce o nariz para essa novidade!
*Cris Monteiro é vereadora pelo partido Novo em São Paulo, depois de ter atuado por 30 anos no mercado financeiro.
Foto: Divulgação/Nubank
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