Uma eleição num país presidencialista define o governo e a oposição. Quem vence, governa e quem perde, se opõe na busca de, em outro momento, ser governo.
Contudo, somos um presidencialismo meio estranho, que anula a oposição aos governos, na esteira de algo que deram o nome de Presidencialismo de Coalizão. Os candidatos que perdem encontram um meio de acomodarem-se no governo, para separarem-se, novamente, por conveniência do voto, quando uma nova eleição se avizinha.
Com o mesmo objetivo de ser oposição e governo ao mesmo tempo, criou-se o discurso das decisões convenientes ao povo, mas sem perguntar a ele. Criou-se a regra de votar com o governo quando a matéria interessa ao povo e votar contra, quando as decisões são contra o povo. Mas, o povo não se pronuncia.
Ora, todas as medidas de qualquer governo podem ser aprimoradas e, por isso, contestadas. Não sendo desse modo, a oposição perde o sentido e o eleitor que nela votou fica confuso. Foi o que aconteceu com o partido Novo que, durante todo o tempo do governo de Jair Bolsonaro, passou a imagem de um partido sem identidade.
Dito isso, eu me atrevo a levantar uma questão: quem, entre os candidatos à Presidência, será capaz de, uma vez eleito, defender o que desejam os liberais e esse candidato, uma vez derrotado, terá disposição para permanecer na política e liderar uma oposição ao vencedor?
Na eleição passada, aquela de 2018, João Amoedo, candidato a presidente pelo partido Novo, apresentou-se como um liberal na economia e conservador nos costumes. Disse isso, com todas as letras, em vários lugares, em especial e com mais detalhes, no Programa Roda Viva, que foi ao ar no dia 21 de maio daquele ano.
A jornalista Raquel Landim, da Folha de São Paulo, levantou a bola: “O senhor é um candidato liberal ou conservador? O liberal clássico é liberal em todo o espectro e não só na Economia. É a favor do aborto e da liberalização das drogas”. Amoedo retrucou e assumiu o papel de liberal na economia e conservador nos costumes. Pauta semelhante, naquele momento, à apresentada pelo Jair Bolsonaro e avalizada pelo liberal Paulo Guedes.
Na eleição, João Amoedo foi derrotado no primeiro turno. Ele e os liberais, por óbvio, abraçaram a candidatura de Jair Bolsonaro. Iniciado o governo, conhecidas as primeiras medidas e a retração da pauta liberal, João Amoedo tentou erguer uma oposição dos liberais. Quem conquistou algum mandato pelo partido se insurgiu. A decisão era votar com o governo, quando isso interessasse ao povo e etc. Ainda sem ouvir o povo.
O que houve na relação do João Amoedo com o partido, todos conhecemos e está disponível nas redes. Mas, agora, entramos em 2022, quando o partido Novo escolheu Luiz Felipe D’ávila para disputar a Presidência da República e ele demarcou o terreno, para mostrar-se liberal.
Para onde iremos nós, os que entendemos que o Estado deve ter um papel bem diferente do que tem hoje na vida dos brasileiros, se Felipe D’ávila, o candidato liberal, não estiver no segundo turno? Seguiremos a pauta de 2018, para votar, novamente, no Jair Bolsonaro? De que lado, estarão Dávilla e o partido Novo? Em Minas Gerais, berço do único governador do partido, Romeu Zema, o Novo, ao que se ouve, fará alianças à esquerda, com o Cidadania e à direita com o PP. Cidadania com Lula, PP com Jair Bolsonaro.
Que encruzilhada, gente! Mas, seja como for a decisão dos liberais no segundo turno, uma oposição deles a qualquer um dos governos que sair das urnas em outubro será uma estratégia excelente para que a nossa agenda não se perca como se perdeu no primeiro governo do Jair Bolsonaro.
Foto: José Cruz/Agência Brasil