O Boletim da Liberdade organizou nesta quinta-feira (9) uma mesa redonda para debater o livro “Menos Marx, Mais Mises” (Editora Todavia), lançado em agosto, de autoria da cientista política Camila Rocha.
Originalmente uma tese de doutorado na USP, a obra se dedicou a mergulhar no contexto da nova direita brasileira, em especial o movimento liberal, sendo uma das pesquisas mais completas feitas até então sobre o assunto.
Na conversa, realizada de forma virtual e transmitida no YouTube, Facebook e Twitter do Boletim, a autora abordou diversos temas relativos à nova direita e confidenciou seu processo de curiosidade ao começar a compreender a dimensão do movimento.
“Tinham fatos políticos novos, novidades surgindo, que eram muito interessantes. Eu não podia deixar passar aquilo”, disse, pontuando ainda ter percebido que não havia bibliografia com profundidade no assunto.
Na avaliação dela, “falta um pouco o olhar histórico” sobre os trabalhos que têm como objeto a nova direita. “A riqueza dessa investigação é mostrar o que tinha antes, o desenvolvimento, mostrar que não começou em 2013, ou 2014, mas sim muito antes, com o trabalho de formiguinha”, destacou.
Jair Bolsonaro
Camila também disse, ao longo da conversa, que enxerga que o processo que levou à ascensão do presidente Jair Bolsonaro é “outro fenômeno”.
“É um fenômeno que, obviamente, tem ligação um com o outro, que começaram a concorrer em paralelo em determinado momento, mas que são diferentes. A nova direita não depende da figura de Jair Bolsonaro para sobreviver e o Bolsonaro, quando chegou ao poder, chegou em vários quadros, novas ideias da nova direita, mas eu acho que ele mesmo está muito longe de ser liberal, de defender os valores [liberais], tanto do ponto de vista econômico, quanto do ponto de vista político”, destacou.
Uma dessas diferenças, ela pontua, diz respeito ao processo de crítica à Constituição. Os liberais da nova direita, segundo sua perspectiva, costumam até ter críticas sobre o escopo da oferta de serviços na Carta, mas não pregam a ruptura institucional.
“Trata-se da ruptura do pacto com a orientação socialdemocrata que estava ali [na Constituição]. É a ruptura com isso, que fique muito claro, não no sentido de quebra institucional, porque esse tipo de mudança pode ser feita de forma processual. Essa concepção da Constituição de 1988 pode ser esvaziada com o tempo e sendo preenchida com outros valores. A gente não precisa de uma quebra institucional para acontecer. Boa parte das pessoas que eu entrevistei nem tinha essa disposição”, salientou.
Conduzido pelo jornalista Lucas Berlanza, editor do Boletim da Liberdade, o evento virtual contou ainda com a presença da economista Cibele Bastos e o colunista e consultor político Jackson Vasconcelos. Bastos e Berlanza aparecem no livro e acompanharam o processo de pesquisa de Camila em 2015 na antiga sede do Instituto Liberal, no Rio de Janeiro.
Assista a live na íntegra, a seguir: