fbpx

O sequestro da política pelo CORPORATIVISMO brasileiro (Em parceria com Zaíra Azeredo)

Compartilhe

O filme “Não olhe para cima” faz uma sátira à política hipócrita e rendida ao corporativismo. Apesar de mostrar a complexidade da contemporaneidade e expor diversos atores que influenciam nos resultados medíocres que hoje apresentamos enquanto sociedade, o filme é determinístico em atribuir ao corporativismo o papel de principal vilão. Foi a empresa fictícia de tecnologia que influenciou a presidente dos EUA a abortar a primeira missão de destruição do meteoro que se dirigia em direção a Terra, e fez isso convencendo a população de que era o melhor a ser feito. Na vida real, não temos apenas uma empresa, mas uma teia complexa a ser desvendada para compreender aqueles que influenciam os gestores públicos a atuarem de acordo com os seus interesses privados em detrimento do interesse público.

No Brasil, o corporativismo prejudicou avanços importantes para o país, desde o Império, e sofremos suas consequências, até hoje. Foi o corporativismo da época, por exemplo, que abortou a obra de transposição do rio São Francisco, que buscava reduzir a seca nordestina. A apatia dos governantes em relação ao Nordeste provocou, ao longo dos anos, um fluxo migratório desequilibrado no país com efeitos graves sobre a ocupação do solo nas grandes cidades do Sudeste. Também foi o corporativismo que durante o golpe da república acabou por impedir a reforma agrária, que daria terras e condições de independência aos 800 mil escravos libertos, nos moldes como foi feito nos EUA, cem anos antes. A incapacidade de ofertar oportunidade de vida digna aos recém libertos, fez com que o Brasil não tivesse sua raiz escravocrata, verdadeiramente, rompida e acabou por perpetuar um uma sociedade extremamente desigual e violenta. Na era Vargas, observamos o protecionismo ser motivado estritamente por interesses corporativistas, de tal forma que a indústria brasileira se desenvolveu em um ambiente adverso à inovação, com impactos negativos para a sua competitividade.

O corporativismo embala seu projeto para que ele seja palatável ao povo. Com o discurso de proteger empregos, de desenvolver a indústria nacional, de garantir a autodefesa do cidadão, o corporativismo esconde da massa seus verdadeiros propósitos. É com a ajuda da potente narrativa dos políticos que a solução que traria maior bem-estar, no longo prazo, é abandonada para favorecer interesses privados e personalíssimos. Foi assim que o Brasil comemorou o plano de Metas de Juscelino, que na verdade era um grande plano de endividamento para favorecer o corporativismo alinhado. Foi assim que o governo Lula proporcionou uma lucratividade oito vezes maior ao setor bancário que o governo FHC. Foi assim que Bolsonaro conseguiu beneficiar a atuação de milicianos ao facilitar o armamento privado.

Ao longo da República, em nenhum governo, o corporativismo deixou de operar. Sua atuação se tornou cada vez mais complexa e intensa. Foi ele que legitimou as ditaduras e as derrubou. Foi ele que manipulou a opinião pública, por meio de suas entranhas na imprensa para sustentar regimes fragilmente democráticos. Na verdade, nos tornamos reféns do corporativismo. E os políticos eleitos, seus cúmplices.

No próximo artigo da série vamos destrinchar o corporativismo contemporâneo, quem são eles, como eles operam e o caminho para nos libertarmos dele. Nos aguarde!

*Este artigo faz parte da série Corporativismos. Artigo (01/02).

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

plugins premium WordPress
Are you sure want to unlock this post?
Unlock left : 0
Are you sure want to cancel subscription?