Hoje, entrego a vocês o segundo artigo da série sobre a campanha para a Presidência da República.
A eleição deste ano equipara-se a um furacão que, na escala Saffir-Simpson, poderia ser enquadrado na categoria 2, com ventos no intervalo de 152 a 176 quilômetros por hora e alturas próximas de 3 metros. O furacão de 2018 foi mais cruel. Os dois eventos produziram escombros. Um deles, o PSDB, meu assunto de hoje.
Os sinais fracos das ameaças e oportunidades, dois conceitos da estratégia, começam a ser enxergados pelos estrategistas antes de serem percebidos por quem não lida com o tema. O acidente com o PSDB na eleição deste ano para presidente é um exemplo.
As ameaças à existência do PSDB deram sinais em 2005, no curso da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investigou o mensalão. Lá também se deu a oportunidade para evitar o desastre, mas quem estava no comando do partido não percebeu.
Na CPMI de 2005, o PT foi colocado nas cordas do ringue pelos jabs desferidos pelo PSDB contra o cabeça Luiz Inácio Lula da Silva. O PT quase foi a nocaute. Aventou-se a possibilidade de impeachment do Presidente da República.
No caminho, contudo, descobriu-se, que o Senador Eduardo Azeredo, Presidente Nacional do PSDB, usou na campanha dele para reeleição ao governo de Minas Gerais, o mesmo método de financiamento que incriminava o PT.
Naquele momento, o PSDB deveria ter jogado o Senador Azeredo ao mar, para salvar a tripulação e o navio. Foi a oportunidade de ouro para o partido mostrar que estava, de fato, com o desejo de combater os crimes denunciados por ele mesmo, de modo estridente, na CPMI.
Contudo, na voz autorizada do deputado federal Eduardo Paes, figura proeminente no partido naquele tempo, o PSDB justificou a atitude do Senador Azeredo, embora condenasse a do PT. Eduardo Paes agiu com o discurso de “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. O povo entendeu o recado: “somos todos iguais”.
O PSDB perdeu, então, a oportunidade de se consolidar na posição de combatente contra a corrupção e aumentou a ameaça à sua própria destruição, porque passou para a população brasileira a imagem de um sujeito roto que ri do esfarrapado.
Logo em seguida, Lula conseguiu ser reeleito na disputa com Alckmin, que perdeu votos na passagem do primeiro para o segundo turno. Algo inédito! Depois, José Serra foi derrotado por Dilma Rousseff e Aécio, idem.
Em 2010, o PSDB elegeu oito governadores – deu o suspiro da esperança, aquele que anuncia a morte – e em 2014, fez seis, em 2018, apenas três governadores. Dos três, dois quiseram ser candidatos a presidente este ano. Ficaram no caminho, depois de brigar um com o outro.
Com o comando isolado em São Paulo, o PSDB tentou recuperar-se aproveitando-se da pandemia, do histriônico jeito de fazer as coisas do governador João Doria e da juventude sóbria do Prefeito Bruno Covas.
Entretanto, o destino tirou Covas; a estratégia do Lula para fortalecer Fernando Haddad em São Paulo tirou Alckmin; as atitudes do Presidente Bolsonaro estimularam a arrogância do João Doria e tudo isso somado à vaidade intelectual de Fernando Henrique Cardoso fez do PSDB um dos escombros da eleição deste ano.
O que será feito do PSDB após a eleição? Terminaram as ameaças? Haverá oportunidade de recuperação? Quem será capaz de conduzir o processo?