O Presidente Bolsonaro e aliados nos têm apontado a Venezuela como exemplo do que poderá ser o Brasil se o povo brasileiro devolver a Presidência da República ao Lula. Será? Antes de responder, é bom que a gente lembre que o Brasil já teve um Hugo Chávez para chamar de seu e ele resolveu dar fim à própria vida a esperar ser enterrado vivo.
Após Getúlio Vargas o Brasil viveu crises políticas e econômicas. Antes também. Muitas! Mas, de todas elas saiu fortalecido e conseguiu construir um parque de empresas privadas, empreendedores e instrumentos de gestão pública que constituem obstáculos intransponíveis para que gente como Lula nos leve à situação da Venezuela. Já tentaram. E como tentaram! Mas, não conseguiram, porque encontraram pelo caminho gente que se opõe e sabe o que diz. Com Lula na Presidência da República, teremos dores de cabeça e dificuldades econômicas imensas, mas não a ponto de nos levar a ser o que é a Venezuela hoje.
Sobre a Venezuela, Pedro Rafael e Paulo Velasco organizaram um conjunto de textos para compor o livro “A Venezuela e o Chavismo em Perspectiva”. O lançamento acontecerá na próxima quarta-feira, às 19 horas, na Livraria da Travessa, no Shopping Leblon, local de fácil acesso, pois está situado às portas do metrô, com bom trânsito de ônibus e amplo estacionamento. Pedro Rafael está com 29 anos e tem uma vida intelectual intensa. É um liberal. Paulo Velasco é doutor em Ciência Política e mestre em Relações Internacionais. Os dois fazem parte de um grupo de pensadores que eu tenho dito o prazer de conhecer e algumas vezes de conversar. O Boletim da Liberdade me abriu as portas.
Desse grupo, participa também Lucas Berlanza, que durante a semana passada foi entrevistado pelo jornal Zero Hora de Porto Alegre. Na entrevista ele tocou num tema que pode ser inserido no contexto das causas da desgraça econômica que vive a Venezuela e dos riscos que coloca sobre o Brasil. Diz ele: “Os discursos populistas ainda são os que mais encantam as massas, infelizmente”. Serão sempre, porque prometem governos grátis e riqueza em trabalho. Não conseguem cumprir porque isso não existe.
A economia é reflexo das decisões e ações políticas de um povo, que é o senhor soberano numa democracia. Quando existe ditadura, ela é fruto da covardia de muitos e da submissão completa dos agentes do Estado às vontades e caprichos dos ditadores. Ora, não há ditadores sustentados só sobre os próprios pés. No início eles garantem governos grátis e favores. Depois que arrebanham os obedientes e contam com os omissos, fazem de tudo para permanecerem no poder e para isso, tiram do caminho que os enfrenta.
Nicolás Maduro continua Presidente da Venezuela, porque foi reeleito em 2018, O poder que ele detém permitiu-lhe anular os adversários e criar uma campanha eleitoral com todas as garantias de comparecimento só dos seus aliados e eleitores.
No dia da eleição – dia antecipado por estratégia – o partido de Maduro espalhou tendas com cores vermelhas nas vizinhanças dos locais de votação e recepcionou os eleitores. Parecia não ser suficiente ter calado e expulsado os opositores. Era preciso humilhá-los.
Os funcionários do partido de Maduro identificavam os eleitores com os cartões de benefícios e favores distribuídos pelo governo e tudo era registrado com QR CODE. O cinismo convocou observadores internacionais selecionados pelo ditador para dar legitimidade à eleição.
Maduro é resultado da morte de Chávez, que surgiu na política venezuelana nas manifestações contra o Presidente Carlos Andrés Peres. Chávez, um paraquedista componente do Exército da Venezuela foi preso como conspirador. Carlos Andrés Pérez sofreu impeachment. O povo foi chamado para novas eleições. Rafael Caldera foi eleito e deu indulto aos presos políticos. Para indultar Chávez, o presidente conseguiu dele o compromisso de, em sendo militar, não se meter mais em política.
Chávez prometeu, não cumpriu e com discursos longos, carismáticos e inflamados, venceu a eleição para a Presidência cinco anos depois de deixar a cadeia. O resto é Maduro.
Com os olhos na história da Venezuela, o que se pode fazer para evitar que o Brasil permaneça na trajetória de uma economia medíocre e de uma política que nos envergonha?
A primeira providência e não indultar quem nos colocou neste caminho. E, neste caso, o eleitor é o agente que pode indultar ou punir. Por isso, não tem outro caminho a não ser votar e antes de votar, convencer e, para convencer, debater, como andam a fazer Pedro Rafael, Velasco, Berlanza e muitos jovens que estão no front apresentando suas ideias e enfrentando o tema.
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr