Lula deseja voltar a ser presidente. Para ter sucesso, ele faz uma campanha no estilo que sempre fez por acreditar que o povo não gostou do resultado de uma eleição cheia de novidades, como foi a de 2018. Por isso, ele visita e atrai líderes políticos e partidos para firmar alianças e ter um bom espaço de exposição na TV e no rádio e capilaridade para a mensagem que quer levar ao povo.
Para o modelo funcionar, Lula precisa de demônios contra os quais lutar. Há muitos. O mais relevante deles é o que defende um Estado submetido à vontade do povo e garantidor de direitos e não de favores. Lula tem afirmado: “O Estado fraco não serve para nada” e atribui a fome do povo ao limite de gastos imposto pela lei ao Estado.
Quem, entre os candidatos que se apresentaram até agora à disputa com Lula, defende o contrário? Antes existe uma questão a responder: O que é o Estado, afinal de contas? Seja qual for a definição, o Estado está representado pelos agentes públicos, alguns eleitos, outros nomeados após prestarem concursos públicos e outros escolhidos pelo critério da bajulação e subserviência aos agentes eleitos. Isso vale para a União, Estados e Municípios e para os Três Poderes.
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Lula defende que toda essa gente aboletada no Estado esteja a serviço de si própria, como a serviço próprio funcionam as corporações e sindicatos, que Lula conheceu e governou. Nesse ponto, Lula encontra-se com Bolsonaro e com outros adversários, todos a favor de um Estado que se justifique em si mesmo.
Ao eleitor caberá a decisão sobre o caminho a tomar, não só quando ele dirá quem será o Presidente do Brasil a partir de janeiro do próximo ano, mas também ao escolher os demais personagens que darão vida às normas e decisões que regulam o modo como o Estado funciona, caso dos deputados, senadores e governadores.
As campanhas dos candidatos têm o objetivo de convocar e convencer os eleitores, mas há eleitores com consciências sequestradas pelos defensores do modelo de apropriação do Estado pelos seus agentes. Na eleição saberemos quem está em maioria.
O sequestro das consciências se faz pela troca do conceito de direito pelo de favores. Os agentes deixam de ser prestadores de serviços à cidadania, pagos para isso, para serem agentes da caridade pública, do mesmo modo pagos com salários que os agentes julgam atos de reconhecimento pelas atitudes de compaixão.
Os agentes eleitos sequestram a consciência do eleitor e depois, levam-na à uma situação que a psicologia denominou de Síndrome de Estocolmo, que se dá quando a vítima cria afeto pelo agressor, por acreditar que a agressão poderia ser maior e não é, por benevolência de quem agride. Por exemplo: o desvio do dinheiro é recompensado com bolsas isso, bolsas aquilo, pelo tráfico de influência para empregar um amigo, filho ou aliado, pelo empréstimo no banco público e matrícula na creche. E a vítima agradece. Agradece e vota.
O evento que deu à psiquiatria o conceito da síndrome de Estocolmo aconteceu há 48 anos, no dia 23 de agosto de 1973, quando um sujeito, Jan-Erik Olsson (Janne Olsson) assaltou uma filial do Kreditbanken, em Estocolmo, e fez reféns e esses reféns, numa situação limite de pânico e desespero, acreditaram que os sequestradores, por não lhes terem tirado a vida ou feito mal maior, deveriam ser amados e receber agradecimentos.
“Para comprovar a grandeza dos meus atos”, diz o candidato em campanha, “Eu preciso, com mão de ferro, manter a situação no país sob o meu controle e isso vale também para a sua vida, quando eu evito que você faça mal a você mesmo, por ignorância”.
O fardo desse modelo tem sido pesado demais para não ser percebido por quem o carrega e só uma coisa justifica a decisão de quem o carrega de não jogá-lo fora: uma anomalia psíquica: a síndrome de Estocolmo.
Boa semana.
Foto: Divulgação
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