A todo momento alguém me aponta razões para a derrota do Jair Bolsonaro. Deixe-me dizer uma coisa pra vocês. Se Jair Bolsonaro tivesse aproveitado a oportunidade que os eleitores deram a ele na presidência da república para fazer o que nós esperávamos que ele fizesse, esse monstrengo chamado Estado Brasileiro teria sido modificado a ponto de mostrar ao povo brasileiro que valeria a pena continuar o trabalho. Se isso tivesse acontecido – e a pandemia não foi o motivo para não acontecer – Lula poderia ter juntado tudo o que o Estado tem de autoritário sem sucesso. O povo teria compreendido que há uma maneira sim de se fazer governo de outro modo. Mas, Jair Bolsonaro preferiu o diabo da cloroquina e encher todas as medidas e paciências com uma ladainha interminável sobre um sistema eleitoral vulnerável e passou todo o tempo do governo a azucrinar os adversários e a jogar os aliados pela janela.
A derrota de Jair Bolsonaro foi anunciada em julho ou agosto de 2020, quando Paulo Uebel e Salim Mattar deixaram o governo. É conversa fiada dizer que a decisão de soltar o Lula e de torná-lo elegível iniciou o processo de derrota do Presidente. Paulo Uebel e Salim Mattar, juntos, estavam com a incumbência de desestatizar, desburocratizar e melhorar a gestão do governo com aproveitamento da tecnologia digital. Salim saiu. Uebel saiu. E, poucos meses depois, a CEAGESP ficou. Eu escrevi sobre a CEAGESP do Capitão. Lá deve estar uma placa de bronze com o nome do Capitão. O Boletim publicou o artigo no dia 21.12.2020, quase dia de Natal, como estamos agora. E assim como a CEAGESP todo o resto da estrutura do Estado Brasileiro permaneceu intacta à espera do retorno dos estatistas fissurados que andam na garupa do Lula da Silva.
Em janeiro de 21, o Boletim publicou “Guedes, o João Bobo”, texto meu para comentar o que chamei de luta do século: Guedes versus Bolsonaro. O Ministro assistiu sem ser avisado a bronca que o Presidente da República deu no Presidente do Banco do Brasil, porque o cara quis substituir funcionários do banco por tecnologia. Algo depois, o Presidente do Banco do Brasil também pediu o boné. Resultado: Lula e os aliados agora estão prontinhos para preencher os cargos que Bolsonaro deixou lá. E assim caminho o governo durante todo o tempo em que Jair Bolsonaro participou de “motociatas”, de papos-furados no cercadinho colocado à entrada da residência oficial, uma porcaria cara, que nossa índole monarquista chama de palácio. Como se faz para o povo entender que o Estado Brasileiro sendo como é só dá vantagens aos agentes públicos? Como será possível a população compreender que Bolsa Família, bolsa isso ou aquilo é a propina que os agentes pagam ao povo para continuarem no poder? Que caminhos ou argumentos temos para fazer o povo compreender que os filhos quando chegam ao mundo são responsabilidade de seus pais e não dos contribuintes? Enquanto não houver essa compreensão, não existirá escola suficiente, nem creches o bastante. O povo só acredita nas coisas da política vendo. São Tomé fez escola e no Brasil ele tem bons alunos. Se o povo não conhecer um governo liberal jamais acreditará que é possível ser feliz sem as migalhas que o Estado joga da mesa principal.
Perdemos o jogo em 2022, porque jogamos com um time alternativo. Jair Bolsonaro fez-se de liberal para jogar no time principal, jogou e perdeu gols até de pênalti. A seleção brasileira perdeu para a seleção de Camarões. Ao fim do jogo, o comentarista Galvão Bueno confessou: “Eu não gosto desse negócio de time alternativo na Copa do Mundo. Perder um jogo na Copa é ruim demais”. Imagine, meu caro Galvão Bueno, o que é perder uma eleição, se a próxima será só daqui a quatros anos! Mas, ela virá com certeza e esperar por ela, só esperar não nos dará a vitória. Para vencê-la é preciso voltar aos treinos e aos jogos de classificação e parar com essa lenga-lenga de reclamações e choros em frente aos quartéis. Chega disso! De lá não virá o governo que o Brasil precisa. A gente sabe disso.
O governo do Lula, eleito com a ajuda dos liberais de araque que arrumaram todo tipo de desculpas para justificar o voto nele, será ruim o suficiente para que, do lado de cá, se possa fazer oposição com a estratégia correta, com as pessoas certas e clareza suficiente para que o povo, daqui a quatro anos, faça como fez em 2018. E, com liberais de verdade, na linha de frente.