Sei que perdi e sei o que perdi, porque, afinal de contas, não há um minuto do dia, de todos os dias, de todos os meses e de todos os anos, que passe sem pagar impostos e receber pouco, quase nada, dos agentes do Estado. Estado com “E” maiúsculo, porque no meu país o Estado é gigante, bem maior do que a Nação. É gigante e poderoso e não há Davi nem atiradeira que consiga levá-lo ao chão.
Perdi: para passar a vencer eu preciso que muita gente compreenda que andamos perdendo há bastante tempo, pois pagamos mais impostos do que valem os serviços que o Estado nos oferece. Bem mais! Precisamos ser muitos, formar uma multidão, porque a passagem do lado perdedor para o lado ganhador depende de eleições e eleições o Estado não ganha, toma. Toma? Como assim? Ele frauda? Não. Ele engana. Ele diz que todo o dinheiro que a gente entrega a ele é para matar a fome de pessoas infelizes que não conseguem por si mesmas, sobreviver. Ele afirma e tenta provar que todo o dinheiro que leva de nós é para dar oportunidades a pessoas às quais a natureza e a nossa ganância negaram.
O Estado nos diz que somos egoístas e por isso ele é intransigente ao tirar de nós mais de 30% do valor do nosso trabalho para que as pessoas que não podem dar educação aos seus filhos façam isso; para que as pessoas que precisam cuidar da saúde e não conseguem pagar médicos e remédios possam sobreviver com dignidade e gente que não tem casa possa ter. O Estado é justo! OK! Perdi. Sou um mané. Mas, eu não gostaria de parar por aqui. Quero ir um pouco adiante. Quero ponderar. Tá bom. Topo pagar escolas para os filhos de quem não pode pagar, afinal, quem nasce não é culpado pelo ato de irresponsabilidade de quem o colocou no mundo. Topo pagar pela saúde de quem não tem como cuidar de si, porque a doença é sorrateira. Topo dar casa para quem não tem e até comida para quem não possa, por si mesmo, conseguir o que comer. Mas, posso parar por aí?
Não preciso dar um tostão pela resposta.
Perdi, porque sou mesmo um mané, a ponto de entregar o meu voto a qualquer um que passa por mim a contar histórias de compaixão, de amor aos pobres, de paixão pela democracia, para esconder o propósito verdadeiro: viver às minhas custas sem me prestar obediência e contas.