Luis Eduardo Bucciarelli*
Não é preciso fazer parte da gestão partidária para observar que a estratégia de atuação do NOVO vem sendo substancialmente mudada. Declarações e escolhas feitas nos últimos tempos mostram a busca por um caminho de crescimento por meio de atalhos, totalmente contrário a um dos princípios basilares do partido: a visão de longo prazo.
Muitos se espantam como um partido tão pequeno, pode gerar tanto barulho e discórdia. Mas a explicação é simples: o NOVO foi fundado para ser um partido diferente dos demais, para atrair cidadãos comuns que não aceitam mais as velhas práticas partidárias, e não para ser mais um. Isso faz com que seus filiados sempre questionem práticas incoerentes a esse princípio, o que acaba provocando atritos.
Isso se acentua com a direção errática do presidente Eduardo Ribeiro, que não aceita uma gestão colegiada, desrespeita o estatuto apelando a ferramentas inadequadas e manobra o processo seletivo para atingir seu objetivo de pacificação interna e, por consequência, manutenção do poder. Isso é ser NOVO?
O estatuto do partido organiza os diretórios como colegiados, sem atribuir peso diferenciado a nenhum de seus membros. Só que o atual presidente decidiu instituir um voto de minerva a si mesmo. A alteração estatutária seria possível, mas são necessários 75% dos votos convencionais. Diante da constatação de que não alcançaria votos para isso, Eduardo Ribeiro lançou mão de uma “resolução”, competência exclusiva do Diretório Nacional, e não da Convenção Nacional, encontrando assim uma forma irregular para ter esse poder.
A manobra representa mais poder aos presidentes dos diretórios estaduais presentes e votantes na convenção, e, principalmente, a seu idealizador, Eduardo Ribeiro. Já o colegiado e as discussões para tomadas de decisões perdem espaço, tudo baseado em um ato ilegítimo.
O processo seletivo para escolha dos candidatos, uma inovação pensada com as melhores intenções, também foi desvirtuado, mostrando que o partido não aprendeu com a absurda aprovação de Filipe Sabará à Prefeitura de São Paulo. Recentemente foram escolhidos como pré-candidatos à presidência e ao governo do Estado de SP, Felipe D’Ávila e Vinicius Poit, respectivamente. Tais processos deixaram perguntas em aberto:
– D’Ávila preencheu sua ficha de inscrição partidária no dia 29.09.2021, apenas dois dias antes do final do prazo determinado para indicação de nomes para participação no processo para candidatura presidencial; no entanto, sua filiação somente foi aceita no dia 07.10.2021. A primeira condição para aceitação de nomes indicados a esse processo era a de ser filiado, porém, na data limite para indicação de nomes, o Sr. D’Ávila não constava dos quadros partidários e, portanto, sequer poderia ter seu nome aceito pelos membros da Convenção Nacional. Regras não podem ser interpretadas a seu bel prazer.
– Anteriormente, o partido havia convidado seu fundador, João Amoedo, para ser seu pré-candidato às eleições presidenciais. À época, Amoedo contava com aproximadamente 5% das intenções de votos em pesquisas eleitorais e foi escolhido por mais de 90% dos convencionais. O edital permite que a busca do processo seletivo seja encerrada a qualquer tempo, mas um movimento da bancada federal lançando o nome do Deputado Thiago Mitraud foi a desculpa perfeita para não se encerrar o processo, mesmo quando ficou claro que o Deputado não atingiu o número de aprovações necessário para levar adiante sua candidatura. O não encerramento do processo deixou claro que um nome alternativo seria buscado para impedir a candidatura de Amoedo, que faz consistente oposição ao governo Bolsonaro. No entanto, assim que o deputado Vinicius Poit terminou seu processo seletivo ao governo paulista, diferentemente do ocorrido com Amoedo, o processo foi finalizado e encerrado, não permitindo que novos nomes pudessem ser apresentados. Por que não houve tratamento isonômico nos dois casos?
Todos os atuais mandatários foram eleitos graças a então marca diferenciada do NOVO. Hoje essa marca e esse projeto perdem credibilidade para atender interesses e projetos individuais. O NOVO foi criado para ser uma ferramenta de mudança da política brasileira, não para se conformar à política do compadrio.
Como Presidente do principal Diretório Municipal do país, não me sentia à vontade em compactuar com tantos erros e trabalhar por candidaturas sem propósito, que só servem para atender desejos da bancada federal de ter um candidato fraco ou a projetos individuais futuros de quem quer que seja. Não poderia continuar ocupando cargo de dirigente e parecer conivente com essa situação.
Com pesar, renunciei à posição de dirigente desse projeto desvirtuado, e me coloco à disposição do partido em seu projeto original, com princípios e valores de integridade em sua essência, para melhorar de fato a vida do brasileiro.
*Ex-Presidente do Diretório Municipal de SP do NOVO
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