Que político é movido pela conveniência não é novidade para ninguém. Mas tem vezes que a conveniência transforma o discurso muito dissonante das ações. São verdadeiras roupagens que procuram enganar a população, e esconder que a essência do político é bem diferente da que ele se apresenta.
É o caso de 2018, quando muitos políticos vestiram a roupa do PSL por conveniência por verem a oportunidade de se elegerem pelo partido de Bolsonaro. As roupas desses candidatos tinham sempre o mesmo jeito: costura liberal, estilo de pessoa de família e sapatos esmagadores de “esquerdalha”.
Esse tipo de vestimenta conseguiu eleger muita gente. Tanto aqueles que tinham a marca original do PSL, quanto aqueles candidatos de outros partidos que adquiriram uma roupa pirateada e adequaram seu guarda-roupa ao estilo bolsonarista.
Agora que a população percebeu que a roupa do PSL não chega nem aos pés da qualidade de uma YSL, os políticos medíocres que entregaram mandatos medíocres estão em busca de outro modelito para esconder a essência oportunista do seu ser. Eles nunca foram liberais, nem família, tampouco entendem a importância de um posicionamento ideológico para a política; o que eles querem é desfilar qualquer coisa que impressione o eleitor.
Pois bem, o escolhido da vez é o PODEMOS, partido escolhido por Sérgio Moro para se candidatar à presidência. O traje agora tem uma capa de anticorrupção e aqueles que agora migram para o PODEMOS esperam poder usar esse acessório.
Para entendermos se a pauta natural do Moro pode ser transferida automaticamente para sua nominata é necessário compreendermos a estrutura partidária do PODEMOS e a forma que ele realiza a seleção dos seus representantes. Ou seja, temos que refletir se o partido é o guarda-roupa ideal para o traje do Moro.
O PODEMOS é o antigo PTN (Partido Trabalhista Nacional), mas é liderado pela mesma família desde sua fundação, o que deixa bem claro que a mudança foi apenas externa. No estatuto do partido fica bem claro que o propósito do seu fazer está diretamente ligado ao financiamento do seu projeto partidário, vide que:
O artigo 72, capítulo IV, deixa claro que o candidato deve assinar um Termo de Contribuição Financeira se comprometendo a passar 5% da sua receita para o partido. Ou seja, independentemente da qualidade do mandato que o partido vai entregar para o cidadão, o que importa para ele é eleger candidato, pois assim ele engorda o cofre.
Ainda no artigo 72, capítulo VI, o partido obriga o candidato, caso eleito, a se comprometer em acolher indicação da Comissão Executiva do Partido para preenchimento de até ¼ (um quarto) dos cargos de gabinete por indicados filiados ao PODEMOS. Em outras palavras, a moeda de troca e a indicação do partido é bancada pelo dinheiro público que financia os cargos do mandatário.
Ora bolas, como acabar com a corrupção se o favorecimento aos caciques partidários está no DNA do partido?
A relação entre partidos políticos e a corrupção é forte no Brasil. A origem da corrupção na política começa na campanha, quando se faz caixa dois para usar dinheiro doado ilegalmente e combina-se moeda de troca a favor de combinações escusas. Tudo isso acontece sob o olhar atento dos caciques partidários.
Precisamos entender que a pauta anticorrupção é uma pauta do Moro, ela não pode, nem deve ser transferida para uma nominata escolhida por critérios da velha política. O PODEMOS é o PSL de 4 anos atrás. Apenas mais uma roupagem para acolher oportunistas que buscam na onda de Moro se sustentarem na política. Como bem me alertou meu amigo e mestre do voluntariado, Sidney Timbó, a verdadeira roupa dessa galera que está indo para o PODEMOS é o “QUEREMOS”. São aqueles que estão na política para cuidar do próprio umbigo e a população se dane. Só espero que o eleitor tenha amadurecido e consiga separar o joio do trigo, que consiga identificar aqueles que migram de partido em partido sem deixar claro para o eleitor o que de fato eles acreditam e defendem.
Foto: Sérgio Moro ao lado de Renata Abreu, presidente do Podemos. Divulgação/Podemos