A oficialização do Bitcoin como uma das moedas oficiais de El Salvador gerou, em parte do mundo liberal, entusiasmo e sensação de avanço da liberdade. Mas a liberdade financeira que a criptomoeda parece trazer, de um lado, não parece se traduzir no campo das liberdades civis, de outro, ao menos de acordo com suspeitas levantadas por vítimas de um ataque denunciado pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos. [1][2]
Após análise de cibersegurança feita por uma parceria entre a Universidade de Toronto, no Canadá, e um grupo de defesa dos direitos digitais, foi descoberto que um conjunto de, pelo menos, 22 jornalistas ligados a um veículo que investiga o governo teriam tido o celular hackeado. Ativistas críticos ao governo também teriam sido alvo dos ataques.
Ao saber da informação, o jornal “El faro” atribuiu, em editorial, as invasões digitais ao governo comandado pelo controverso presidente Nayib Bukele – o mesmo que oficializou o Bitcoin.
“Entendemos que nosso jornalismo nos colocou em rota de colisão com um presidente que conseguiu obter o controle – em alguns casos, ilegalmente – de todas as instituições estatais, que destruiu todos os caminhos para os cidadãos exigirem informações públicas e que descarta qualquer verdade que não a sua e qualquer realidade diferente daquela que o proclama o único intérprete da história nacional”, afirmou o editorial.
No centro da suspeita, a provável utilização do software Pegasus, produzido pela empresa israelense NSO Group e que só comercializa a tecnologia para governos. De acordo com informações preliminares, o Pegasus seria capaz de invadir até celulares desligados, ler mensagens apagadas ou até mesmo captar o microfone dos celulares sem autorização.
O presidente de El Salvador, por outro lado, negou que o ataque tenha sido orquestrado pelo governo e afirmou, ainda, que o país não é cliente da empresa que produz o chamado “spyware”.