O jornalista liberal Pedro Doria, editor do site “Meio”, sustentou em uma análise que o apoio do que chamou de liberais para o governo Lula (PT) deve ser mantido e pode ser importante para a sustentabilidade política da gestão do petista.
“Se pretende dar certo, neste governo precisarão conviver esquerda e liberais. Muitos deles têm mágoas profundas que vieram do passado. Mas o problema é o seguinte: a vitória eleitoral é de ambos. […] O embarque engajado de Simone Tebet, de Fernando Henrique, dos tucanos tradicionais, foi isso que fez a diferença. […] Não se trata aqui de dívida de gratidão por apoio ou por voto. O buraco é muito mais embaixo. Quando ficou claro que a democracia brasileira estava em risco, os dois grupos que se juntaram no mesmo lado da trincheira foram esses dois”, avaliou.
Para Doria, os próximos anos podem ser complicados e “Lula vai precisar de apoio”.
“Ele vai precisar ter ao seu lado a coalizão que foi construída para levá-lo até o Planalto. Pensa no Congresso Nacional. Na quantidade de parlamentares que foram eleitos no rastro de uma cultura política que se baseia em dois pontos: em um, que a mentira é do jogo e, dois, que o adversário é inimigo. A maneira como fazem política é mais parecida com o trabalho de influenciador em rede social. Ficam o tempo todo agitando suas bases, negociar não lhes interessam nunca. A maneira como essas pessoas fazem política destrói a democracia”, reclamou.
O passo para construir esse apoio, na avaliação do jornalista, é que o presidente faça um “governo de reconstrução democrática”, o que exige, por outro lado, também o compartilhamento de decisões.
“Se daqui dois anos o Governo Lula entrar em crise e só petistas defenderem o governo, num cenário de inflação alta, de recessão mundial, que é um cenário bastante provável, o que vai acontecer? Mas se esse não é o governo Lula, mas um governo de reconstrução democrática, no qual têm assento aqueles que escolheram defender a democracia, aí tem força. Aí o debate tem mais peso. Mas participar do governo não é só enfeitar com o nome, é compartilhar com decisões. O governo que Tancredo Neves não pôde fazer, Lula vai ter que fazer”.
Assista, abaixo, o vídeo completo: