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A montanha pariu um rato!

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Ontem, domingo, 28 de agosto, “a montanha pariu um rato”. Esperava-se algo mais do encontro entre os que disputam a Presidência da República. Foi um encontro chato, onde os candidatos fizeram de tudo para esconder o que pensam com as palavras que diziam. O evento nada acrescentou à campanha, nem ajudou os eleitores a escolher. Tudo terminou como começou. Cada um saiu com o que já tinha. A Folha de São Paulo fez pesquisa qualitativa com indecisos. O resultado divulgado foi só mais um ato político do veículo.

Esperei melhor desempenho do candidato Luiz Felipe D’avila, porque, entre todas e todos, ele é o único com a bandeira de não intromissão dos agentes do Estado Brasileiro na vida das pessoas, porque isso atormenta a vida de quem queira trabalhar, inibe e dificulta a iniciativa pessoal e protege os agentes do Estado com privilégios. Mas, à medida que o tempo passava, D’avila não correspondia. Então, os interventores conseguiram navegar em mares calmos.

D’avila apelou para o discurso bizarro e estridente contra o Fundo Eleitoral, bandeira que não faz o menor sentido com o argumento de não uso do dinheiro do povo nas campanhas, á que ele e o partido dele utilizam, sem constrangimento, os horários eleitorais na TV e no rádio financiados pela mesma fonte. D’avila não questiona o modo de distribuição do dinheiro do povo entre os partidos e candidatos. Esse sim, o problema a ser resolvido. O modo como os partidos lidam com o Fundo Eleitoral dá aos donos das agremiações o poder de decidir quem, de verdade, é competitivo.

A Senadora Soraya só está na disputa pela Presidência, em razão da dificuldade que o partido dela, União Brasil, encontrou para compor com os pólos. Se o partido acertasse com Lula, deixaria Sérgio Moro numa situação bem pior do que ele já está, e o acerto do partido União Brasil com Jair Bolsonaro se tornou complicado, depois que o Presidente do Partido, Luciano Bivar tomou um passa fora do Presidente da República no início do mandato. E foi Soraya quem enquadrou D’avila.

Afinal, quem governará o Brasil, após janeiro de 2023. Se for Jair Bolsonaro, Lula ou, quem sabe, Ciro e Simone Tebet, ou os membros do Supremo Tribunal Federal como está posto agora, o governo não será uma prerrogativa do povo, condição essencial para o conceito de democracia. O povo brasileiro, nem diretamente, nem por intermédio de seus representantes, exerce o poder, porque não consegue governar o Estado. E, não é pelo fato de o Estado ser ingovernável, nem pela circunstância de o povo não votar. O povo vota, mas em quem os partidos selecionam, com o poder de financiar os que são subservientes aos donos.

Numa democracia, as eleições são o método usado pelo povo para escolher entre os seus, aqueles que administram o Estado em seu nome e não no seu lugar. Na democracia, o Estado é instrumento garantidor da liberdade e dos direitos assegurados pelas leis criadas pelo mesmo povo. Não se tem isso por aqui, terra onde qualquer ser que se acredite iluminado cria leis.

Os candidatos ontem exploraram a fome, a religiosidade e tudo aquilo que acreditam, seja tema de agrado do povo. Há fome? Sim há. Entre os agentes do Estado? Nunca. O Estado é laico? Dizem que sim, mas os agentes do Estado financiam templos com privilégio fiscal, colocam crucifixos nos espaços públicos e comemoram datas da religiosidade.

Outra qualidade da democracia é a alternância na administração do Estado, sem traumas, sem riscos e sem medo. O povo, pelo exercício do voto, muda quem governa o Estado sempre que entender que isso será melhor para ele e ninguém está autorizado a contrariar essa vontade. Contudo, por aqui, a possibilidade de alternância é dita, pelos não democratas, como risco para a democracia. E a continuidade de um governo eleito pelo povo é considerada risco maior ainda. Até o liberal D’avila caminhou pela mesma estrada.

O povo pode decidir ter num momento governos socialistas e em outras ocasiões, governos liberais. No Brasil isso é um tanto difícil, porque os liberais não se apresentam e quando, por um milagre, um deles resolve apresentar-se, faz isso com uma comunicação sofisticada, complicada demais para ser compreendida pelas pessoas do povo.

No Brasil, quem ocupa posições no Estado ou tem influência direta sobre quem ocupa não gosta muito da ideia de ter um povo a governar o país. Os golpes políticos ocorridos ao longo da nossa História carregam esse sentimento. O povo elege, os agentes do Estado derrubam sem dar tempo ao povo para que se pronuncie novamente. Afinal, dizem os agentes do Estado, “o povo nunca sabe o que quer”.

Em outubro, quem tiver mais votos, governará o Estado e representará o povo no exercício dessa tarefa. Quem tiver menos votos estará vigilante e atuante para que, em outra oportunidade, possa vencer. pelo fato de ainda assim ter votos. Quem não vencer agora, formará a oposição aos que venceram. Até essa oportunidade, o partido NOVO perdeu.

Encerro com uma frase de San Tiago Dantas e uma lamentação minha. De San Tiago, o cuidado com a democracia. Disse ele, no momento em que foi paraninfo de uma das turmas de formandos da Faculdade Nacional de Direito: “Desse modo, se queremos pregar democracia aos povos, cumpre democratizar o Estado. Que os juristas brasileiros contribuam com os frutos de sua reflexão e da sua experiência, para que se crie um aparelho político, onde se projetem, com proporção e fidelidade, as grandes correntes de opinião…um sistema crítico de governo, em que as forças políticas contrárias possam exercer sua influência…”.

Por fim, mesmo com a consciência de que nenhuma eleição se decide antes que os eleitores se pronunciem, lamento bastante que Luiz Felipe D’ávila, único dos candidatos, verdadeiramente liberal, ainda não tenha compreendido que a disputa pela presidência da república é um projeto de comunicação que deve falar com todos os brasileiros e brasileiras, para que, ao falar com todos, se alcance a maioria deles.

Vê-se que a mensagem dele, repetidamente, é uma ladainha cansativa contra o uso do Fundo Eleitoral e com a pregação da economia que os deputados do Novo fazem ao não preencherem todos os cargos dos seus gabinetes. E quem disse que o povo quer que seja “x” ou “y” o número de assessores de um parlamentar?

Mas, a esperança é a última que morre.

Foto: Gabriel Reis

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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