*Marcus Vinicius Dias
A 1ª vez que ouvi falar de Olavo de Carvalho foi em 1995, no Diário da Corte, coluna semanal do Paulo Francis. Numa nota curta em uma 5ª feira daquele ano, Francis chamava a atenção para a originalidade do pensamento do até então pouco conhecido jornalista, escritor e filósofo paulista. Tempos depois, num Manhattan Connection, numa noite de domingo, o soldado fanfarrão mencionou novamente o nome de Olavo. Não tardou muito tempo para um amigo de faculdade (na época eu cursava engenharia na UERJ), que tinha alguma relação com o então proprietário da Faculdade da Cidade, Ronald Levinsohn, me dizer que eu tinha que conhecer um cara que dava aulas, na hoje UNIVERCIDADE, às quartas a noite. Era o professor…
Eu era ainda adolescente em busca da identidade adulta, não estava satisfeito com o curso em que havia ingressado na universidade e tinha uma enorme curiosidade em aprender sobre as coisas. Olavo morava no Rio de Janeiro mas estava prestes a se mudar para Petrópolis. Fumava um cigarro atrás do outro, tinha visivelmente os dentes comprometidos e faltando em alguns espaços, e explicava as coisas de um modo tão fácil que até um jumento compreenderia. Roxane, sua inseparável companheira, era de uma gentileza tão grande que chegava a nos constranger. A média de alunos era inferior a 10. A idade, era na faixa etária dos meus pais, creio, à exceção de Pedro Sette Camara, que deveria ter uns 4 anos a minha frente.
O custo do curso eram 400 reais, acho, mensais, soma impensável para mim à época. Não paguei em dinheiro. Meu acordo era transcrever as aulas. Frequentei lá alguns meses antes de decidir abandonar a faculdade e seguir outro rumo. Falei depois com o Professor pelo telefone pouco antes dele ir para a Romênia. Por e-mail, outras poucas ocasiões. Surpresa alguma para mim quando o autor do irreverente “O imbecil coletivo” se tornou o principal intelectual do Brasil, influenciando a cultura nacional, sozinho, como se fora uma universidade inteira.
Sua notoriedade, lamentavelmente, se deu muito mais por tirinhas de twitter e facebook do que por sua obra filosófica. Perto do seu “Aristóteles sob nova perspectiva” e sobre sua teoria das camadas da personalidade, o True Outspeak é papo de botequim. Seu papel em colocar em circulação autores completamente desconhecidos por aqui, como Roger Scruton, Louis Lavelle, Bernard Lonergan e tantos outros, foi fundamental para ajudar a criar um grupo de pessoas que pensasse além da cartilha marxista hegemônica nos círculos universitários.
O seu Curso Online de Filosofia faz bem para o intelecto, para o corpo, mas sobretudo para a alma. Pode ser mais útil que infinitas sessões de terapia para nos auxiliar a superar alguns medos e ansiedades. Ver que ao nos deixar Olavo tem sido reduzido a líder de grupo político, palpiteiro eleitoral ou algo do gênero, me parece mais depreciativo do que nomeá-lo como astrólogo.
Neste momento de adeus, quero crer que possa ser um até outro dia. E antevendo apropriações e calúnias inverídicas de seu legado por grupos políticos, me autodeclaro aqui que não fui aluno do Professor Olavo. Isso é coisa que Platão foi de Sócrates e Aristóteles foi do 1º. Sou apenas um admirador e um agradecido pela ajuda que dele recebi de modo generoso. Obrigado, mestre, por me ensinar a diferença entre o discurso poético e o científico: isso me permitiu tratar melhor os meus pacientes; obrigado por me mostrar que é necessário ir além da camada 4: isso tem me ajudado na criação dos meus filhos; meu muito obrigado por me mostrar que ideologias não são virtuosas em si, que o conservadorismo não é valor absoluto, que o liberalismo, em abstrato, pode ser tão utópico quanto o socialismo, e que o direito à vida, em face a liberdade, é infinitamente mais universal.
*Marcus Vinicius Dias é médico e gestor público.
Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal.