Faltam menos de seis meses para as eleições de 2022 e, com cada vez mais frequência, pesquisas eleitorais têm sido divulgadas e utilizadas para traçar o panorama das candidaturas. Como ler os resultados de forma profissional? O que é possível reverter nos quadros que se desenham?
Para falar do assunto, o Boletim da Liberdade fez 5 perguntas para o jornalista Mario Marques. Com quase 20 anos atuando veículos de imprensa, tendo sido, inclusive, superintendente da EBC, Marques fundou em 2009 a agência de marketing LabPop, atualmente especializada em marketing político. Confira:
Boletim da Liberdade: Faltam 6 meses para a eleição e cada vez mais pesquisas de intenção de voto têm sido divulgadas. Como devemos enxergar essas pesquisas feitas com tanta antecedência? É possível o quadro mudar muito?
Mario Marques: Muitas vezes as pessoas confundem pesquisa com resultado eleitoral. Se você faz uma pesquisa hoje dificilmente o quadro será o mesmo próximo da eleição. O desejo e as motivações do eleitorado, o cenário vai mudando de acordo com a movimentação das peças. E também tem a ver com a estratégia dos atores. Muitos se esfacelam indo na direção errada.
Boletim da Liberdade: Parte das pesquisas de intenção de voto ainda são feitas por meio de telefone. Esse método, na avaliação do sr., ainda é confiável em pleno 2022?
Mario Marques: Eu diria que as pesquisas por telefone podem, sim, ser confiáveis. A questão é que não sabemos como são feitas, por dentro, as amostras, como elas são colhidas. Alguns institutos usam o sistema de Ura, automático, e nesse modelo não acredito. De toda forma, os institutos de pesquisa precisam se remodelar, assimilar novos processos e refinar a metodologia. Eu por exemplo considero que na reta final não basta mais só uma quantitativa. É preciso monitorar também o ambiente de rede social com sistemas sofisticados de medição. Já houve momentos em que meu monitoramento de rede social se aproximou mais do resultado do que a quantitativa. A partir daí usamos os dois processos nos últimos 15 dias de campanha.
Boletim da Liberdade: Das pesquisas feitas até aqui, é possível concluir quais são os maiores desafios dos principais pré-candidatos à presidência? Caso sim, quais o sr. considera?
Mario Marques: As estratégias de João Doria e Sérgio Moro se mostraram equivocadas ao decidir bater no Lula e no Bolsonaro ao mesmo tempo. A questão central dessa eleição, para chegar próximo de Lula e Bolsonaro, é escolher apenas um deles. Se Ciro quer chegar ao segundo turno, o adversário é Lula e não Bolsonaro. Ele precisa se mostrar mais apto do que Lula para enfrentar Bolsonaro. Se Moro ou Doria querem tirar Bolsonaro da briga têm que mostrar que são mais fortes e preparados do que ele para enfrentar Lula. Quando você bate nos dois, a rejeição do eleitorado de ambos acaba pondo você num espiral sem saída. Terceira via não existe. O que existe é um terceiro candidato que precisa tomar o lugar de um dos dois que estão à frente, cada um em seu corredor ideológico.
Boletim da Liberdade: Na avaliação do sr., com base nos números das pesquisas feitas pela Prefab e outros institutos, é possível ainda acreditar na possibilidade de uma terceira via na eleição presidencial?
Mario Marques: Como disse, não existe terceira via. Existe um terceiro candidato, e pelo que se viu até agora tudo me parece meio no desespero, meio no fígado, meio na gambiarra a tentativa de superar Bolsonaro ou Lula. Faltam atributos aos que pretendem ir ao segundo turno. Acho cedo para dizer que a eleição se manterá entre Lula e Bolsonaro. Dois players que podem fazer barulho no meio dessa confusão são André Janones e Simone Tebet. Precisamos aguardar mais. A máquina do governo está se fortalecendo, a pandemia arrefeceu, o auxílio emergencial vai botar dinheiro no bolso dos desempregados e a tendência é Bolsonaro crescer nas pesquisas.
Boletim da Liberdade: Para além das pesquisas de intenção de voto, os levantamentos feitos pelos institutos de pesquisa apontam alguma oportunidade ou fato novo sobre o clima do eleitorado para esse 2022?
Mario Marques: O que me espanta, fugindo à sua pergunta, é como os veículos de comunicação têm publicado pesquisas de institutos bancadas por bancos, mas encomendadas por candidatos. Não existe mais isenção. Tudo virou uma grande bagunça. Os grandes veículos de comunicação estão absolutamente perdidos sobre que caminhos seguir. Já passou da hora de se criar núcleos de pesquisa dentro dos jornais e portais. Mesmo que tenham também seus próprios interesses, ao menos não ficam à mercê de um sistema fake, que vende imparcialidade e entrega manipulação. Sobre o eleitorado, essa será a eleição da carne e do frango na mesa.