Não precisamos ter muita experiência na política para diagnosticar que os dois costumeiros inimigos do Estado Democrático no Brasil chamam-se populismo e assistencialismo. Em linhas gerais, o populista é aquele que utiliza recursos imorais para angariar apoio e confiança popular. Recorrentemente divide a sociedade em dois lados antagônicos (eu x eles) travando uma batalha ideológica totalmente destrutiva para a democracia. Além disso, quando o populista assume o poder, ele se apropria do dinheiro dos impostos para realizar feitos que imprimam uma marca pessoal ao seu legado de poder. Já o assistencialista 1 age politicamente para manter um determinado problema, entregando ao assistido soluções paliativas, mas nunca libertadoras de sua condição de dependência.
Até então as práticas populistas e assistencialistas da nossa política trouxeram disfunção ao processo eleitoral e fizeram com que pessoas ineptas e oportunistas fossem eleitas. Ineptos eleitos acabam investindo o dinheiro do cidadão em acordos escusos para se perpetuarem no poder, e, assim, podemos sentir em nossa pele o ciclo vicioso de um Estado incapaz de entregar serviços básicos que lhes foram atribuídos por direito.
Contudo, na última década um novo inimigo entra no jogo político e traz complexidade à batalha daqueles que querem uma nova política para o brasileiro: a crescente força do iliberalismo, conceito cunhado por Fareed Zakaria em artigo para a revista Foreign Affairs, em 1997, se referindo a práticas políticas crescentes no mundo onde a democracia passou a ser um grande teatro. Os iliberais participam de eleições e seus partidos funcionam, mas são eles que relativizam os pilares essenciais da democracia, atuando de modo a dinamitar as instituições, a liberdade de expressão e os direitos humanos e sociais. O que separa as democracias iliberais das liberais não é falta de processos democráticos, mas a falta tolerância ao contraditório e de respeito pelas instituições independentes.
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É fato que a distinção entre a filosofia de esquerda e de direita é importante pois é o reconhecimento do meio que cada político busca para mudar a vida das pessoas. Também é fato, entretanto, que sem termos uma democracia segura para que esse debate seja travado de forma profunda, estaríamos sendo assistencialistas no debate político, devaneando em utopias que não garantem a solução do problema. O problema hoje é claro: os verdadeiros inimigos do desenvolvimento do Brasil são os Assistencialistas (A), Populistas (P) e os Iliberais (I) – (A.P.I.).
Dito isso, não é preciso se esforçar muito para concluir que os A.P.I.s estão espalhados pela esquerda e pela direita na política brasileira e em todas as instâncias dos entes federativos. São comportamentos recorrentes e banalizados pelo eleitor, e em grande parte até reproduzido e fomentados por eles.
Na tabela abaixo exemplifico claras práticas de A.P.I.s nas duas maiores lideranças políticas brasileiras dos últimos tempos:
Principalmente no que tange ao populismo e ao iliberalismo, conseguimos identificar claramente as origens dos níveis de intolerância que hoje encontramos na sociedade brasileira. O nível de diálogo entre diferentes tribos é praticamente inexistente. Tolerar o contraditório é uma atitude de maturidade política, de quem tem convicção dos seus propósitos. Além disso, garante o desenvolvimento de uma sociedade com profundidade de argumentação para fazer valer suas ideias.
Há poucos dias a Tábata do Amaral sofreu ameaças na rede por estimular que as pessoas vissem a política para além da esquerda e da direita. Eu mesma fui muito hostilizada por ter participado das manifestações do dia 12 de setembro, onde dividíamos com militantes de esquerda a vontade de ver o Bolsonaro fora do Planalto. O radicalismo existente, além de não permitir enxergar para além da bolha, também proporciona à política ambiente de uma quase seita religiosa, em que seus militantes apostam uma fé cega no seu político de estimação ao invés de aceitar que ninguém ou nenhuma ideologia é totalmente boa ou totalmente má.
Tais comportamentos de repúdio a qualquer tentativa de união por uma causa universal são cortinas de fumaça implantadas em narrativas de quem se favorece com o status quo de nossa pobre política.
Não entrei na política para me colocarem em caixinhas. Entrei por ser liberal, e buscar na liberdade o caminho para a sociedade melhor. A liberdade está, antes de tudo, de nos libertarmos dos A.P.I.s. De não reproduzirmos, como cidadãos, essas práticas tão mesquinhas. Não adotarmos um discurso de intolerância, não aceitarmos migalhas de políticos, não nos deixamos influenciar por lutas ideológicas insanas.
Esse é o caminho. Doa ao iliberal que doer. Doa ao populista o que doer. Doa ao assistencialista que doer.
Foto: Reprodução/Editoria de Arte
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