Em 2016, durante a campanha em que a democrata Hillary Clinton disputou com o republicando Donald Trump, o escritor Michael Moore esteve no mais forte reduto dos republicanos, Ohio, para defender a candidatura de Hillary e fez um discurso brilhante, que ele encerrou com a seguinte frase: “A eleição de Trump será o seu grito de dane-se! E todos se sentirão bem… por um dia, por uma semana… por um mês. E então, se arrependerão, porque usaram o voto para exprimir uma revolta. Estarão ferrados”.
A frase é adaptável ao que aconteceu no Brasil em duas eleições. Ocorreu em 2018, quando o povo usou o voto para exprimir uma revolta contra Lula e aliados e neste ano, para demonstrar desprezo a Jair Bolsonaro. A gente, por vezes, esquece, aqui e em todo mundo, que existe vida após eleição. Lula venceu e com ele, o Estado brasileiro, que a partir de 2018, andou nas trilhas de se tornar menos interventor. E antes mesmo da posse do presidente eleito, já estamos vendo que o Estado quer vingança. Pretende ser maior, para recuperar o pouco, pouquíssimo espaço que perdeu.
Na nota à edição brasileira do livro “Democracia, O Deus que Falhou”, publicado pelo Instituto Mises Brasil em 2014, está dito: “O editor, Instituto Ludwig von Mises, em todas as suas obras, opta pela grafia “estado” com letra “e” minúscula, embora a norma culta sugira a grafia “Estado”(…). E cita a VEJA: “Se povo, sociedade, indivíduo, pessoa, liberdade, instituições, democracia, justiça são escritas com minúscula, não há razão para escrever estado com maiúscula”.
Perdoe-me a insolência! Fico com a grafia com maiúscula e, daqui por diante, colocaria em letras garrafais e escritas em vermelho, porque é como esse troço será daqui por diante. E nossa infelicidade como Nação, maior ainda. Um sentimento que está exposto num dos diálogos presentes no livro de Ayn Rand, o clássico, “A Revolta de Atlas”:
– Não gosto das coisas que estão acontecendo às pessoas, Srta. Taggart.
– O quê, exatamente?
– Não sei. Mas eu as venho observando há 20 anos e estou vendo a mudança. Elas costumavam passar às pressas por aqui, e era bom vê-las, era a pressa de homens que sabiam aonde estavam indo e ansiavam por chegar lá. Mas, agora, as pessoas correm porque estão com medo. Não são dirigidas por nenhuma força, são movidas pelo medo. Não estão indo a parte alguma, estão fugindo. E não acho que saibam do que desejam fugir. Não se olham entre si. Estremecem quando são tocadas. Elas riem muito, mas é um riso feio. Não é de alegria, é como uma súplica. Não sei o que está acontecendo com o mundo. – Ele deu de ombros. – Ora, pois: quem é John Galt?
Os agentes preguiçosos do ESTADO querem vingança e, para vingarem-se, não podem ter limites para gastar. Então, que se acabe com o “Teto de Gastos” antes mesmo de qualquer outra providência. “Humanitas precisa comer” (Quincas Borba). E “Humanitas” não é o povo faminto, mas os agentes gulosos. “Ao vencedor, as batatas”.
Se fosse para matar a fome do povo, o “Teto de gastos” seria ampliado. O ESTADO estaria obrigado a gastar bem menos, para que sob o poder de decisão do povo e das empresas, houvesse mais dinheiro para produzir trabalho e renda.
Bem que Deus avisou: “Este será o costume do rei que houver de reinar sobre vós (…). Ele tomará o melhor das vossas terras e das vossas vinhas, e dos vossos olivais, e os dará aos seus servos. E as vossas sementes, e as vossas vinhas dizimará, para dar aos seus oficiais e seus servos… Dizimará o vosso rebanho, e vós lhes servireis de servos”. (I Samuel 8 – 10 a 22).
Mas, há o que fazer agora, depois do resultado da eleição? Há. A Democracia, que não é Deus e que não falha, tem seus instrumentos para fazer com que a sociedade recupere o bom senso. Ela define que quem vence eleições governe e quem perde, faça oposição, fiscalize, não só para o povo não ser roubado, mas para evitar que dele se tome, sob qualquer argumento, mais do é necessário para que o estado – agora sim com “e” minúsculo, garante segurança pública e segurança jurídica, suas funções essenciais e únicas.
Há liberais no Congresso Nacional e alguns dos melhores chegarão lá, logo após a instalação do velho desgoverno, porque no desenho caótico da Constituição Federal, os fiscais só chegam depois que o governo começa. Não seria uma boa providência ter um “Shadow Cabinet”?
Sou brasileiro e não desisto.
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