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O debate

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Gente, ontem, ao assistir o debate entre Jair Bolsonaro e Lula lembrei muito dos dois debates promovidos pela TV Globo na campanha de 1989. O primeiro debate foi vencido por Lula. O segundo, por Collor, que no intervalo entre um e outro preparou o ambiente para desequilibrar Lula. Lula continua o mesmo, mais experiente sem dúvida e Bolsonaro tem mais sinceridade que Collor e, ao contrário dele, é autêntico.

Começo as minhas considerações sobre o debate de ontem pelas imagens, pois, na TV, nas telas, a imagem fala mais alto do que o que é dito. Por isso, o primeiro debate entre Nixon e Kennedy na disputa pela Presidência dos Estados Unidos tornou-se um “case” de comunicação. Kennedy venceu o debate na avaliação de quem assistiu o evento pela TV, o que não aconteceu com quem ouviu pelo rádio, porque Nixon, apesar de falar melhor e ter propostas mais consistentes, apresentou-se com uma imagem cansada, em desalinho com o que se espera ver num presidente.

Ontem Lula foi debochado, arrogante e tenso. Quando está tenso, Lula esfrega as mãos, como fez no segundo debate em 1989. Nervoso, Lula embola a língua e a dicção fica mais difícil. Parece que a pressa no raciocínio atropela a articulação das palavras. Jair Bolsonaro conseguiu o que parecia impossível em razão do modo como ele, normalmente, se apresenta e reage às acusações. Manteve o equilíbrio mesmo quando foi irônico, ao anunciar prazer em receber a pergunta da jornalista Vera Guimarães, que, no primeiro turno, arrancou dele uma reação arrogante e negativa. Jair Bolsonaro usou a ironia fina, aquela que não é transmitida pelo olhar nem pelo sorriso. Tenso, Jair Bolsonaro tosse. Tossiu no primeiro bloco somente.

No intervalo entre o primeiro e segundo bloco, os comentaristas criticaram Jair Bolsonaro por ele não encarar o Lula. Não olhar nos olhos do adversário. Pois bem, no segundo e no terceiro bloco, Jair Bolsonaro fixou o olhar nos olhos do Lula e para marcar bem a atitude, no segundo bloco, produziu uma extensa pausa enquanto olhava dentro dos olhos do adversário. Lula riu desconcertado. A mudança de comportamento mostrou que a assessoria de Jair Bolsonaro estava atenta aos críticos.

No jogo das imagens, Jair Bolsonaro levou vantagem e alcançou o nível mais alto na comparação, quando pediu que Lula ficasse posicionado ao lado dele, enquanto ele sugeria que a audiência consultasse o Google para comparar os dados de desmatamento na Amazônia. E pediu a presença do Lula sem parecer arrogante ou com raiva.

Um dos blocos foi entregue aos jornalistas, duas mulheres e dois homens, uma sutil notícia de equilíbrio de gêneros. Vera Guimarães, Patrícia Campos Mello, Rodolfo Schneider e Josias de Souza marcaram presença. A Vera estava um tanto rouca e passava tensão. Patrícia Campos Mello só estava tensa. As folhas tremiam nas mãos dela. Josias de Souza passou a imagem de uma pessoa irritada. Inconformada por estar alí. A relação entre os três poderes da República, em favor do Supremo Tribunal Federal, foi tema quase único dos quatro jornalistas.

As imagens dos intervalos entre os blocos mostraram Lula com um grupo bem maior de apoiadores em torno dele do que em volta do Jair Bolsonaro. Entre os apoiadores do Lula destacou-se a esposa, que pareceu alguém que, ao recompor a maquiagem dele, cuidava das feridas de um lutador de boxe nos intervalos entre os rounds. No córner de Jair Bolsonaro, estavam o filho Carlos e a presença ilustre do novel Senador da República, Sérgio Moro, que na entrevista final posicionou-se ao lado do candidato, quando ele anunciou que, reeleito, fará retornar a operação Lava-Jato, uma fragilidade do Lula.

Dos temas diversos, destaco a Petrobras, que patrocinou o debate sobre privatização e a relação que um Presidente da República deve ter com o Supremo Tribunal Federal. Lula ficou enroscado na teia que Jair Bolsonaro lançou, quando comentou a decisão do Ministro Fachin a favor dele. Encostado no púlpito atrás de Bolsonaro, Lula demonstrou desconforto. Sobre a privatização, a diferença de posição entre um e outro ficou evidente. Não aconteceu o que houve na campanha de Geraldo Alckmin contra Lula.

O teor das considerações finais destacou o tema de cada campanha. Jair Bolsonaro com a pauta da família, do combate às drogas e contra o aborto e Lula com a bandeira de defesa da democracia. Também nas considerações finais, Bolsonaro saiu-se melhor. O discurso de Lula a favor da democracia ficou frágil depois que ele não enfrentou bem a relação dele com o Presidente da Nicarágua.

Por fim, meus aplausos para o pool de emissoras pelo formato do debate, que, ao contrário do que sempre aconteceu por aqui, permitiu o confronto direto entre os dois candidatos, deixando com eles a liberdade de decidir o que fazer com o tempo razoável de 15 minutos oferecido em cada um dos dois blocos de perguntas e respostas entre eles. O formato vestiu uma saia-justa na TV Globo. Esperemos para ver o que será o debate lá.

Enquanto tudo isso acontecia, a turma do Partido Novo andou preocupada com a declaração de voto do empresário João Amoedo, como se isso fosse relevante para o resto do país. Aconselho que deixem o João em paz, no sossego dele, a curar sozinho as próprias feridas. O Partido Novo agora é assunto para quem, por lá tem votos e esse alguém é o governador Zema.

Aviso

As opiniões contidas nos artigos nem sempre representam as posições editoriais do Boletim da Liberdade, tampouco de seus editores.

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