Um dos maiores desafios vividos pela Engenharia é como lidar com as rachaduras que naturalmente aparecem durante a aplicação prática dos materiais. São especialmente considerados um vilão na construção civil, pois permitem a entrada de água, causando assim infiltrações, e, de forma até mais grave, se não resolvidos a tempo, podem aumentar de tamanho, assim comprometendo a própria integridade da estrutura do edifício, exigindo assim intervenções mais urgentes e invasivas.
Para resolver este problema, se usam diversas técnicas, como perfurar as extremidades da fissura, ou preencher o espaço com material novo, mais resistente. Contudo, como quase sempre, a melhor forma de lidar com um problema é preveni-lo em primeiro lugar, usando materiais com maior tenacidade, ou seja, maior capacidade de se deformar e aguentar forças externas sem desenvolver rachaduras, ou mesmo desenvolvendo novos materiais, como a universidade um concreto capaz de ser reparar sozinho.
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Já o diminutivo da palavra, rachadinha, tem um significado não tão estéril e bem menos “técnico” por se assim dizer, referindo-se a uma forma de corrupção, a qual um agente político faz um acordo ou exige a transferência dos rendimentos dos seus assessores como contrapartida a sua nomeação.
É considerado uma forma de corrupção de “baixo clero”, não em referência a sua reprovabilidade, afinal corrupção é corrupção, mas sim ao fato de que é uma forma comum, podendo se dizer até mesmo rasteira, de se praticar corrupção, algo que até mesmo os mais baixos na cadeia alimentar do ecossistema político conseguem praticar com mínima dificuldade.
Recentemente esse método de corrupção voltou a ficar em evidência devido a uma acusação feita por Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada do Presidente do país, Jair Messias Bolsonaro, de que este exigia parte do salário de assessor de seu irmão, André Siqueira Valle, tendo-o demitido justamente por não repassar a maior parte de seu salário. Não é de hoje que a associação entre rachadinha e Bolsonaro existe, tendo o seu primogênito, Flávio Bolsonaro, senador pelo partido Patriota-RJ, sido já denunciado à Justiça pelo Ministério Público do em razão de um relatório do então Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que identificou movimentações suspeitas na conta bancária de Fabrício Queiroz, que era assessor de Flávio, na ordem de R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. Contudo, é a primeira vez que se implica o presidente diretamente, o que, evidentemente, aumenta o temperatura política da já aquecida discussão envolvido a CPI da Covid-19 e o combustível do já não tão improvável impeachment de Jair Bolsonaro.
Em meio a revelação, nada surpreendente, de que o Bolsonaro não seria afinal de contas indiferente a corrupção, uma discussão raramente levantada, e nas raras vezes que o é, rapidamente é soterrada e esquecida sob uma montanha de acusações e debates políticos que o cercam, é o próprio problema das rachadinhas. Os números parecem indicar que a rachadinha é bem disseminada.
Assim como se faz com rachaduras, a melhor forma de lidar com as rachadinhas seria prevenindo que elas apareçam em primeiro lugar. Assim se o problema é que os políticos frequentemente exigem a transferência do salário de seus assessores para seus bolsos, o mais razoável parece ser presumir que o político não precisa do trabalho de seu assessor, afinal de contas, se assim não o fosse, estaria se prejudicando ao realizar este esquema, pois estaria se privando de um profissional qualificado necessário para sua função. A solução mais lógica parece ser então economizar o dinheiro do contribuinte, diminuindo o número de assessores e/ou diminuindo a verba disponível de gabinete para contratação de assessores, de forma que não exista a possiblidade de rachadinha em primeiro lugar.
É revelador que quem mais procura se beneficiar do mesmo é o Partido dos Trabalhadores, que teve revelada sua relação simbiótica e inseparável com diversos esquemas de corrupção.
A rachadinha no fundo é apenas uma coadjuvante de todo este debate político, usada aqui pelo Centrão como forma de pressionar a presidência de forma a extrair concessões, e pela oposição para melhorar suas chances em 2022. O interesse
E assim o Brasil continua o mesmo, falando dos problemas, sem a menor intenção de tentar resolvê-los.
*Antonio Pedro Pedrosa é advogado.
Foto: Boletim da Liberdade.
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